De Monte Carlo, Mônaco - O cenário escolhido pela Audi para apresentar o modelo de quatro portas do A3 foi perfeito: a charmosa Monte Carlo, com suas ruas e estradas sinuosas, morro acima e abaixo, mas sempre à beira-mar.
No início do ano foi apresentado o A3 duas portas. Muito mais do que um novo carro, esse hatch compacto representa um marco para o Grupo VW, pois é o primeiro modelo a usar um novo conceito de plataforma (chamada internamente de MQB) que será utilizada em todos os carros compactos e médios. O segundo foi a sétima geração do Golf (em outubro) e o A3 Sportback, apresentado à imprensa mundial no mês passado.
Assim como o novo Golf, o A3 evoluiu muito discretamente em estilo e nem se imagina que a estrutura mecânica foi completamente reformulada. Novos componentes de aço da carroceria, muito mais leves, e vários elementos mecânicos em alumínio reduziram o peso do Sportback em 90kg, além de diminuir o coeficiente de torção do automóvel.
Em termos dinâmicos, o novo Audi se parece muito com o Golf VII, pois ambos usam a plataforma MQB e tiveram peso igualmente reduzido. O carro ficou ainda mais “na mão”, algo fácil de perceber nas estradinhas sinuosas de Mônaco. Notável a ergonomia, que com tudo à mão e de fácil visibilidade para o motorista. A redução de peso (é como se tivesse tirado do carro um pesado passageiro...) se reflete nas arrancadas e retomadas, ao frear e nas curvas, onde ele é firme, sem prejudicar o conforto. Obedece direitinho aos comandos do volante e dos pedais e é puro prazer de dirigir. (A BMW me desculpe usar seu slogan...) Não deu para medir, mas obviamente que consumo e emissões também se reduziram.
Os motores a gasolina são 1.2, 1.4 e 1.8. Para o Brasil (o carro chega entre maio e junho, importado da Alemanha) virão os motores 1.4 (idêntico ao do A1, com 122cv) e 1.8 com 180cv, ambos turbinados. O motor 1.4 disponível para a apresentação era mais moderno, tinha 140cv e o sistema “cylinders on demand”, que desliga dois dos quatro cilindros quando o motorista pisa de leve no acelerador ou nas descidas. A caixa de dupla embreagem tem sete marchas e o sistema pode ser considerado o mais moderno do mundo, pois se comporta como um câmbio automático, mas sem o conversor de torque, que aumenta o consumo. Falta a engenharia do grupo VW eliminar o barulhinho quando o carro está devagar, no calçamento. O mesmo problema no Golf VII, no A1 e no A3.
Claro que o A3 Sportback diz a que veio quando equipado com o 1.8: arisco, chega aos 100km/h em apenas 7,3 segundos e revela o acerto do conjunto mecânico. Sem falar da tranquilidade de estar a bordo de um “tração integral”, principalmente porque, no dia da apresentação, garoava em Monte Carlo. Mas, para o Brasil, apenas com tração dianteira. Assim como o Golf, é carro para quatro pessoas e a quinta sofre com o elevado túnel no assoalho. O porta-malas, para um carro com 4,31m de comprimento, não é mais do que correto, com seus 380 litros.
Golf x A3 Em relação ao atual A3, percebe-se imediatamente nova grade, faróis irregulares e vincos mais agressivos nas laterais da carroceria. Na traseira, as lanternas do Sportback dão o toque de modernidade.
A principal diferença entre o Golf VII e o A3 Sportback, seu primo rico, está no refinamento do interior e dispositivos eletrônicos de conforto e segurança. O revestimento é de primeira classe, o volante é achatado na base, como convém a um esportivo moderninho. E de ótima pega.
O sistema de multimídia, por exemplo, além do comando de voz e da tela sensível ao toque, aceita instruções desenhadas pelo dedo na parte superior do botão de comando redondo no console. É isso mesmo: quer introduzir um endereço no GPS? Escreva as indicações, letra por letra, na face superior do botão! O sistema MMI permite integrar vários dispositivos de informação, até confirmação de horários de voos e trens.
O sistema de som pode ser – opcionalmente – Bang&Olufsen com 15 alto-falantes de 700W de potência.
Produção no Paraná?
O grupo VW já está no ponto de bater o martelo para voltar a fabricar o A3 no Brasil. Pela segunda vez, pois a fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, inaugurada em 1999, produziu o Golf IV (até hoje) e o A3 até 2006. Com as novas exigências de nacionalização do governo federal e “estimulada” pela BMW, que já anunciou fábrica em Santa Catarina, os novos Golf VII e A3 deverão ser montados novamente no Brasil. Entre os vários motivos, ambos utilizam a mesma plataforma MQB (chassis, motor, câmbio e suspensão) e porque a fábrica do Paraná foi projetada em “Y”: no início da montagem, os dois modelos dividem a linha, que depois se bifurca para finalizar Golf de um lado, A3 do outro.
Se VW e Audi apresentarem um plano de investimentos para os dois modelos ao governo, eles já poderiam ser importados a partir do início de 2013 sem pagar os 30 pontos adicionais de IPI. Um dos problemas a serem resolvidos pelo grupo VW é que a Audi, quando encerrou a produção do A3 em 2006, vendeu para a VW sua participação de 21% na fábrica de São José dos Pinhais. Nada que não se resolva com trâmites burocráticos contábeis entre as empresas no Brasil e na Alemanha...