Os imobilizadores eletrônicos são tidos como um dos sistemas antifurto mais eficientes. Algumas montadoras chegam, inclusive, a afirmar a confiabilidade total. Porém, não contavam com a astúcia dos ladrões, que dominaram a tecnologia e aprenderam a burlar o sistema. ?Não existe um sistema de segurança 100% confiável. Os ladrões trocam a central eletrônica, plugam uma outra e vão embora?, explica o delegado Ramon Sandoli, da Delegacia Especializada de Investigação de Furtos e Roubos de Veículos Automotores (Deifvra).
Policiais da Deifvra investigam a atuação do que parece ser uma quadrilha que atua em Belo Horizonte de maneira semelhante ao que já ocorre no estado de São Paulo. Antes, os carros que tinham os imobilizadores eletrônicos só eram levados em assaltos, geralmente com uso de força ou de uma arma, para assim pegarem a chave ou com o prosaico uso de um reboque.
Em março, Cláudia Fernanda Gomes de Carvalho teve o Fiat Palio Celebration furtado na Praça Milton Campos, no Bairro Cruzeiro, na região Sul de Belo Horizonte. O carro tinha três mil quilômetros rodados. ?O assaltante abriu o carro, entrou e saiu dirigindo?, detalha Cláudia, que registrou ocorrência policial, com testemunha de um funcionário de uma ótica, que viu outra pessoa sair com o carro dela. O que indigna Cláudia é que quando comprou o veículo o Fiat Code, como é chamado o imobilizador eletrônico da Fiat, foi afirmado ser dispositivo antifurto totalmente eficaz, o que não se mostrou verdadeiro. Cláudia diz que solicitou à Fiat um relatório técnico com a perícia das duas chaves, a de uso e a reserva, mas a fábrica se negou.
A Fiat informou que o fato de não ter acesso ao carro para uma análise impossibilita de emitir um parecer técnico. O sistema da Fiat funciona com o reconhecimento de um código eletrônico contido na chave do veiculo, que muda a cada operação. Havendo o reconhecimento do código, a central eletrônica do motor, que controla os sistemas de injeção de combustível e ignição, é liberada para funcionar. A Fiat afirmou não ter nenhum indício de falha do sistema.
O proprietário do Centro Automotivo Turbo, Walber Maia, explica que o funcionamento padrão dos sistemas de imobilizadores tem agregado à chave uma bobina que executa um sinal e emite-o por uma antena. O sinal é mudado sempre, por meio de códigos. Esse código pode ser encontrado por uma espécie de ?chave mestra?, que é o segredo que dificulta o furto, mas também é comprado no mercado paralelo, em oficinas e chaveiros. Para que o ladrão atue, Walber explica que é preciso apenas desligar o emissor dos sinais, localizado, geralmente, no compartimento do motor, e instalar uma central virgem, isto é, sem sinal pré-codificado.
Walber raciocina que a operação de substituição do sistema pode ser feita em poucos minutos por uma pessoa habilidosa e bem treinada. Elisson Matos Marins, da MG Centrais, conta que os aparelhos capazes de fazer a leitura dos códigos e gerar novas chaves são diferentes e dependem do sistema usado por cada fábrica. São vendidos para oficinas e chaveiros e custam a partir de R$ 7 mil, mas os mais sofisticados chegam até R$ 50 mil. A oferta pode ser boa, pois fazer uma chave nova que custaria R$ 800 pode ser codificada no mercado paralelo pela metade do preço. Tanto Walber quanto Elisson sugerem a instalação de outros alarmes, de preferência bem barulhentos, para inibir a atuação dos bandidos.