De San Diego, EUA - Ao se desenhar um carro para certo público, nada melhor do que estudar o alvo. Mas quando o mercado está a mais de 10 mil quilômetros de distância, talvez seja melhor se mudar para lá, como fez a Nissan, que instalou o seu estúdio em San Diego, em 1979. A marca japonesa é uma das muitas estrangeiras que abriram seus estúdios de design na Califórnia, como BMW, Mercedes-Benz, VW e Volvo, entre outras. A localização diz mais respeito aos aspectos práticos: o estado, além de concentrar boa parte do mercado americano de automóveis, também é rico em cursos de design. “Aqui nós conseguimos dar aquela ideia que o pessoal no Japão não conseguiria ter por lá”, diz Richard Plavetich, gerente do centro. A imersão de fato ajuda, como bem demonstra a atual linha da montadora, em especial os Infiniti, marca de luxo criada em 1989 para enfrentar a Lexus.
A visita não mostrou muitos projetos criados para o Brasil, sendo um dos raros a série Frontier Attack, lembrando que o March surgiu por outras bandas – no Japão. Afinal, os americanos gostam mesmo das picapes como a Frontier, sedãs médios-grandes no estilo do Altima e cupês esportivos, lembrando do 350Z, todas criações locais. Porém, tem coisa em gestação por ali que virá para cá, como bem demonstra o sedã conceito Ellure, apresentado no Salão de Los Angeles no ano passado. Segundo Hiren Pattel, designer do centro, o carro servirá de inspiração para as próximas gerações do Altima e do Sentra. Se o que ele diz se confirmar, o Sentra pode abandonar o estigma de “tiozão” e fazer uma dobradinha mais afiada com o primo médio-grande, segundo automóvel mais vendido em agosto por lá.
BALADA Mas toda a criatividade emana apenas da observação local? Claro que não. Envolve tendências, como a moda, mobiliário e clássicos. Em volta dos conceitos, papéis espalhados mostram cenas de desfiles. Uma bota da Nike dá a pista para as soluções em tecidos. Só que não é simples cópia não. “Dificilmente nos inspiramos no trabalho dos outros desenhistas”, afasta Pattel. O designer afirma que para criar as linhas internas do conceito Ellure se inspirou nos lounges dos clubes noturnos, já que o sedã foi criado de olho em mulheres que têm vida movimentada, mas botam para quebrar à noite.
E quanto a outros carros como musas? Olhando para a mesa do designer Giovanny Arroba a inspiração se entrega: sobre o tampo, miniaturas de Alfa Romeo antigos, que fazem dupla com outros Alfa em fotos na parede. “Eu tenho um Sprint Speciale 1960. Mas também sou fã de design aéreo, como o Lockheed SR-71 Blackbird, inspiração para os Infiniti”, confessa Arroba, remetendo ao antigo avião espião, figura fácil de adoração entre designers do meio. Os clássicos também são revisitados por outros na equipe, formada por 300 pessoas. Perguntado sobre quem era o dono de um BMW 2002 ti no estacionamento, Hiren Pattel negou. “O meu é um BMW 3.0 CS 1971. O que eu mais gosto nele são as proporções perfeitas e o desenho limpo”, elogia Pattel, fã do Wilhelm Hofmeister, o cara que criou aquela coluna traseira que forma um ângulo na base, que é típica dos BMW. Não é à toa que os Infiniti são tidos como os BMW japoneses, até no uso de tração traseira.
O próprio edifício, com fontes, seixos e jardim japonês, é dedicado a estimular a criatividade, que ainda pode ser nutrida com exercícios físicos, como entregam as quadras de tênis no terraço. É claro que em meio à beleza criada há espaço para os patinhos feios, como o Nissan Tiida sedã de geração anterior. Além do polêmico Murano CrossCabriolet, criado para o mercado ianque. Se bem que a Land Rover está preparando o Range Rover Evoque conversível, segundo a imprensa europeia. Vai entender a moda.
