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Nossa indústria dificilmente atingirá a eficiência dos modelos europeus e asiáticos dentro de cinco anos

As fábricas terão de fazer das tripas coração para atingir as metas e fazer jus à redução dos impostos. Mas são vários os obstáculos.

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A iniciativa do governo em estabelecer um regime automotivo exigindo que as fábricas cumpram metas para terem direito a redução de impostos merece aplausos. Melhor ter uma política, ainda que sujeita a chuvas e trovoadas, que não ter nenhuma.

As normas objetivam melhorar desempenho e segurança, reduzir consumo e emissão de gases poluentes. Vigoram de 2013 a 2017. O consumo, por exemplo, deverá ter valores médios (cidade/estrada) por montadora de 17,26km/l de gasolina e 11,96 km/l de etanol. Nossos automóveis estão longe, muito longe, dessas metas e seria necessária uma redução de cerca de 12% nos valores atuais. Os brasileiros mais econômicos (Fiat Mille/VW Gol) não rodam – na cidade – 9km/l de etanol e não chegam a 13km/l com gasolina. Na estrada, cerca de 15km/l com gasolina, perto de 11km/l com etanol.

As fábricas terão de fazer das tripas coração para atingir as metas e fazer jus à redução dos impostos. Mas são vários os obstáculos. Em primeiro lugar, motores flex devem digerir dois combustíveis, o que complica seu desenvolvimento tecnológico e impede importar soluções alcançadas pelas matrizes. Além disso, não existe almoço de graça: aumentar a eficiência encarece o preço do automóvel, pois exige a adoção de equipamentos sofisticados como turbo, injeção direta, comando variável de válvulas, pneu “verde”, sistema start-stop etc. E mais: reduzir consumo não depende só do motor, mas também no alívio de peso e redução do coeficiente aerodinâmico, o que exige novos projetos de chassis e carroceria. E implica um almoço mais caro e requintado.

Pelo novo regime automotivo – chamado de Inovar Auto – nossos automóveis deveriam ter eficiência energética próxima à dos europeus e asiáticos dentro de cinco anos. Mas nossa indústria está tão atrasada que dificilmente atingirá essa meta. E o pior: é complicado comparar nosso consumo de gasolina com o de modelos do Primeiro Mundo, pois a deles é pura enquanto a nossa tem de 20% a 25% de etanol, nítida desvantagem para os nossos automóveis. Ou seja, tudo é possível, mas tudo tem seu preço. Analistas do setor observam que o custo de se adequar aos novos padrões de eficiência não será absorvido pela redução de impostos. Acertou quem concluiu que será repassado, como sempre, ao consumidor.

Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford e diretor do Centro de Estudos Automotivos, observa que outro complicador é a exigência de aumento do conteúdo regional nas linhas de montagem. Ele diz que não há relação entre essa meta e a modernização dos nossos modelos, “já que os carros com conteúdo nacional são atrasados na comparação com os estrangeiros semelhantes” e a medida é um retrocesso no mundo globalizado. “Estamos fechando o mercado nacional, quando deveria ser o contrário: abri-lo ainda mais para torná-lo competitivo.”