A cultura de consertar o carro na garagem de casa não é muito disseminada no país. A tendência, com a tecnologia avançada e cada vez mais lacrada dos automóveis, é que diminua. Mas quem tenta comprar uma determinada peça pode se deparar com um dilema linguístico. Original? Paralela? Genuína? Similar? Genérica? Remanufaturada? Recondicionada? Recuperada? Pirata? Existem diversas nomenclaturas para o que, em determinadas situações, pode ter a mesma função, porém, um preço diferente. Diante da profusão de informações, a melhor maneira de se evitar uma cilada e ter a segurança comprometida é se informar bem.
Para entender como funciona o mercado, é necessário saber que as fábricas de automóveis não produzem todas as peças dos carros. Na verdade, compram grande parte de fabricantes de peças. Porém, essas fábricas de autopeças vendem o excedente da produção para lojas do varejo, que abastecem o mercado de reposição. Já as fábricas de automóveis também alimentam o mercado de reposição com as revendas autorizadas (concessionárias), que funcionam como oficinas e vendem peças. À margem de tudo isso, um imenso mercado clandestino e ilegal se aproveita e coloca em risco a segurança de todos.
Confusão
O coordenador do mercado de reposição do Sindicato Nacional de Componentes para Indústria de Automotores (Sindipeças), Sérgio Alvarenga, explica que a confusão é ampliada no Brasil pelo tamanho do país e pelas peculiaridades regionais, que geram diferentes nomes para os mesmos itens. Por isso, desde junho de 2006, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou um glossário para definir termos ideais. O glossário também classificou os diferentes segmentos.
Justiça
Paralelamente a isso, alguns fabricantes de automóveis acionaram alguns produtores de peças na Justiça, alegando que o direito de patente é infringido quando fábricas de autopeças independentes produzem itens para o varejo. Assim, algumas se uniram e criaram a Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Anfape). O presidente da entidade, Renato Fonseca, faz questão de separar as independentes do balaio dos ?paralelos?, que é como são denominados todos os outros. ?As pessoas associam o que não é original à ilegalidade e à baixa qualidade, peças ligadas ao desmanche, usadas, falsificadas. Porém, existe um imenso mercado de peças boas, legais e independentes, que produzem produtos similares e novos, que geram empregos e pagam impostos e são uma opção alternativa?, argumenta Fonseca, justificando que chamar todos os outros de paralelo gera um imenso prejuízo institucional. A classificação proposta pela Anfape também é complexa.
Cuidados
A dica do presidente da Anfape, Renato Fonseca, é evitar comprar peça sem indicação de um mecânico ou funileiro de confiança. ?O mecânico é equivalente ao médico do carro e o ideal é seguir a recomendação dele?. Outra dica é buscar peças em uma loja que seja respeitada no mercado, com bom visual, organizada e, acima de tudo, que emita nota fiscal. Alvarenga, do Sindipeças, alerta para na hora de pesquisar os preços sempre desconfiar daqueles muito baixos e dos muito altos. ?Os extremos nunca são bons?, afirma. Nesses casos, segundo ele, pode se desconfiar desde pirataria para os preços muito baixos até lucro excessivo do revendedor, quando é muito caro. Em alguns itens, o ideal é redobrar o cuidado e seguir o que recomenda o manual, mesmo que custe um pouco mais caro comprar a peça genuína ou de reposição original. Veja alguns casos no quadro.
Abra o olho
Fluido de freio ? é muito simples de ser falsificado, pois uma versão trapaceira pode ser feita até no fundo de quintal misturando álcool com anilina, o que compromete a segurança.
Roda de liga leve ? um simples arranhão externo é facilmente corrigido, porém, pode esconder uma ruptura na estrutura interna que compromete a segurança. Assim, os picaretas de plantão não têm o equipamento adequado para detectar o defeito e, em alta velocidade, a roda pode partir.
Amortecedor ? não existe recondicionado, pois o processo é mais caro do que fabricar um novo. Por isso, recuse. É comum apenas pintar e trocar o óleo por outro mais grosso.
Componentes da direção e itens do motor (pistão, bronzina entre outros) ? é ideal buscar no mercado peças desse tipo com o aval da montadora, pois são muito específicas e qualquer diferença pode gerar prejuízo além, é claro, de desfalcar o bolso.
Classificações Sindipeças
Originais - Destinadas à linha de montagem
Reposição original - Para reposição fabricada com o mesmo processo
Remanufaturada - Submetida ao processo pelo fabricante ou estabelecimento autorizado
Recondicionadas - Submetida a processo técnico para exercer a função
Recuperadas - Passam apenas por processo artesanal
Anfape
Genuína - De um fornecedor exlcusivamente para o fabricante do automóvel
Original - De um fornecedor para a rede de varejo
Similares - De empresas independentes, que não fornecem para as montadoras
Usadas Provenientes dos desmanches
Recondicionadas - Qualquer uma das acima que passa por processo de recondicionamento
Remanufaturadas - São remanufaturadas na mesma indústria que as produziram
Piratas - Que usam indevidamente a marca alheia