Exigentes e com mais dinheiro no bolso, os mineiros – em especial os belohorizontinos – estão gastando mais na compra do carro zero. Nos últimos seis anos, o preço médio da frota que circula pelo estado subiu 32,2%, passando de R$ 9.661 em 2006 para os atuais R$ 12.772. Dados da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais mostram que, enquanto o número de veículos no estado aumentou 45,8% entre 2006 e 2012 (passando de 2,8 milhões para 4,09 milhões), a arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) no mesmo período deu um salto de 92,8%, crescimento duas vezes superior ao de novos carros que passaram a rodar. Em Belo Horizonte, a média de preços da frota é estimada em R$ 14.487, valor que frente a 2011, quando fechou em R$ 14.070, subiu 3%.
No mesmo período, o custo do automóvel novo medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou deflação de 7%, sendo 2,88% de queda somente no ano passado, o que mostra que o avanço do preço do carro está diretamente relacionado à aquisição de versões mais caras e completas e não à escalada do índice inflacionário. Nas concessionárias, esta realidade já é sentida na prática e tem impulsionado inclusive a mudança dos pedidos realizados junto aos fabricantes.
“Começamos 2011 com ticket médio de vendas entre R$ 30 mil e R$ 31 mil”, calcula o gerente de vendas da Automax Fiat Jairo Coelho Mariano. A variação chega a quase 30%, puxada principalmente pela migração do consumo para carros mais potentes e recheados com acessórios. “As vendas desses veículos (com motorização mais alta e completos) subiu em torno de 12% no ano passado. Carros médios, como Punto e o Siena ganharam espaço”, acrescenta Jairo. Na Catalão, concessionária da Volkwagen, o ticket médio dos veículos vendidos subiu 15% desde o ano passado e hoje já se aproxima da casa dos R$ 40 mil.
Na Pisa Ford, o fenômeno se repete, com elevação do ticket de vendas entre 8% e 10% na passagem de 2010 para 2011. “Há um ano, praticamente não vendíamos Ecosport com airbag duplo e freio ABS. De lá pra cá, vem aumentando muito a demanda por estes itens, que incrementam o preço do carro em cerca de R$ 2 mil”, calcula o gerente de vendas da Pisa Ford, Antonio Longuinho.
Exigências A procura por itens de série que garantam maior segurança e conforto aos veículos está entre os fatores que contribuem para a elevação dos custos. Pagando R$ 3 mil a mais, é possível levar um Volkwagen completo com ar condicionado, direção hidráulica e trio elétrico, “luxos” que já fazem parte da demanda natural dos consumidores que não querem mais sair com o carro “queixo duro”, como são chamados os básicos. “As pessoas estão com poder de compra para pagarem mais pelo carro”, garante o diretor comercial da concessionária Recreio, Eric Braz Tambasco.
Foi justamente a elevação da renda que motivou o analista de sistemas Francisco de Salles Alves a comprar um Ford Focus GLX 1.6, modelo que custaria R$ 57 mil, não fossem os opcionais adicionados. “Coloquei banco de couro, sensor de estacionamento e freio ABS, além da cor perolizada. Com isso, o preço subiu R$ 4 mil”, calcula Francisco. A alta foi de 7% e assim como o analista de sistemas, o comportamento tem sido praticamente generalizado entre as revendas das quatro maiores fabricantes.
Para se adequar ao novo perfil do mercado, as concessionárias tiveram que mudar as compras. “A coleta de pedidos muda e com isso, estamos comprando mais carros equipados”, afirma Longuinho. E a própria indústria tem se adaptado. “A grande maioria já tem oferecido um volume de itens de série maior como direção hidráulica e vidro elétrico, que são mais comuns na linha de produtos atualmente”, observa o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG) Mauro Pinto de Morais Filho.
Motor da mudança
Boa parte do movimento de adaptação das fabricantes nacionais com a oferta de mais produtos de série é motivado pela entrada dos chineses no mercado brasileiro. Com versões populares extremamente competitivas e praticamente todos os itens incluídos no preço final dos carros, esaes veículos (como o Jac 3) elevaram o nível de exigência dos consumidores que não querem sair da concessionária sem boa parte destes mimos.
Com potência e esportividade
Não são apenas os adicionais que justificam a valorização dos veículos que circulam em Minas. A busca por carros mais potentes e o lançamento da categoria de utilitários esportivos, os chamados SUV’s, também contribuem para elevar a média de preço dos automóveis vendidos. Apesar de ainda representarem mais de 50% das vendas do mercado, as versões 1.0 estão perdendo espaço. “A participação nas vendas, especialmente nas capitais, vem caindo. Se antes era 70% para carros 1.0 e o restante para as demais motorizações, agora o 1.0 deve responder por cerca de 45% nas regiões metropolitanas”, calcula Mauro Pinto de Morais Filho, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG).
Na Recreio, o percentual é ainda menor. “Hoje representa basicamente entre 35% e 40% das vendas, participação que já foi superior à metade”, garante o diretor comercial da concessionária Volkwagen, Eric Braz Tambasco. Mesmo aqueles que ainda insistem em ficar com a versão menos potente, não abrem mão dos acessórios, ainda que sejam apenas o trio elétrico e ar condicionado. “Ou a pessoa compra o mais completo ou busca aumentar a potência do motor”, pondera Eric.
A diferença de preço entre a versão 1.0 e 1.4 ou 1.6, que fica em torno de R$ 3 mil em média de acordo com a fabricante, motiva a perda de preferência do mais básico. “Um Voyage 1.6 completo tem preço próximo a R$ 40 mil, enquanto o 1.0 completo custa entre R$ 35 e R$ 36 mil, uma diferença de 10%”, calcula o diretor comercial da Catalão, Alexandre Peixoto, que ainda é enfático: “Dos três modelos 1.0 que tenho hoje, somente o Gol mantêm as vendas fortes. Para o Voyage e Fox, a versão 1.6 é mais desejada”, garante. Para o modelo Prime do Fox 1.6 há inclusive fila de espera. “A migração no volume de compras é sensível. Se antes era 60% para 1.0 e 40% para os demais, agora este percentual se inverteu”, afirma Alexandre.
Sem contar o avanço dos importados. Somente na concessionária Volkswagen, Garra, a venda destes modelos aumentou quase 10 vezes no mês. “Se antes eram duas a três unidades por mês, agora chega a 20 carros importados vendidos”. Soma-se a isso, a expansão de vendas dos SUV’s – como o Freemont, da Fiat e Sportage, da Kia, que somente no ano passado subiu 14%, diante da leve expansão de 2,9% nos licenciamentos de automóveis. Em geral, os valores partem de R$ 85 mil para as versões mais básicas.
A educadora Luciana Coelho reforça a tendência. Recentemente, comprou um Freemont, cujo preço inicial parte de R$ 75 mil. “Troquei um Polo pelo Freemont pela segurança, tem ABS e airbag, além do conforto que oferece”, conta.