Até meados de maio, fabricantes e concessionárias sofriam com os estoques altos. Veio a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a demanda disparou e, sem tempo para inverter o quadro, que era de desaceleração da produção, as montadoras passaram a ter que administrar a rápida redução dos estoques, aliada à falta de programação dos fornecedores – o que atrasa mais a produção –, e até a escassez de transportadoras para entregar os veículos nos diversos estados dentro dos prazos prometidos aos consumidores. Não bastasse tudo isso, algumas marcas já sofrem os efeitos da medida de limitação de cotas dos modelos importados do México. Apesar de não haver confirmação oficial, diversas concessionárias do estado admitem que veículos como o Honda CR-V e os Nissans March e Versa não existem mais para pronta entrega e tampouco são aceitas encomendas. Motivo: já estaria esgotada a cota permitida para importação do México, sem que o fabricante incorra no aumento de impostos (IPI mais alto e alíquota de importação).
Nas concessionárias Honda de Belo Horizonte, a informação dada ao consumidor que deseja o novo CR-V é a mesma. Por enquanto, não há nem fila de espera, pois as unidades que chegarão estão praticamente todas vendidas e a única opção é esperar. Sem saber que medida a montadora vai tomar em relação ao modelo, que é produzido no México, os gerentes comerciais preferem pedir ao cliente para aguardar, pois não há como garantir nem mesmo um prazo de entrega. Nas revendas Nissan, cuja maioria da gama vem do México, a situação dos modelos March e Versa, responsáveis pela alavancada de vendas da marca, não é diferente. Sem ter uma posição para passar ao consumidor, as concessionárias também pedem paciência. A principal justificativa é o fato de não poder prever a chegada dos carros até 31 de agosto, quando – a não ser que haja nova medida em contrário – termina o prazo para redução do IPI, não sendo possível garantir o preço. Fontes ligadas a essas montadoras, no entanto, afirmam que já estaria esgotada (ou toda vendida) a cota de importação permitida do México.
Oficialmente as marcas não confirmam a informação. Em e-mail enviado à reportagem, a Honda apenas disse que “está administrando a cota que coube à empresa, com o objetivo de atender à demanda do mercado da melhor maneira possível, já que todas as marcas no Brasil foram afetadas pela medida”. Já a Nissan informou que o mercado está crescendo devido à redução do IPI e, por isso, há dificuldades na entrega dos carros. Dentro dos planos de continuar crescendo no Brasil, no entanto, a marca garante que vai continuar vendendo todos os modelos.
NACIONAIS Mas a explosão de demanda, em um momento em que a indústria punha o pé no freio, afetou todo o ciclo de produção e distribuição. Além da redução de estoques, as fábricas agora enfrentam dificuldades com os fornecedores, cuja programação anterior não previa o súbito aumento de vendas, e até no transporte, uma vez que havia sido reduzido o número de carretas destinadas à entrega de veículos. Toda uma cadeia que faz atrasar a chegada dos carros às concessionárias. Para não perder venda, cada montadora administra como pode.
A Volkswagen, por exemplo, transferiu toda a produção de Gol e Voyage para o varejo, o que significa que a fábrica não está aceitando pedidos pela chamada venda direta (pessoa jurídica em geral, associações conveniadas etc.) desses modelos. Medida que pode se estender para outros modelos, caso seja necessário. “Com essa medida, não vai faltar carro. É um compromisso que a VW assumiu conosco”, garante o gerente comercial da concessionária VW Recreio, Sérgio Fernandes.
VENDIDO “Meu maior problema agora é a falta de carro. Hoje, 25% dos veículos que já vendemos ainda estão para chegar”, comenta o gerente de vendas da Espaço Ford, Rodrigo Diniz Vasconcelos. “O prazo médio de entrega é de 40 dias. Daqui a pouco não vai dar mais para garantir o IPI”, completa. Rodrigo acredita que, apesar da alavancada das vendas e fim dos estoques, o período de três meses determinado para vigorar a redução do IPI é curto para fazer com que a venda de automóveis impulsione a economia. “Para que isso aconteça, é preciso que a medida vigore pelo menos até o fim do ano. Aí, sim, o mercado automotivo pode ajudar o Brasil a crescer. Caso contrário, não resolve nada. O governo deixa de arrecadar e nós não vendemos do mesmo jeito”, pondera. “Mas, como não sabemos se o governo vai prorrogar a medida, o conselho para quem realmente deseja comprar carro é aproveitar agora. A não ser que a pessoa não esteja totalmente convicta da decisão.”
EM RISCO
Reportagem do caderno Vrum apurou que modelos são encontrados com maior dificuldade em Belo Horizonte (ou não existem mais). Nissan March e Versa (não tem), Tiida e Sentra (estoques baixos); Honda CR-V (não tem), demais modelos nacionais (estoques baixos); Fiat Grand Siena e 500 Cult (prazo de até 120 dias), Novo Palio (até 90 dias, conforme a versão); Ford Ka (do básico ao mais equipado não tem para pronta entrega), Fiesta (maior dificuldade no 1.0 básico), New Fiesta (muito difícil de encontrar); Chevrolet: Cruze hatch, Cobalt LTZ, S10 topo de linha, Sonic hatch (dificuldade em todos esses); VW Gol, Voyage e Polo (estoques baixos); Renault Sandero StepWay (prazos de até 60 dias para o manual; automático ainda mais difícil), Duster (dificuldade em algumas versões); Citroën C3 (estoques baixos); Peugeot 308 (prazos de 20 a 30 dias).
SAIBA MAIS
COTA MÉXICO
Depois da alta de 30 pontos percentuais, ano passado, nos veículos importados de países que não têm acordo com o Brasil, o governo federal partiu para tentar reduzir as importações de veículos do México, isentos de imposto de importação desde 2002. Houve uma renegociação do acordo em março, quando ficou acertado um regime de cotas, em dólares, para exportação de ambos os países, durante três anos. A distribuição acertada em abril determinou, para o primeiro ano (contado de 19 de março de 2012 a 18 de março de 2013), um montante de exportações do México para o Brasil de US$ 1,45 bilhão; para o segundo ano, US$ 1,56 bilhão e, para o terceiro, US$ 1,64 bilhão. Esse montante “transformado” em produtos foi distribuído para as montadoras com fábrica no México (Chrysler/RAM, Fiat, Ford, General Motors, Honda, Nissan e Volkswagen), levando em consideração critérios como maior volume de produção naquele país, o que significou maior cota para a Nissan. A montadora que porventura estourar a cota incorrerá em 35% de imposto de importação, além da alta de 30 pontos percentuais no IPI.