De Laguna Beach - EUA- Tem a frente arredondada, a traseira idem, duas portas, quatro lugares, motor traseiro de quatro cilindros e foi produzido na Alemanha na década de 1930. A descrição é de um Fusca, mas é um Mercedes.
A marca da estrela de três pontas, já famosa naquela época pela produção de automóveis sofisticados e elegantes (mas muito caros), decidiu desenvolver um projeto de um modelo barato, mais acessível ao povo alemão. Era a solução para evitar a quebra da empresa, pois despencava a venda de carros caros na Alemanha.
Os responsáveis pelo projeto foram Hans Nibel (sucessor de Ferdinand Porsche como diretor de engenharia da Daimler-Benz) e Wilhelm Kissel, diretor geral da empresa.
O resultado foi o "130", lançado em 1934. A solução pioneira do motor traseiro trazia inúmeras vantagens, principalmente num modelo compacto de pequena distância entre-eixos. Entre elas, a melhor utilização do espaço interno e a ausência do eixo cardã (que liga o motor dianteiro às rodas traseiras), que reduzia custo, peso e perdas de potência.
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Ao englobar todo o conjunto propulsor (motor/transmissão) na traseira, o custo de produção foi muito reduzido e a ausência do radiador na frente permitiu o desenho de linhas mais aerodinâmicas.
As diferenças entre o Fusca da Mercedes e o da Volkswagen estavam no motor (o 130 era refrigerado com água) e na suspensão (o da Mercedes tinha molas helicoidais na traseira, o da VW barras de torção).
O sucessor do 130 apareceu em 1936: o "170 H" foi produzido até o início da guerra, em 1939, trazendo diversos aperfeiçoamentos, a começar da cilindrada, de 1.308cm³ para 1.697cm³, a potência que pulou de 26hp para 38hp e o entre-eixos ficou 10 cm mais longo.
A Mercedes levou para Irvine, na Califórnia (EUA), seus modelos com tração traseira. É lá que está seu Classic Center, uma espécie de concessionária da fábrica dedicada aos antigos. Tem compra e venda de automóveis, completa seção de peças, oficina, butique e consultoria. Uma cópia do que a empresa tem em Fellbach, na Alemanha. Foi lá o centro de operações para a "apresentação" e "test drive" dos "Heckmotoren", ou motores traseiros. Daí o "h" do 170 H.
NA ESTRADA
É muito curioso entrar num "Fusca" e sair dirigindo um automóvel com motor traseiro refrigerado ... a água. E com painel completo com vários reloginhos, inclusive dois para a temperatura da água:na entrada e na saída do motor. Claro que os engenheiros da época eram preocupados com a refrigeração de um carro com radiador lá atrás e embutido na carroceria.
No modelo 130, a potência é tão baixa que mal se percebe a tendência do carro em sair de traseira, em função do motor "dependurado" atrás do eixo. No 170 H, um pouco mais "espertinho", a coisa se complica ligeiramente. Mas o entre-eixos aumentado dá mais conforto e muda seu comportamento.
A caixa tem três marchas e uma "sobre-marcha" ("over-drive"), que se engata (ou deveria...) sem embreagem, só tirando o pé do acelerador. Eu não consegui engatá-la de jeito nenhum, mesmo respeitando a recomendação da fábrica de só tentar acima de 65km/h. Denis Simanaitis, editor da Road&Track, que foi meu parceiro no "test drive", também tentou e não conseguiu...
Apesar da idade, os "Fuscas da Mercedes" têm uma ótima dirigibilidade. A não ser a inevitável escorregada da traseira em curvas mais apertadas, a direção e freios são muito eficientes. As marchas (exceto a quarta...) são fáceis de engatar (depois que se "pega o jeito") e o desempenho bastante coerente para a época, lembrando-se de que se tratava de um "Volkswagen". Com a mesma deficiência de performance que os nossos atuais "populares". O 130 custava, mas chegava aos 90 km/h, enquanto seu sucessor atingia impressionantes 110km/h!
A Mercedes também levou para o teste o 170 V, ou seja, o compacto também lançado em 1936 mas com motor dianteiro e tração traseira, para comparações. Nem deveria, pois é claro que se trata de um automóvel muito mais equilibrado e agradável de dirigir...
A solução do motor e caixa na traseira foi abandonada durante dezenas de anos pela Mercedes. Mas acabou voltando em 1998, no pequeno Smart.
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