José Leonel do Nascimento Neto já vendeu picolé, foi cobrador de Kombi e ralou muito para conseguir o dinheiro da passagem do ônibus que o levaria do bairro de Maranguape I, Paulista (PE), até o estúdio onde ensaiava seus funks. Entre um intervalo e outro, sonhava com um Golf. Hoje, mais conhecido como MC Leozinho do Recife, ele leva seu brega-funk a todo o Brasil, tendo inclusive feito shows na Colômbia e conta, sorrindo, que já chegou "a trocar dez vezes de carro em um período de cinco meses".
Com clipes regados a lanchas, carrões e Hornetes, motocicleta que ostentou em sua garagem até resolver vendê-la "por gostar de correr demais", Leozinho grava com automóveis emprestados dos amigos. "Para que os vídeos convençam, precisam mostrar as marcas que cito. Hoje os meninos vão ao camelô e compram óculos parecidos com os nossos. Querem ter nosso visual, os carros que aparecemos dirigindo. Mostramos que para conquistar as coisas é preciso trabalhar muito", comenta. Questionado a respeito das semelhanças do brega-funk pernambucano com o funk ostentação paulista, Leozinho opina: "lá, muitos MCs já cantam a realidade em que vivem. Aqui, para a maioria de nós, esses carros ainda são sonhos".
Sonho possível
Para Thiago Soares, pesquisador do departamento de Comunicação Social da UFPE, a presença constante de marcas de luxo em cenários de shows, letras e produções audiovisuais do brega-funk está diretamente ligada à estabilização econômica do Brasil e ao aumento do poder de consumo da classe C. "A plataforma do governo federal é estimular o consumo, através da diminuição de juros e impostos", explica. Mais palpável, o carro, segundo o pesquisador, "foi um dispositivo de diferenciação e demonstração de poder, que já era presente na cultura pop, apropriado pelos sujeitos subalternos desse universo midiático".
O Mc Cego Abusado brinca que de tão apaixonado por veículos já chegou a alguns de seus shows dirigindo a Van da produção. Fã de veículos esportivos, ele fez questão de contracenar com Honda 1100, Limousine e Hyundai Sonata em seu clipe Tu tá gostosa, que já bateu a marca de 63 mil visualizações no YouTube. "A gente cria histórias e os carros fazem parte delas. Quando apareço como patrão, em A firma tá a mil, sou passageiro de uma limusine", comenta. Cego, que atualmente dirige um Peugeot 207, ao qual acrescentou um jogo de rodas aro 17’", confessa que se diverte durante as gravações. "É muito bacana. Os carros nos meus clipes são sonhos de consumo, não apenas meus. Quem não quer dirigir um Sonata?".
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