A Mitsubishi admitiu que, no fim de 2008, orientou a sua rede de concessionárias a substituir o tanque de combustível das unidades da L200 Triton que estejam soltando a película anticorrosiva, que ocasiona o entupimento do filtro. Esse é um caso típico de recall branco, quando uma empresa efetua a troca de um componente defeituoso de algum produto desde que o cliente a procure relatando determinada falha, em vez de convocar todos. Essa falta de transparência deixa os clientes confusos e permite que algumas concessionárias se aproveitem da situação para tentar faturar.
De acordo com Reinaldo Muratori, diretor de engenharia da Mitsubishi, se ficar constatado que o tanque está apresentando problemas, a troca deve ser realizada gratuitamente. Mas não é o que está ocorrendo. Como a Triton do gestor de custos Leonardo Silva Prado já não estava em garantia, inicialmente a concessionária Via Jap queria cobrar pela troca do tanque. Já para Rafael Monteiro, cuja picape vinha apresentando o sintoma clássico de perda de potência, a solução oferecida pela Mit Car foi a limpeza do coletor de admissão. Ambos só conseguiram a troca gratuita do tanque depois de enviar cartas ao Estado de Minas.
Outra forma de as concessionárias aproveitarem dessa situação é o sem-número de filtros de combustível que vêm sendo substituídos. Ora, se a orientação é substituir o tanque de combustível das unidades que apresentarem entupimento crônico do filtro, por que alguns proprietários do modelo chegaram a trocar o componente por até sete vezes? "Temos 140 concessionárias em todo o país. Por mais que a gente se esforce em aperfeiçoar, a qualidade do atendimento depende muito da administração de cada uma delas", tenta justificar Muratori.
COMBUSTÍVEL
Mas, diferente do que afirmou o funcionário da Oficina da Via Jap, de que existe um tipo de tanque que apresenta o problema e outro que é de boa qualidade, a explicação dada pela Mitsubishi foi outra. "Não existem tanques diferentes e sim combustíveis de boa e má qualidade", explica o diretor de engenharia da Mitsubishi, atribuindo a culpa ao combustível usado em determinadas regiões do país. "Conheço pessoas que usam outros modelos, também a diesel, e não passam por esse problema. Eles deviam usar um filtro e um tanque compatíveis com a qualidade do nosso combustível", argumenta o dentista Paulo Cardoso, que já precisou recorrer à concessionária sete vezes devido à obstrução do filtro.
O advogado Edilson Francisco da Silva também se cansou de ouvir que o combustível que usava era o responsável pelos problemas que ocorreram logo aos mil quilômetros rodados. Na terceira vez que o veículo começou a falhar, Edilson solicitou à concessionária uma declaração, por escrito, dizendo que o problema estava relacionado à qualidade do diesel, pois ele iria acionar o posto em que abastecia. "Cientes das implicações judiciais que isso ia causar, lógico que não emitiram nenhum documento", conta. Apesar disso, o advogado tem em mãos um documento em que a Tokyo (concessionária de Brasília) relata: "Desplacamento do revestimento interno do tanque de combustível causando entupimento do tanque de combustível", que seria a causa da perda de potência da picape.
Segundo o fabricante japonês, frente às mais de 25 mil L200 Triton produzidas, são poucas as unidades que apresentam o problema. Apesar de afirmar isso, a Mitsubishi não sabe informar quantos tanques foram substituídos até agora. Isso sem contar os vários casos em que as concessionárias se negam a trocar o tanque. Difícil também é convencer Edilson Francisco da Silva disso. Ele organizou um grupo com 22 proprietários do modelo que sofrem com o mesmo problema. "Trocamos narrações, documentos e discutimos as melhores medidas a serem tomadas. No momento, estamos preparando uma peça judicial para cobrar nossos direitos"", conta o advogado.
MAIS CASOS
Novos casos de proprietários do modelo que apresentam esse problema crônico brotam a cada dia. O farmacêutico Djalma Godinho, de Mutum, região do Rio Doce, conta que a cada 2 mil quilômetros rodados precisa visitar uma concessionária para trocar o filtro. Luiz Osvaldo Cifuentes Gonçalves, de Campos dos Goitacazes (RJ), também precisou trocar o filtro aos 7 mil quilômetros. "Ouvi falar na concessionária Sendai, em Vitória (ES), disse, que em alguns casos estão reduzindo em 2cm o pescador do tanque de combustível", conta o engenheiro.
Na terceira vez que a picape do auditor Dalton Palhares chegou à Via Jap com os sintomas clássicos de obstrução, o filtro foi substituído por um da L200 Outdoor. Ao contatar a Mitsubishi para saber se isso traria alguma implicação, foi chamado para trocar o tanque. Paulo Cardoso conta que sua Triton também usou o filtro da Outdoor, instalado na concessionária Tokyo. Mas, de acordo com Reinaldo Muratori, as duas picapes têm tecnologias diferentes e a Triton exige uma qualidade de filtragem melhor. O uso do filtro da Outdoor na Triton pode ocasionar algum problema.
E AGORA?
Apesar de a Mitsubishi admitir o problema, seus clientes estão absolutamente desamparados. Além do risco de rodar num veículo que pode perder potência justamente na hora que o motorista precisa, como numa ultrapassagem, e tirando também o aborrecimento de ficar a pé enquanto o veículo adquiriu cadeira cativa na concessionária, ficam muitas dúvidas: mesmo com a troca do tanque, se o motorista continuar usando o suposto combustível ruim o problema vai persistir? Não existe uma padronização nos procedimentos adotados nesse caso, que vão desde a simples troca do filtro, passam pela troca do tanque e podem ir até a troca de todo o sistema de injeção? E como ficam os veículos que já não estão em garantia?