O recall é uma convocação pública que o fabricante deve fazer para verificar peças defeituosas e, eventualmente, trocá-las sem custo para o proprietário. O procedimento é previsto em lei, mas somente se torna obrigatório quando há risco para a segurança. Mas isso não elimina os veículos de problemas crônicos em componentes e processos de produção. Nesses casos, as montadoras se comportam de duas maneiras: trocam a peça sem alarde, aproveitando revisões; ou, como ocorre muitas vezes, se negam a admitir que o problema é crônico e alegam que se restringe àquele determinado modelo.
O caderno de Veículos do jornal Estado de Minas e o Portal Vrum elaboraram uma lista com os casos mais significativos, recolhidos nos últimos dois anos. A escolha foi feita independentemente da marca, levando-se em consideração a freqüência ou a relevância dos problemas, procurando evitar casos isolados.
Chevrolet Celta
As unidades do hatch compacto produzidas até 2004 apresentam um forte barulho ao serem ligadas, que desaparece quando o motor esquenta. Trata-se apenas de um incômodo, sendo que a montadora considera o barulho uma característica do veículo e não defeito de fabricação. O problema foi corrigido com redesenho do pistão, nas unidades mais recentes. O ruído pode ser corrigido com a troca dos pistãos e, para veículos ainda em garantia, a substituição é gratuita.
Outras unidades, inclusive ano/modelo 2007, têm sofrido vazamento de óleo na caixa de marchas. A GM reconhece o problema, que está no retentor (um anel de borracha na parte superior da caixa), mas não fez campanha, por acreditar que apenas algumas unidades estão sendo afetadas.
Fiat Palio
Palios Fire flex 06/07, equipados com o kit Celebration (que inclui pára-choques pintados na cor da carroceria), têm sofrido com bolhas e descascamento na pintura do pára-choque. A Fiat faz a troca da peça sem ônus para o proprietário, mas espera que ele leve o veículo até uma autorizada. Outro problema é a demora na troca, já que a fila de espera chega a 45 dias.
Fiat Uno Mille
Proprietários de Mille flex estavam reclamando de entrada de água na câmara de combustão dos cilindros (o famoso “calço hidráulico”). A montadora admitiu apenas ter redesenhado a tomada do filtro de ar. No entanto, informou que o veículo é seguro sob o ponto de vista de entrada de água no motor, em condições normais. Fica a dúvida então: por que a peça foi redesenhada?
Ford Fiesta
Ruídos internos nos Fiesta 1.0 ano 2006 podem ser causados por problemas na suspensão. A montadora diz que não há problemas no sistema e que tais ruídos podem ser provocados por fatores externos. No entanto, algumas autorizadas consultadas por Veículos, principalmente na cidade de São Paulo, já haviam sido orientadas a verificar a suspensão em caso de ruídos e, se necessário, realizar a troca dos batentes, sem custo para o cliente.
Mitsubish L200
As unidades da picape produzidas entre 2004 e 2005 (até abril) foram alvo de um recall branco, para a troca das bronzinas. O fabricante nem chegou a convocar os proprietários, aproveitando as revisões para trocar silenciosamente o componente. A montadora justifica a ação silenciosa alegando que é "um procedimento simples, e o proprietário nem se dá conta". Mas a marca nega informação aos clientes e deixa de fora do reparo aqueles que preferem realizar as manutenções em oficinas que não pertencem à rede autorizada.
Renault Mégane
A montadora francesa convocou, discretamente, por telefone, os proprietários do Mégane 1.6 produzidos até meados de 2007 para uma suposta "revisão" no sistema de injeção. No entanto, muitos outros itens, como bomba de combustível, bicos injetores e sistemas das portas, também são inspecionados, numa revisão que pode durar até quatro dias. Oficialmente, a Renault afirma que está atualizando os carros mais antigos para os mesmos parâmetros dos modelos mais novos e acrescenta que a atitude seria até "inovadora", não admitindo defeitos crônicos no Mégane.
Toyota Corolla
Há vários casos de Toyota Corolla e Fielder, principalmente anos 2003 e 2004, com discos de freio que empenam ou pastilhas que se desgastam prematuramente. A montadora, como é de costume no caso de sistemas de frenagem, alega que a durabilidade varia de acordo com a maneira como o veículo é usado, e não reconhece defeitos, nem nos discos nem nas pastilhas. No entanto, em alguns casos, a troca está sendo feita sem custo para o consumidor. Uma indicação de recall branco.
Troller T4
Pode até não ser um defeito crônico, mas o jipe T4 ano 2004, do promotor de Justiça Flávio César de Almeida Santos, apresentou tantos problemas, que o proprietário ganhou na justiça o direito de ressarcimento e indenização por danos morais. O mais impressionante foi a resposta da montadora, dizendo que "o veículo é especial, destinado à prática de trilhas, não sendo destinado ao uso corriqueiro no trânsito urbano". De qualquer forma, jipeiros de Belo Horizonte ouvidos pela reportagem afirmam que os modelos 2001, em particular, são propensos a quebras do diferencial.
VW Gol
Alguns modelos da geração 4 têm apresentado perda de potência, com acendimento da luz do EPC (indicador de problemas eletrônicos). Oficialmente, a montadora não reconhece o problema e nem tem uma orientação de reparo para a sua rede autorizada. Como resultado, vários proprietário passam pelo calvário de ter que ir diversas vezes às oficinas, e, muitas vezes, recebem os veículos sem o defeito reparado.
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