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Mitsubishi L200 - Impotente nas alturas

Picape apresenta problemas de perda excessiva de potência e sinais de superaquecimento, em grandes altitudes. Montadora afirma desconhecer possíveis defeitos, mas vai investigar

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Darlington e Sérgio tiveram o passeio ao Atacama comprometido, devido às variações apresentadas por suas picapes, que não conseguiram acompanhar os outros veículos

Quem foi que disse que só os atletas sofrem com a falta de oxigenação na altitude? Os veículos motorizados em geral também perdem potência em lugares mais altos, mas parece que alguns de forma exagerada. A picape Mitsubishi L200 HPE, equipada com motor 2.5 turbodiesel e câmbio automático é um desses modelos. É o que afirmam o engenheiro civil Sérgio Amorim Andrade e o empresário Darlington Davidson de Castro, que enfrentaram problemas com suas picapes L 200, durante viagem ao Deserto do Atacama, no Norte do Chile.

Em 26 de dezembro do ano passado, um grupo de aventureiros saiu de Belo Horizonte para um passeio, de cerca de 20 dias, com destino ao Atacama. Eram vários veículos, entre eles Ford Ranger, Land Rover, jipe Troller, Mitsubishi Pajero e a Mitsubishi L200 HPE 2.5 automática cabine dupla. A viagem prosseguiu bem até a chegada à região mais elevada, a cerca de 3.500 metros. Sérgio Amorim, proprietário de uma L200 HPE 2006/2006, conta que, ao passar por um trecho de estrada sinuosa e íngreme, o ponteiro de temperatura da água do motor chegou no vermelho e a picape começou a perder potência.

O mais curioso é que a outra L200 HPE, 2005/2005, de Darlington, começou a apresentar os mesmos problemas em lugares altos, perdendo potência exageradamente e com o ponteiro da temperatura da água no vermelho.

Revoltado com o episódio, Sérgio conta que sua viagem ficou limitada, devido ao problema com a picape. "Deixei de fazer um passeio", reclama o engenheiro. Do Chile, ele enviou um e-mail à central de atendimento da Mitsubishi, relatando as falhas da picape e recebeu como resposta uma orientação: pôr o câmbio automático na posição 2 e, se o problema persistisse, procurar uma concessionária da marca para trocar a pá do ventilador do radiador e o líquido de arrefecimento.

Freio

Darlington relembra que também teve que dirigir sua picape por longos trechos com o câmbio automático na posição 2, sem deixar o motor passar das 3.000 rpm. "Pelo que percebi, em altitudes elevadas, o motor da picape parecia ter perdido 70% da potência. E o mais curioso é que isso não ocorreu com veículos de outras marcas que estavam no grupo", afirma o empresário. Também enfrentou outro problema com a picape: o sistema de freio perdeu eficiência, quando a temperatura externa chegou a 4°C negativos. "Passei sufoco com minha família, e o freio só normalizou quando voltamos para temperatura mais elevada", conta.

De volta a Belo Horizonte, o engenheiro e o empresário levaram as picapes à concessionária MitCar e lá não foi constatado nenhum tipo de problema. Eles foram orientados a trocar a ventoinha do radiador, para evitar um possível problema de superaquecimento, em uma próxima viagem em regiões altas. Darlington achou estranho o fato de o manual do proprietário não fazer nenhuma referência ao problema com a altitude. Ele ficou tão contrariado com o fato que, poucos dias depois, vendeu a picape. "Lá no Atacama encontramos um viajante de São Paulo que teve o mesmo problema com a L200 HPE, e também estava revoltado", lembra o empresário.

Nos Alpes

O diretor de Engenharia da Mitsubishi, Reinaldo Muratori, disse que, até receber as reclamações de Sérgio e Darlington, a montadora desconhecia esses problemas com a L200 HPE. "Nunca recebemos nem acusamos esse tipo de falha relatada nas mais de 15 mil unidades vendidas da L200 Sport/Outdoor HPE", afirma. Ele acrescenta que o sistema de gerenciamento eletrônico do modelo foi testado e certificado nos Alpes e também nos Andes, em altitudes superiores a 3 mil metros, e não foi registrado qualquer tipo de problema.

Apesar disso, Reinaldo afirma que a Mitsubishi pretende rever o módulo de gerenciamento eletrônico da picape, que é produzido pela empresa sueca STT. "Vamos verificar se está ocorrendo algum problema no software, mas ainda são só suposições", disse o engenheiro. Ele explica que, com o ar rarefeito nas altitudes elevadas, pode ocorrer perda de eficiência no sistema de refrigeração e, dessa forma, a central leva o motor a funcionar no modo de segurança, reduzindo a injeção de combustível e resultando em perda de potência.

Ventilador

Sobre a orientação da concessionária MitCar a respeito da possível troca do ventilador do radiador, Reinaldo explicou que, em 2006, a Mitsubishi já havia feito mudança em algumas unidades da L200 com câmbio automático, que apresentaram sinais de superaquecimento. "Trocamos o ventilador de oito pás por outro de 11. Mas acredito que, na situação relatada por Sérgio e Darlington, o ventilador não faria a menor diferença", afirma. Ele acrescenta que, em condições severas, como temperaturas elevadas e dunas, por exemplo, o superaquecimento pode ocorrer.

Quanto à perda de eficiência do freio da picape de Darlington, Reinaldo afirmou que não há explicação para o fenômeno, já que, com a temperatura baixa, o sistema funcionaria melhor. "O problema pode ter surgido depois de longo trecho de descida, quando o sistema de freio é muito exigido", alegou. Mas Darlington conta que, por sorte, a falha no freio ocorreu quando ele estava em um trecho de subida e foi possível contornar a situação. "Tive que bombear o pedal para fazer o freio funcionar", explicou.