Os Estados Unidos afirmaram que foi um míssil que derrubou o Boeing 777 da Malaysia Airlinesp quando estava no espaço aéreo da Ucrânia enquanto executava a rota Amsterdã-Kuala Lumpur, na última quinta-feira (17). Como o avião foi atingido por um míssil disparado em terra, não há a confirmação se o jato foi ou não interceptado.
Qualquer aeronave que voa sem autorização em uma área controlada ou de conflitos, como é o Leste da Ucrânia, ou que esteja sob suspeita de sequestro ou ato terrorista, pode ser interceptado por caças militares até que sua identidade seja confirmada e a aeronave pouse em um local indicado pelo caça. Embora pareça algo cinematográfico, essa ação é mais comum do que se imagina, inclusive com caso semelhantes no Brasil.
Em fevereiro deste ano, um Boeing 767-300 da American Airlines foi interceptado por um caça F-5 da Força Aérea Brasileira (FAB) quando realizava o voo 904, que decolou do Rio de Janeiro para Miami com 127 passageiros. A tripulação acionou o código 7.500, que indica sequestro do voo, fazendo com que os caças decolassem de Anápolis (GO) e interceptassem em poucos minutos o 767, que sobrevoava o Distrito Federal. O código identifica que o voo está sob interferência ilícita e foi identificado pelo Comando de Defesa em Brasília.
“Acredito que o piloto do voo queria acionar o código 7.600, que significa perda de contato com o controle de tráfego, já que há alguns pontos cegos entre Brasília e Manaus mas, por um engano, acabou trocando o numeral 6 pelo 5, gerando toda essa confusão”, disse o piloto Ricardo Cury, que há seis anos trabalha em cabine de Boeing.
O Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) ordenou que o Boeing pousasse imediatamente e o avião militar acompanhou o avião civil até o pouso, que foi realizado no Aeroporto Internacional de Manaus. O Boeing foi orientado a parar em uma área distante do terminal de passageiros.
A Polícia Federal foi acionada para fazer uma varredura no avião e identificar a interferência ilícita, como identificado pelo código de segurança.
O Ministério da Defesa não soube informar o que levou o código ser acionado por engano, se foi falha do sistema do avião ou se foi um equívoco da tripulação técnica. O Boeing pousou normalmente em Miami com algumas horas de atraso. Cury disse que a postura das autoridades brasileiras em determinar que um caça da FAB acompanhasse o Boeing de passageiros foi corretíssima, ainda mais por se tratar de uma empresa aérea americana, que reforçou os cuidados com a segurança após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Engano que virou tragédia
Além do 777-200 da Malaysia Airlines abatido na Ucrânia, outro caso ocorrido por engano custou a vida de 269 pessoas. Em 1983, um Boeing 747 da Korean Air foi interceptado e abatido por um caça soviético. O jumbo decolou de Nova York para Seul e fez uma escala técnica em Anchorage, no estado do Alasca. A União Soviética desconfiou que o 747 fosse um avião espião americano por ele ter entrado em seu espaço aéreo sem autorização e ordenou que o Boeing fosse abatido. O avião caiu em espiral sobre o mar do Japão e não houve sobreviventes.
No Brasil, a Lei do Abate permite que aeronaves que ameaçam a segurança nacional sejam derrubadas. Mas para isso, os militares envolvidos na interceptação devem realizar cerca de 10 procedimentos de identificação e checagem. A primeira providência filmar a aeronave irregular, checar o seu prefixo e matrícula e tentar identificá-la. Se houver irregularidade, um caça da Força Aérea se aproximará e emitirá sinais visuais. Se o piloto não responder, o avião suspeito será interceptado e terá a rota alterada. Se ainda assim o piloto não atender, o caça pode disparar, primeiro, tiros de advertência. Caso a aeronave seja considerada hostil, estará sujeita ao tiro de destruição. Esse tiro só poderá ser determinado pelo Comandante da Aeronáutica e com a autorização da presidente Dilma.
Na Copa das Confederações, em 2013, um avião invadiu uma área de segurança aérea, em Brasília, foi interceptado e obrigado a desviar seu rumo durante a abertura do jogo inaugural. O avião invasor foi interceptado por um A-29 Super Tucano, a 90 quilômetros de Brasília, e teve a rota desviada. Desde que foi sancionada a Lei do Abate, em 2004, pelo presidente Lula, nenhuma aeronave chegou a ser derrubada em território nacional.