Pergunte a alguém o que é LSD. A resposta tem grandes chances de remeter ao mundo do amor livre e da experimentação de drogas. Pudera, a sigla comprime a palavra alemã Lysergsäurediethylamid, ou dietilamida do ácido lisérgico, substância que ficou famosa nas mãos de gurus alternativos como Timothy Leary nos anos 1960. Só que no mundo automotivo a sigla deixa de lado o caráter lisérgico e forma as palavras Limited Slip Differential (diferencial de deslizamento limitado), também conhecido como autobloqueante. O diferencial é o responsável por deixar que as rodas girem em velocidades diferentes nas curvas, daí o nome. “Só que o diferencial tem um problema: se uma roda estiver com menos aderência, até para equalizar essas velocidades diferentes, ele passa o torque todo para essa roda”, explica Ricardo Dilser, consultor técnico da Fiat. Em miúdos, o diferencial autobloqueante detecta a perda de tração em uma das rodas e repassa a força motriz para a outra.
ELETRÔNICA Apesar de a eletrônica ter um peso maior, os sistemas de controle de tração e de estabilidade acabam diminuindo o desempenho do carro, que passa a andar mais lentamente em troca da segurança. Por isso mesmo, o LSD mecânico ainda faz a cabeça dos projetistas de esportivos. O Ford Focus RS é um exemplo de carro com tração dianteira e potência superior a 300cv que dispensa o sistema de tração integral mais caro e pesado graças ao LSD. E não é só nas curvas não. Na hora de arrancar, o sistema também ajuda o carro a não ficar no mesmo lugar, girando as rodas em falso.
Por aqui, a onda do LSD não conquistou tantos adeptos sobre rodas. Isso se dá pelo preço e complexidade do dispositivo. “É um sistema muito caro e específico, que pode ser dispensado por automóveis normais”, analisa Dilser. O Honda Civic Si é um dos raros e conta com o sistema para poder despejar equilibradamente os seus 192cv apenas sobre as rodas dianteiras.
LOCKER Para juntar o melhor dos dois mundos, alguns fabricantes recorrem a bloqueios eletrônicos, com diferentes tipos de propósitos. Nem sempre o de dar uma mão nas curvas. É o caso do Locker da Fiat, chamado de eletronic locker differential (ELD). Quando a aderência se vai, o bloqueador anula o funcionamento do diferencial, que tende a enviar mais força para a roda livre. Sem o dispositivo, a tendência seria que a roda que gira livremente continuasse a receber toda a força, enquanto a que está apoiada no chão ficasse parada, piorando a situação de quem se aventura para chegar ao sítio. Com a tecla acionada, o torque se iguala entre os semieixos e impulsiona com força a roda com mais aderência, em velocidades de até 20km/h. Outros nacionais, como a Chevrolet C10, já tiveram sistema do tipo, só que mecânico e conhecido como tração positiva. Tudo para viajar numa boa.
Memória
De arapuca a carango pilotável
O LSD automotivo é mais antigo que o ácido, que surgiu no mercado só em 1947. Como outras tantas invenções, o dispositivo pode ser creditado a Ferdinand Porsche. Porsche se viu em 1932 com um carro de competições da Auto Union, que na época já criava modelos capazes de ir aos 400km/h. Só que o bólido com mais de 400cv de potência tinha tendência a destracionar em velocidades altas, superiores a 160km/h. Logo o engenheiro encomendou à ZF um diferencial capaz de enviar a força de acordo com a aderência de cada roda e transformou o que seria uma arapuca mortal em um carro pilotável.