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Memória - Testemunha ocular

Ex-fotógrafo tem acervo impressionante das corridas do Mineirão nas décadas de 1960 e 1970. Depois que deixou a profissão, virou um engenheiro apaixonado por carros

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Foto:

Imagens vão além das cenas da competição e mostram os bastidores das provas

Quando se recorda das corridas do Mineirão, que aconteciam no entorno do estádio da Pampulha, nas décadas de 1960 e 1970, algumas verdades são esmaecidas pelo efeito do tempo. Os pilotos enaltecem os feitos que tinham ao guiar naquelas condições e da preparação dos carros. A torcida se lembra da proximidade com os carros e da época em que a cidade respirava automobilismo. Um registro precioso dessa história está no arquivo pessoal de Marcos Eustachio, na época fotógrafo da revista Manchete e hoje engenheiro mecânico.

Marcos se tornou fotógrafo profissional graças a uma união de coincidência com competência, em uma ótima história, que aconteceu em 1968. "Era amigo de um crítico de cinema do Estado de Minas, Paulo Augusto Gomes, que sabia da visita a Ouro Preto do casal de cineastas franceses Jacques Demy e Agnès Varda e me chamou para tentar fotografá-los, pois eu tinha habilidade. O cônsul da França foi esperá-los no aeroporto da Pampulha em um Renault bem pequeno, em que mal cabiam as malas. Como eu tinha ido no Aero-Willys do meu pai, deixei de ser fotógrafo e ofereci uma carona. Fui no carro com Jaques Demy e, no outro, foi o Paulo com o cônsul e a Agnès", recorda.

Ouro Preto

Marcos conta que, como seu avô era de Ouro Preto, ele se transformou em uma espécie de guia informal da visita, além de registrar tudo com sua câmera. Quando retornaram à capital, a notícia havia se espalhado e o cônsul convocou uma coletiva com os cineastas. Ele então distribui as fotos para os órgãos de imprensa e recebeu também um convite para trabalhar como fotógrafo da Manchete. Ele aceitou, mas, para obter o consentimento dos pais, teve que continuar os estudos de engenharia mecânica, curso que havia acabado de iniciar.

Veja mais fotos do acervo de Marcos Eustachio!

Apaixonado por automóveis, as corridas do Mineirão eram encaradas como um trabalho, mas ele tinha um prazer especial em fotografar os carros. "Eu só sabia o resultado da corrida depois da bandeirada", lembra Marcos. O motivo é que ele tinha que se concentrar nas fotos. Ele não tinha, como hoje, um cartão de memória, que permite cliques infinitos, e sim alguns filmes e muita coragem para se aproximar dos carros que entravam com tudo nas curvas. Mesmo sem ficar atento ao resultado, ele reforça o senso geral ? e também os resultados ? de que Toninho da Matta era o melhor: "Ele dominava as curvas do Mineirão". Outro que Marcos destaca é Kid Cabeleira, que, segundo ele, andava sempre no limite, para, logo depois, corrigir: "Ultrapassava os limites".

Rali

A relação de Marcos com os automóveis foi além e ele chegou a correr em um rali de regularidade com um Aero-Willys, nas cidades de Ouro Preto, Mariana e Catas Altas, e quase comprou, junto com um colega de faculdade, o Simca Esplanada GTX que Kid Cabeleira usou para disputar as provas do Mineirão. "Mas graças a Deus meus pais tiveram juízo e não deixaram", brinca Marcos. E, se tivessem deixado, essas fotos não estariam aqui. Hoje, 40 anos depois, ele se contenta com uma Rural 1952 completamente modificada, ou melhor, atualizada, equipada com todos os itens de conforto disponíveis em um projeto todo pensado por ele.

"Mas graças a Deus meus pais tiveram juízo e não deixaram eu comprar um carro para corre" - Marcos Eustachio, engenheiro mecânico



Dos tempos de fotógrafo, ele guarda boas histórias. De buscas por um disco voador, que teria descido em Lavras, até as manifestações de 1968. Ele chegou, inclusive, a ser preso pelo Dops, ao tentar fotografar uma troca de presos políticos. Seu trabalho também é testemunha de toda a movimentação da cidade em uma época muito interessante. Paralelamente à atividade de fotógrafo, ele se especializava em motores no curso de engenharia mecânica e, em 1973, quando se formou, decidiu se dedicar exclusivamente à engenharia, profissão que exerce até hoje.