Rio de Janeiro - Para a 10ª Edição Challenge Bibendum, a Michelin escolheu como cenário o Rio de Janeiro, a primeira cidade sul-americana a sediar o evento cuja última edição havia sido realizada em Xangai. A escolha de metrópoles em países emergentes não se dá por acaso. Com problemas de infra-estrutura, inchaço populacional e trânsito caótico, essas cidades são retratos dos desafios do atual padrão da mobilidade. Em busca de soluções para esses problemas, alguns dos principais fabricantes mundiais trouxeram as suas propostas de veículos mais racionais e menos poluentes. Entre os modelos apresentados, a propulsão elétrica se mostrou a mais comum, seguida de sistemas híbridos e também de alguns elétricos a pilha de combustível alimentada por hidrogênio.
Mas a saída do etanol foi a alternativa do presente encontrada pelos fabricantes brasileiros e por alguns estrangeiros. Como diz a Scania em slogan: "Etanol now", ou seja, etanol agora. "O Brasil se comprometeu no caminho do desenvolvimento sustentável, com uma liderança em biocombustíveis", congratulou Michel Rollier, presidente do Grupo Michelin. A cerimônia de inauguração contou com presenças de autoridades locais, como o governador do Estado Sérgio Cabral Filho e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Obviamente, o grande destaque foi o presidente Luís Inácio da Silva. "A realidade nos obriga a procurar soluções, já que somos um país em que mais de 80% da população vive em centros urbanos", explicou Lula. O presidente também investiu sobre o tema da segurança viária, uma das preocupações centrais dos debates, e desmereceu em parte a popularização dos carros elétricos, deixada em segundo plano pelo governo com o atraso na proposta de incentivo a modelos movidos a eletricidade, postergada para o final de junho.
Caminhos alternativos
Os elétricos são o grande destaque do evento, que vai do dia 31 de maio ao dia 2 de junho, quarta-feira - na quinta ainda haverá um desfile dos carros expostos pelas ruas do Rio. Em exposição e em movimento, a maioria dos modelos segue silenciosamente e encanta os curiosos. Ainda assim, não há propostas próximas de uma escala de massas e usabilidade, como é o caso do Nissan Leaf, que já está a venda nos Estados Unidos, Europa e Japão. Os micro-carros e urbanos são os mais presentes, como atestam os modelos da francesa Mega, que levou até a sua proposta de utilitário com capacidade para 500 kg de carga. As compatriotas Heuliez e Ligier também exibiram os seus urbanóides. Em geral, são modelos com velocidade máxima limitada a no máximo 115 km/h e autonomia reduzida, em torno de 100 km.
Mais atraente é o cupê esportivo Audi e-tron (foto superior), que conquista olharem com as suas linhas futuristas e o seu desempenho esportivo, mas silencioso. Sucesso da última edição do Salão de Frankfurt, em setembro do ano passado, o cupê elétrico faz parte de um projeto comercial, que será lançado em cerca de dois anos. Movido por quatro motores elétricos, o e-tron conta com 313 cv de potência e 458,8 kgfm de torque, valores que o empurram de zero a 100 km/h em 4,8 segundos e aos 248 km/h.
Outra estrela de Frankfurt que está fazendo sucesso nas terras cariocas é o micro BB1, um subcompacto conta com espaço para quatro pessoas em um arranjo intimista. Junto com o Will, conceito construído pela Heuliez e Orange sobre o Opel Agila, o BB1 traz o sistema de motores elétricos embutidos nas rodas desenvolvido pela Michelin (Active Wheel). Ainda entre os elétricos, a defesa dos nacionais fica ao encargo do conceito FCCII da Fiat, revelado em outubro de 2008 para o Salão do Automóvel, além de modelos convertidos para concessionárias de energia, exemplo da Palio Weekend elétrica.
Combinação elétrica
Afora o Citroën Hypnos, conceito arrojado revelado a dois anos atrás, a PSA também expôs outro modelo dotado do sistema híbrido de transmissão integral, o crossover 3008. Exibido com um corte transversal, o carro conta com um motor elétrico traseiro, que complementa o turbodiesel dianteiro e é capaz de mover o 3008 no trânsito urbano. No modo 4X4, o Peugeot roda com os dois motores, ficando o elétrico responsável pelo eixo traseiro. Uma solução mais econômica e leve que um sistema integral com cardã e que será lançada no mercado em 2011.
Mais próximo da realidade é o Mercedes-Benz Classe S400 Hybrid, o primeiro híbrido de produção a ser comercializado no país. O sedã de alto-luxo conjuga o propulsor V6 a outro elétrico de 20 cv que, se não impulsiona o carro sozinho, ao menos colabora para um consumo mais contido do que o das versões V8 e V12, sem grandes perdas em matéria de desempenho. A primazia tem o seu preço e como bom sedã germânico top de linha, o S400 Hybrid não é barato e parte de R$ 460 mil. Ainda assim, é o mais barato Classe S vendido por aqui e a marca aposta que venderá até o final do ano 70 a 80 unidades do carro, o que o tornaria o mais vendido do segmento (assista ao teste do modelo no vídeo abaixo).
Geléia geral
Além dos simpósios e debates, que reunem mais de 120 especialistas de todo o mundo, o Michelin Bibendum Challenge também realizou um rali de regularidade com provas de medições. Com um percurso que levou todos os modelos, até os conceitos movidos a energia solar, ao município de Areal, na região serrana do estado, o evento movimentou o domingo e colocou toda a tecnologia à prova. É claro que alguns conceitos ficaram pelo caminho, mas isso foi exceção e não a regra.
O evento reúne ainda caminhões e ônibus especiais, com projetos diversificados, como a utilização de biodiesel feito a partir da cana-de-açúcar, tecnologia apresentada pela Mercedes-Benz. A Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, expõe o Urbanus Plus Hybrid, um ônibus urbano com motores a diesel e elétrico e baterias que podem ser recarregadas com energia solar. Tão corretas quanto o princípio de transporte limpo de massas são as bicicletas elétricas. Práticas, elas podem dar uma mãozinha em subidas. E, caso acabe a carga, os pedais continuam lá para levá-las adiante e também para recarregar a bateria.