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Liquidação de Natal

Falta de acordo entre investidores chineses e a antiga controladora General Motors leva a marca sueca ao pedido de falência. Fim dos dias é apenas questão de tempo

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Trabalhadores na fábrica de Trollhattan, Suécia, saindo da unidade na segunda-feira, após anúncio feito pelo diretor-executivo Victor Muller


O fim da Saab foi como uma daquelas histórias sobre enterros em que o defunto levanta e quase mata todos de susto. Só que a chance de isso acontecer de novo é rara. A Saab entregou anteontem o pedido de falência, mas não produz nenhum automóvel desde o primeiro trimestre. A saúde financeira nunca foi de ferro: nos últimos 20 anos a marca só declarou lucro uma única vez. Desenganada, em 1989, ela foi adquirida pela General Motors, que a vendeu em 2010 para o empresário holandês Viktor Muller por US$ 74 milhões e outros US$ 326 milhões em ações preferenciais. A venda fez parte do plano de recuperação da GM, que fechou divisões como Pontiac, Hummer e Saturn. Mas o novo dono mal conseguiu respirar aliviado e os sustos não pararam.

Foram apenas 32 mil carros produzidos em 2010, metade do projetado. Bem distante do pico de 132 mil modelos feitos em 2006, melhor ano da Saab. E pioraria, já que a produção em Trollhattan, Suécia, pararia em março deste ano. Sem dinheiro para renovar a linha da marca, que sequer conseguiu capitalizar em cima do novo 9-5, e em meio à maior crise de crédito das últimas décadas, Muller tentou fechar negócio com investidores chineses para retomar a produção interrompida, incluindo o fabricante chinês Zhejiang Youngman Lotus Automobile. Mas a GM fez uso do seu direito de veto, já que manteve o controle sobre a tecnologia investida na Saab. Tudo para evitar a concorrência direta na China.

FALÊNCIA

Em caso de fechamento da companhia, museu da Saab pode ser mantido para preservar a marca

O pedido de falência representa na prática a abertura do processo de liquidação da companhia sueca. A empresa está sufocada em dívidas, sem conseguir pagar sequer salários, e a última esperança é que a Saab seja vendida em uma parte única. São cerca de 3.500 funcionários torcendo por esse desfecho. Analistas apostam na liquidação completa da marca, ainda que exista a possibilidade da continuação do uso do nome, como foi com a inglesa MG, agora nas mãos da chinesa SAIC.

Embora a Saab AG tenha surgido em 1937 fabricando aviões, a divisão automotiva (agora independente) apareceu uma década depois, em 1947. Desde o início, a marca sueca foi inovadora, se preocupando com a segurança como a compatriota Volvo, além de primazias tecnológicas. Foram inovações da marca o cinto de segurança de série (1958), circuito diagonal de freios (1963), coluna de direção que desarma em impactos (1967), ignição entre os bancos para evitar choque da perna contra a chave (1969), faróis com lavadores e limpadores (1970), para-choque deformável (1971), filtro de pólen (1978), ar-condicionado sem CFC (1991), encosto de cabeça antichicote (1996), distribuição eletrônica de frenagem (1997), entre outros. No Brasil, onde desembarcaram apenas alguns modelos 9000 na abertura das importações, a marca nunca chegou a ter presença. A lembrança ficará apenas entre os entusiastas.