De São Bernardo do Campo, SP - A Mercedes-Benz anunciou nesta sexta-feira (10) o investimento de R$ 230 milhões na fábrica da empresa em Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, e outros R$ 500 milhões na planta de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A marca alemã confirmou o fim da produção do caminhão leve Accelo em Minas até 2016: a unidade minera será agora responsável por toda a produção de cabines de caminhão no Brasil.
A marca trata o caso como uma mudança de estratégia para aproveitar melhor as duas plantas. Com fabricação atual de 15 mil cabines, Juiz de Fora deverá fornecer até cerca de 40 mil unidades. “Decidimos transferir todo o processo de pintura e linha de montagem de cabine curta para Juiz de Fora. No futuro, todas as unidades serão feitas lá. Vamos ganhar escala e aproveitar melhor os investimentos”, explica Phillipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO na América Latina.
Segundo a Mercedes-Benz, o mercado de caminhões e ônibus amarga uma queda de 15% nas vendas em 2015 e medidas para reduzir a produção já foram tomadas, com 126 empregados mineiros e cerca de 1,2mil em São Paulo em regime de lay-off, compensação de banco de horas em novembro e férias coletivas integrais em dezembro, medida tomada apenas em 2009.
“Estamos passando por momentos turbulentos. Nossa performance é boa, mas não conseguimos compensar a perda do mercado. Além disso, nosso maior importador, a Argentina passa por problemas. As expectativas para 2015 é de um mercado difícil. O Brasil precisa de ajustes econômicos e caso seja feito, independente do próximo governo, teremos chance de voltar ao crescimento”, afirma Schiemer.
Apesar dos indicadores negativos, a marca descarta demissões em curto prazo e promete segurar os 750 empregados em Juiz de Fora e 15 mil no ABC Paulista. “Fechamos um longo acordo salarial de quatro anos com o sindicato dos trabalhadores paulistas, com reajustes pelo INPC de 2015 a 2017, Participação nos Resultado (PR) diferenciado e nova tabela salarial. Em Juiz de Fora, o acordo fechado em 2012 vale até 2016 e nada será alterado”, promete o presidente da montadora. “Vamos qualificar os empregados para as novas funções, como soldador e funileiro para montagem de cabine, por exemplo”, completa.
“A indústria de caminhões precisa de presibilidade. Precisamos de uma política econômica de longo prazo. Se o governo colocar as medidas certas, haverá crescimento, porque existe demanda”, diz Schiemer. Questionado sobre uma negativa no crescimento, o presidente não descartou reajustes: “O ideal para o empregador é o mercado positivo. Mas em caso de quedas, é melhor fazer pequenos cortes do que colocar em risco toda entidade”, declara.
Além do Accelo, que representa cerca de 30% do mix de vendas da Mercedes-Benz, a planta de Juiz de Fora produz o caminhão extrapesado Actros. Este modelo vai continuar sendo feito em Minas Gerais e não há previsão de ampliar a gama de produtos no Brasil. Os R$ 230 milhões serão aplicados em duplicar e ampliar as instalações de montagem bruta e área de pintura de cabines em Juiz de Fora. Em São Bernardo do Campo, os R$ 500 vão servir para obras de infraestrutura e novas linhas de produção de caminhões.
Juiz de Fora
A fábrica da Mercedes-Benz de Juiz de Fora começou a produzir o Classe A em 1999. O veículo não fez o sucesso esperado no país e saiu de linha em 2005. Até 2010 a planta fabricou o CLC, destinado à exportação. Em 2012, a marca resolveu utilizar a unidade para fabricar caminhões. A unidade já chegou a ter 1,5 mil empregos diretos. A marca alemã recebeu R$ 1,5 milhão em incentivos fiscais nos anos 1990 por parte do governo mineiro.
“As contrapartidas já venceram e nós fizemos vários investimentos. Nenhuma outra montadora teria mantido a fábrica e nós seguramos anos difíceis. Não existe mais incentivos estaduais e estamos mudando a estratégia para melhorar a sinergia entre nossas fábricas” diz Phillipp Schiemer.