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Mercado - Avanço chinês

Depois de várias tentativas, carros chineses chegam ao Brasil sob muita desconfiança dos consumidores. Por isso, as vendas ainda são tímidas

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Cherry Tiggo é bem equipado e tem preço de R$ 49.990, brigando diretamente com o Ford EcoSport

As turbulências nas três grandes de Detroit (GM, Ford e Chrysler) e o mercado chinês superando o norte-americano em volume de vendas e, consequentemente, ampliando os tentáculos da indústria para outros mercados, como o Brasil, serão assuntos que rechearão os livros sobre a história do automóvel. "Quando se fala em produto chinês, o consumidor imagina um carro barato. Vem logo à cabeça um produto de R$ 1,99 e como é barato pensa em qualidade ruim. Porém, se o produto for analisado assusta, pois constata que não é da forma como pensava", explica o gerente comercial da Effa Clairto Acciarto. Na opinião dele, o que os japoneses levaram 10 anos para conquistar os chineses levarão apenas dois. Porém, o resultado das vendas, por enquanto, não é animador.

A Effa Motors, que começou a comercializar no mercado brasileiro ano passado, tem quatro modelos. O hatch M100 (R$ 24,4 mil) e três versões do ULC: picape (R$ 22,5 mil), furgão (R$ 25,8 mil) e van (R$ 26,6 mil). Todos equipados com motor 1.0 8V de 47cv. Na primeira metade deste ano foram emplacados cerca de 350 veículos da marca, sendo que o M100 corresponde, aproximadamente, por 50% desse total, ou seja, 175 unidades. O Uno Mille Fire, que começa a ser vendido por (R$ 22,2 mil), teve 16.284 unidades vendidas no mesmo período.

Acciarto credita a maior dificuldade enfrentada pela marca à demora da chegada da linha 2009, que só agora está nas revendas. As vendas iniciaram via importação do Uruguai e depois passaram a vir diretamente da China. Acciarto explica que o plano é construir a fábrica em Montevidéu, no Uruguai, o que deve começar a ser feito no início do ano que vem. A operação deve ser em formato CKD (desmontados).

Reforço

"Quanto mais gente vendendo e falando dos chineses é melhor", diz Acciarto a respeito da chegada de outra chinesa ao mercado brasieliro, a Cherry, a maior fabricante de automóveis do gigante asiático e com capital estatal, mas que no Brasil terá a operação articulada pelo grupo JLJ. O executivo da Cherry, Luis Curry, também sabe do preconceito enfrentado, mas diz que é preciso lembrar ao consumidor brasileiro que ninguém pode ficar sem um produto chinês.

Effa M100 custa R$ 24,4 mil, mas, no primeiro ano de mercado, vendeu muito pouco

Curry afirma que os produtos da Cherry têm componentes de marcas europeias, japonesas e coreanas e o design é feito em associação com estúdios europeus e norte-americanos. O Tiggo é o primeiro lançamento da marca, um utilitário compacto com preço inicial de R$ 49.990 e entre-eixos de 2,51m (o Ford EcoSport tem 2,49m) e equipado de série com ar-condicionado, freios, ABS, EBD, airbag duplo e regulagem de altura dos faróis, com motor 2.0 16V. "O preço é segredo da oferta, graças ao baixo custo de produção da China. Todos os funcionários chineses têm rotina de trabalho com economia inimaginável. Do executivo ao funcionário, ninguém viaja de 1ª classe nem frequenta hotel cinco estrelas", assim Curry explica a filosofia da empresa.

Os próximos lançamentos da marca, previstos para setembro, são os hatches QQ3 e Face. O sedã A3 também chega na mesma época, mas esse antes terá que trocar de nome por causa do Audi. Curry explica que os consumidores escolherão a alcunha para o veículo por meio de uma campanha. A previsão é importar cerca de 20 mil unidades no primeiro ano e está em estudo a construção de uma fábrica no interior de São Paulo.

Aceitação

"Há 25 anos isso aconteceu com os japoneses. A escolha pelos chineses é uma opção", acredita Curry. Opção que, de acordo com as pesquisas, o mercado norte-americano está tendendo a adotar. Estudo divulgado nesta semana revela que 15% de quem pretende comprar um carro novo nos Estados Unidos considera a possibilidade de o próximo veículo ser chinês e 11% próximo automóvel ser indiano, mesmo sem conhecer as marcas ou os veículos. Isso pode ser comparado com os 16% que consideram a possibilidade de comprar um veículo coreano, comercializado na terra do Tio Sam desde a década de 1980.

O estudo produzido pela consultoria AutoPacific é chamado de "Oportunidade para marcas chinesas e coreanas nos EUA" e foi baseado em uma pesquisa feita com mais de 3 mil compradores de carros e picapes. Revela a boa vontade dos consumidores com as duas potências do leste, os quais segundo informou na pesquisa o presidente da AutoPacific, George Peterson, tendem ser jovens, bem educados e com boa condição financeira para a idade, bons empregos, terem cuidados com a saúde e cargos e posições de chefia.