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Lincoln Town Car - Símbolo da decadência

O império norte-americano treme: além da crise do mercado imobiliário, o poderoso setor automobilístico dormiu no ponto e não consegue segurar a invasão asiática

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De Lenox, EUA - O Lincoln Town Car (da Ford) e o Cadillac DTS (da GM) são os dois símbolos máximos do luxo e da sofisticação entre os modelos norte-americanos. Mas basta dirigir um deles para descobrir o porquê da decadência dos carrões produzidos nos EUA e o avanço dos asiáticos (principalmente Toyota e Honda) a ponto de desbancar a GM do posto de maior fabricante mundial de automóveis.

A locadora Avis oferece os dois e a decisão de alugar o Lincoln foi por ser o maior e mais comprido sedã fabricado nos EUA: enquanto europeus e japoneses dificilmente vão além dos 5 metros de comprimento, o Town Car tem quase 5,5 metros (exatos 549 cm) na versão standard (o modelo alugado) mas estica para 5,62 metros na versão com maior entre-eixos. Avis: atendimento rápido, eficiente e amável no aeroporto JFK (Nova York). Na devolução, cinco dias depois, no centro da cidade, foi o contrário, com funcionários ríspidos e mal-educados.

Navio
Não é difícil entender por que o mercado norte-americano migrou para automóveis mais modernos e compactos nos últimos anos. Não existe dúvida de que o Lincoln Town Car oferece muito espaço e conforto, não pela inteligência do projeto, mas por suas dimensões mais náuticas do que automobilísticas. Dirigir o Lincoln é uma experiência única, principalmente para um brasileiro acostumado aos padrões europeus e japoneses e meio esquecido do nosso Ford Galaxie...

Linhas do painel, quadro de instrumentos e o volante denunciam idade do projeto


O Town Car é um verdadeiro ‘banheirão’ e perfeito para as grandes, largas e modernas estradas dos EUA. O enorme entre-eixos (2,99 m) resulta numa freqüência de oscilação da carroceria muito confortável. Ele vai balançando suavemente, como um grande navio singrando mares calmos.

Mas nos Estados Unidos existem também as ruas apertadas. E estradinhas sinuosas em que o Lincoln entra em estado de choque: a suspensão dianteira tem uma conversa difícil com a traseira e dá pena ver o esforço do sistema eletrônico da suspensão tentando corrigir o navio nas curvinhas mais apertadas. A cavalaria sob o capô (motor 4.6, V8, de 242 cv) e a caixa automática de quatro marchas empurram o bicho para frente de qualquer jeito, mas, depois de alguns quilômetros do corpo balançando para cá e para lá, o cansaço é inevitável. O jeito é andar bem devagarinho, a 40 km/h ou 50 km/h, curtir a paisagem e deixar os Toyota e Honda ultrapassar.

Ele tem até alguma sofisticação típica dos europeus e japoneses, como, por exemplo, a pedaleira que se ajusta eletricamente.

Projeto antigo
O porta-malas é bom (590 litros), mas poderia comportar mais bagagem se não fosse o projeto antigo que faz perder muito espaço com o eixo traseiro, tanque e estepe. Está lembrado do Ford Galaxie nacional?

O consumo é considerável: num percurso principalmente de estradas, só com o motorista a bordo e respeitando todos os (baixos) limites de velocidade (nunca superiores a 100 km/h), ele não faz mais que 5,5 km/l. (Os japoneses chegam perto dos 10 km/l). Também, pudera: além da falta de sofisticação tecnológica, o Lincoln pesa 1.900 kg contra 1.500 kg do Toyota Camry.

Por falar em Camry, as fábricas norte-americanas não se mancaram mesmo quando esse Toyota foi o automóvel mais vendido nos EUA durante anos. Elas deitavam e rolavam com seus imensos picapes e utilitários-esportivos. Beberrões, poluentes, mas extremamente rentáveis. E ainda têm dificuldade em competir com os japoneses pelo custo do enorme passivo trabalhista acumulado durante dezenas de anos.

GM e Ford só acordaram quando o litro de gasolina dobrou em dois anos e as campanhas contra automóveis poluentes e inseguros se alastraram pelo mundo. Mas aí o navio já começava a fazer água...