Como diria a música de 1986 do conjunto norte-americano Huey Lewis and the News, ainda que com outro significado, "ser quadrado é legal". Tomando com base preceitos de desenho industrial, a Fiat criou um compacto de imagem moderna, nos moldes de modelos como o Citroën C3 Picasso, o Kia Soul, o Nissan Cube e o Scion XB da Toyota. E, como a própria marca diz, a inspiração também veio de outros aparelhos, em especial os gadgets da Apple, como o iPhone, todos com linhas retilíneas suavizadas nas bordas, em uma tendência batizada como "round square".
A grande diferença é que todos estes produtos têm uma proposta mais "elitizada" em seus respectivos mercados. "Por que tudo o que é bonito é caro?", indagou Cledorvino Belini, presidente da Fiat na apresentação do carro. Uma pergunta que guiou os designers do carro. O resultado final foi um simpático compacto altinho, no estilo dos carros urbanos europeus que oferecem estilo sem cobrar exatamente caro por isso, tudo dentro do conceito "fun drive": um carro divertido de se andar e de se ter.
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A Fiat espera vender entre 10 a 12 mil unidades do novo Uno por mês. No total, a marca planeja vender 28 mil carros entre o modelo e os veteranos Palio e Mille, que devem perder uma fatia deste bolo. A canibalização é inevitável, mas para separar melhor os modelos, os mais baratos Mille Economy e Palio Fire Economy se tornaram mais baratos, respectivamente R$ 23.570 e R$ 26.300, um desconto de R$ 600.
Inicialmente, o novo Fiat Uno oferece uma gama completa de três versões e duas motorizações: o 1.0 Evo de 73/75 cv e 9,5/9,7 kgfm de torque e o 1.4 de 85/88 cv e 12,4/12,5 kgfm de torque, respectivamente com gasolina e com álcool. Confira as primeiras impressões de dirigir com o novo modelo.
Impressões ao dirigir
Não apenas um rostinho bonito
Praia do Forte, Bahia - Como todo novo carro, o primeiro contato envolve uma boa olhada no desenho externo. A julgar pelo tempo levado apenas neste contato inicial, o novo Uno faz justiça ao slogan: Novo Uno. Novo Tudo. A sombra do modelo original ficou apenas em relação à proposta acessível e espaçosa. Tudo embalado em um desenho contemporâneo com toques de modernidade e bom gosto comuns em modelos europeus, mas raros em carros compactos produzidos no Brasil.
A primeira versão escolhida foi a aventureira Way com motor 1.0. Por dentro, a sensação de modernidade permanece, mas sem perder de vista que o Uno se enquadra em um segmento de acesso e, por isso, tem um acabamento que pode ser classificado como correto. O visual dominado por plástico é enriquecido pela texturização de todos os painéis de porta e painel, com um belo efeito. Alguns encaixes, como o fechamento da tampa do porta-luvas e o porta óculos no lugar da alça de segurança do motorista, não convencem, mas isso pode ser uma característica de um exemplar pré-série.
Não é difícil encontrar a melhor posição ao dirigir, tarefa facilitada pelo ajuste de altura do banco (com um mecanismo de alavanca à esquerda do banco, mais prático que no Palio) e do volante. Os bancos de espaldar reto acomodam bem o corpo, mas a densidade e formato remetem aos modelos de origem germânica. O volante de três raios tem o diâmetro a espessura certas e permite uma pegada precisa. Com conta-giros em meia lua à esquerda e velocímetro de grandes dimensões, o painel tem fácil visualização.
Em matéria de ergonomia, o console central agrupa as teclas dos vidros dianteiros (os traseiros são manuais). Uma localização que não se mostra ruim, com botões de bom tamanho posicionados na altura da mão do motorista. Já os pedais parecem próximos demais. Assim, pessoas com pés maiores podem resvalar em outro pedal que não o desejado.
Chave virada no contato - a mesma do Palio - e o motor acorda silencioso. Administrado por uma alavanca com pomo avantajado, o câmbio tem acionamento leve e macio, bem nos moldes da família Palio. Com dois ocupantes, o Uno vai bem com os seus 75 cv de potência e 9,9 kgfm de torque, que dão conta do recado e permitem uma aceleração de zero a 100 km/h em 15,8 segundos, de acordo com a marca.
Em estrada, o motor proporciona um desempenho adequado. As acelerações são progressivas. Estabilizado a 80 km/h, o propulsor gira em torno de 3 mil rpm, regime que oferece um bom conforto acústico. Mas, acima dos 4 mil giros, por volta dos 100/120 km/h, o silêncio de cruzeiro é interrompido pela presença ruidosa do motor, que se esforça um pouco mais. O consumo declarado é contido: 10,1 km/l de álcool e 14,3 km/l de gasolina na cidade, números que sobem para 12,4 e 18,2 km/l na estrada, respectivamente.
Dinamicamente, o novo Uno Way é penalizado pela altura elevada (19 cm do solo, 1,5 cm a mais Attractive e 2,5 cm a mais que o Vivace) e ajuste da suspensão, somados aos altos pneus 175/70 em rodas aro 14. Para os que apreciam a absorção mais suave de impactos, o hatch oferece um conforto de rodagem de primeira. Mas os que buscam uma afinação mais esportiva podem passar para as versões convencionais, como o próximo carro testado.
The Italian job
Na fila, um Uno Attractive 1.4 aguardava pela sua vez. De visual inspirado, com rodas de liga leve que remetem aos antigos modelos da Fiat, e decoração mais esportiva, o carrinho encanta. Graças ao motor 1.4 Evo de 88 cv e 12,5 kgfm de torque, a boa tocada prometida pelo visual lúdico e esportivo se confirma na prática, o que não nega as raízes italianas.
O Uno 1.4 arranca decididamente. E, além da disposição mais entusiasmada, o carro se afasta do Way 1.0 também na suspensão. O Attractive 1.4 agarra mais em inserções de curva e fica "na mão" o tempo inteiro. No momento de se fazer uma transferência de pista, o carro rola pouco e mantêm a trajetória sempre de maneira obediente, no que ajuda a direção responsiva e os pneus 175/65 R14.
Em frenagens, o carro não embica em excesso e mantém a trajetória graças à assistência dos freios com ABS opcional. O conforto de rodagem não é penalizado pelo ajuste mais rígido, sem batidas secas ou oscilações.
O propulsor 1.4 está bem casado com o câmbio, com relações bem acertadas e quinta marcha alongada. A Fiat divulga um tempo de zero a 100 km/h em 10,8 segundos, número que parece crível diante do desempenho apresentado no test drive. O consumo oficial deixa o 1.4 ligeiramente à frente do 1.0. Na cidade, o compacto perfaz 10,3/14,7 km/l (álcool e gasolina). Na estrada são 12,8/19,4 km/l, respectivamente.
Em se tratando de uma versão completa, o conforto é garantido pelo ar-condicionado, direção elétrica, vidros elétricos e sistema de som CD Player com entradas auxiliares, itens opcionais. O espaço interno é elogiável, com espaço correto para cabeças, ombros e pernas. No banco traseiro, três pessoas se acomodam sem forçar uma intimidade incômoda, ainda que o passageiros central não consiga esquecer que está dentro de um compacto. Dentro deste espírito familiar, o Uno pode contar com um console de teto com espelhinho embutido, para vigiar a cria no banco traseiro. Ou seja, todas as tribos estão na mira da Fiat, que vai se valer do novo Uno para tentar se isolar na liderança do mercado, até os futuros consumidores.
* o jornalista viajou a convite da Fiat