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Mercado - Em busca do equilíbrio

Atual conjuntura do comércio de veículos faz oferta de usados superar demanda, mas fatores como transparência, preço atrativo e a própria falta do 0km melhoram vendas

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Um Ford Fiesta hatch 1.0 de tom verde zero quilômetro era a opção escolhida pelo servidor público federal Jaci Albuquerque de Freitas, mas o prazo de espera era de, no mínimo, 20 dias. Para entrega imediata, a concessionária ofereceu um Fiesta Sedan 1.6 preto, que até seduziu o servidor, mas não agradou família. Dois dias depois da tentativa de negociação, Jaci acabou comprando um Fiat Siena usado (04/05). "A princípio, eu não tinha pressa, mas senti necessidade de comprar outro carro o mais rápido possível porque o meu estava dando problema", conta Jaci. "Confesso que não fiquei decepcionado por não comprar um carro novo, mas satisfeito em saber que nós, pobres, estamos tendo acesso ao veículo zero. Também vi que existem centenas de automóveis seminovos à venda. Ou seja, quem tem maior poder aquisitivo não está ficando com o carro por mais de três anos", acrescenta.

O raciocínio do servidor federal exprime com propriedade o momento atual por que passa o mercado de veículos, em diversos aspectos. A facilidade de crédito e outras vantagens, que vêm sendo oferecidas para o carro zero, tornaram seu acesso possível a uma maior parte da população. Por outro lado, o aquecimento sem precedentes desse mercado vem provocando uma falta de carros, que, em alguns casos, volta a estimular a compra do usado com até três anos de uso, o chamado seminovo. Veículo cuja oferta cresce no comércio, uma vez que o hábito de trocar de carro em poucos anos aumenta entre as faixas de maior renda.

Seminovo
"O mercado tem fortalecido esse nome seminovo e isso não é estratégia de marketing, é realidade?, garante o gerente de vendas de veículos novos da concessionária VW Catalão, Alexandre Peixoto. Ele reforça a teoria dos carros revendidos com pouquíssimo tempo de uso. "Outro dia entrou aqui, na troca, um Gol com apenas 4 mil quilômetros. E esse tipo de carro tem um giro muito bom", completa. Segundo Peixoto, o carro com até três anos de uso é o usado, hoje, trabalhado pelas concessionárias autorizadas, ficando os mais velhos para as revendas menores.

O problema é quando esse seminovo passa a ser valorizado demais. "Quando pego um carro desses na troca, pago o que posso pagar. Não adianta o cliente querer colocar o valor lá em cima, porque depois não haverá mercado", pondera o gerente de vendas da Ford Pisa, Antônio Longuinho, referindo-se especialmente aos seminovos do segmento médio, na faixa dos R$ 30 mil, R$ 35 mil. "Carro usado bom de vender é o que custa de R$ 25 mil para baixo. Acima disso, o cliente migra para o zero", continua.

Para o vendedor da agência multimarcas ADM Automóveis, Ricardo Machado, de fato, quem está querendo trocar de carro não pode supervalorizar seu usado. Mas, desde que o preço seja atrativo para o comprador, o mercado do seminovo existe e é atraente: "Tem muita gente que prefere o seminovo. É sempre uma boa pedida, mas desde que não se ponha o preço lá em cima".

Consciência
A recente e constante falta do carro zero é um dos fatores que contribui para melhorar a venda dos seminovos, na opinião de Machado e também de Liliana Diniz, da agência Garage Amazonas. Mas Diniz levanta outra questão: "Muitas pessoas estão caindo na real. Estão vendo que a prestação do carro zero, mesmo que pequena, compromete o orçamento por muito tempo. Então, estão voltando a optar por usado, mais em conta, pelo qual não vão ficar tanto tempo pagando".

"O consumidor do carro usado é mais consciente. Às vezes vai pagar a mesma prestação, mas sabe que será por menos tempo", concorda o gerente de vendas da Chevrolet LiderBH, Dálcio Amorim Carneiro. De acordo com Carneiro, o cliente do carro usado sempre vai existir, embora hoje as atenções estejam voltadas para o carro zero.

Assistência
Outro ponto importante ressaltado pelo supervisor de veículos novos da Fiat Strada, Felipe Pessoa Leal, é o respeito e amparo ao cliente. "Nossa revenda tem uma equipe de mecânicos que revisa os carros usados. Não volta o velocímetro e mostra isso para o cliente, por meio de termo assinado pelo antigo proprietário do carro, mencionando a quilometragem com que o carro estava quando foi repassado à concessionária. Quem reclama da venda de carro usado é porque precisa rever os conceitos", resume.