Do Rio de Janeiro - A oitava edição da Latin America Aerospace and Defence (LAAD), que terminou ontem, mostrou que os mercados emergentes são a bola da vez também no mercado de defesa e segurança. Em 2008, foram investidos na América Latina US$ 48,1 bilhões na área e, só nos últimos 10 anos, o incremento de investimentos foi de 50%, alavancado pelo Brasil, Chile e Venezuela. E que ganha ainda mais ímpeto com a Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, além da continuação dos planos de reequipamento na região. Para motorizar essas forças, fabricantes automotivos lotaram os dois pavilhões destinados à feira no Riocentro, no Rio de Janeiro.
Clique aqui e veja mais fotos!
A grande atração sobre rodas foi o Iveco VBTP – Veículo Blindado de Transporte de Pessoal, batizado como Guarani. O projeto conjunto do Exército e da Iveco começou em 2007 e agora chega ao primeiro protótipo, que já entra em testes. Serão 2.044 unidades a serem feitas entre o quarto trimestre de 2012 e 2029. Parece muito, mas, na verdade, acaba sendo pouco. “A demanda é maior, cerca de 4 mil apenas entre blindados médios. Mas já é mais do que o dobro dos 633 Urutus e Cascavéis, que não serão substituídos justamente pela falta de carros”, ressalta o general de brigada Waldemir Cristino, gerente militar do projeto. Como o Exército é dono do projeto, a Iveco pode exportar o modelo para países aprovados previamente pela força, que recebe royalties por unidades.
POLÍCIA
Pela primeira vez, o evento reuniu também autoridades da área de segurança. Apostando no nicho policial, a Inbra (preparadora de veículos blindados) estreou o Gladiador, ou Blindado Leve sobre Rodas (BLSR), no linguajar da caserna. Com blindagem nível IV e participação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, aguenta até disparos de calibre 7.62mm, comum em metralhadoras e fuzis. O preço é de sedã alemão top: R$ 580 mil. A Inbra também apresentou uma viatura Volkswagen Amarok blindada no para-brisa e portas, o que eleva o seu preço para R$ 167mil. “Estudos mostram que 87% dos tiros que atingem viaturas são justamente nessas partes”, cita Clécio Barbosa da Silva, gerente comercial da Inbra. “O mercado de blindagens caiu com a diminuição da violência. Estamos blindando entre 45 e 50 carros por mês, mas já fizemos 150”, lamenta Clécio.
A Iveco também apresentou o blindado LMV – Light Multirole Vehicle, um Hummer à italiana. “Para o Brasil poderia ser uma boa pedida. Em serviço no Afeganistão, em 15 ataques com minas, só houve uma morte”, valoriza Giovanni D'Ambrosio, gerente de Plataforma de Veículos Militares da Iveco Defense, que também levou o menor M 40R15, com chances de nacionalização. Mal apareceu por aqui e já tem rival: o espanhol VAMTAC – Veículo de Alta Mobilidade Tático, da espanhola Uro. Outra europeia a levar um dos seus blindados foi a Renault, com a linha Sherpa de transportes pequenos e médios. A Agrale fez uma estreia: o AM 31, versão mais parruda do Marruá. A também nacional TAC apresentou em conjunto com a israelense IAI o Stark IRV – Inteligência, Reconhecimento e Vigilância. Equipado com um sistema de radar, sensores e câmeras, o Stark tem balanço traseiro maior para suportar a aparelhagem.
Diante de outras atrações, a Chevrolet Tahoe até pareceu pequena. A despeito de equipamentos como giroflex e radiocomunicador, o SUV com motor V8 5.3 era uma versão civil caracterizada, um paisano diante de combatentes experimentados. Veteranos que estão longe da reserva, como o Land Rover Defender 90, que sem muitas modificações está apto para o serviço. Só não ganha em tempo de carreira do aliado Jeep J8, a versão militar do Wrangler e sucessor do Willys, com motor turbodiesel 2.8.
CASERNA
O Centro de Tecnologia do Exército levou o Gaúcho, veículo de reconhecimento projetado em conjunto com a Argentina, que está pronto para entrar em produção seriada. Bem robusto, mas não ganha do VEsPa 2, segunda geração do modelo que já recebeu o apelido de “Caveirinha” após combates urbanos no Rio. A blindagem integral é do tipo Nível III, reforçada para aguentar tiros de calibre 5.56mm, comum em fuzis como o Armalite AR-15, figura fácil em conflitos urbanos na cidade.
O aumento da imagem de violência acaba reforçando a segurança de outras companhias de blindados, como a norte-americana Oskosh, que expôs o abrutalhado Sandcat, que, com 5,04m, ainda compete na seara dos blindados para conflitos urbanos, com motor V8 6.7 de 300cv e chassi de origem Ford. “A falta de segurança é apenas um dos aspectos que nos dão confiança nessa tarefa”, aposta Daniel Raasch, diretor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Oshkosh Defense. Não por acaso, outras marcas como o grupo sul-africano Paramount Group, com o Marauder e o Maverick e a compatriota OTT, levaram carros da mesma classe. É o chamado mercado da insegurança.
(*) Jornalista viajou a convite da LAAD