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Kombi sai de linha após 56 anos de produção no Brasil

Utilitário não pode ser produzido a partir deste ano por não possuir airbag e ABS. Conheça a história e as versões especiais da Kombi desde 1957

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Kombi sai de linha após 56 anos de produção no Brasil
Kombi sai de linha após 56 anos de produção no Brasil Foto: Kombi sai de linha após 56 anos de produção no Brasil

Kombi deixa de ser produzida em 2014 e entra para a história

O primeiro dia útil de 2014 chegou com uma sensação estranha na planta da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Pela primeira vez em 56 anos, nenhuma Kombi é fabricada no local. As resoluções 311 e 312 do Contran exigem airbag duplo e freios com ABS em 100% dos veículos produzidos no Brasil a partir de 1º de janeiro deste ano. Por não possuir os itens, o modelo não pode mais ser fabricado. Agora resta a lembrança de admiradores e o lamento de frotistas: não há sucessor do veículo no país.

VEJA FOTOS DA KOMBI LAST EDITION!

Produzida no Brasil desde 1957, a Kombi leva para a história um recorde: foi o veículo de maior longevidade da indústria automobilística mundial. Mais de 1,5 milhão de unidades foram fabricadas desde então. Inclusive, a ‘Velha Senhora’ tem uma curiosidade: foi produzida primeiro que o carro-chefe da marca até o começo dos anos 80, o Fusca.

Clique e conheça a história da Kombi no Brasil!



O fim da Kombi começou em agosto de 2013 e foi marcado por muita polêmica no mês passado. A Volkswagen programou uma despedida especial, com direito a uma série limitada, a Last Edition, evento na fábrica, hotsite com histórias dos fãs e campanha de marketing com os últimos desejos da Kombi.

 

A Kombi Last Edition foi lançada com apenas 600 unidades, com pintura retrô azul saia e blusa, bancos de vinil, cortinas, acabamento luxo e plaquetas numeradas no painel. Tudo isso com o preço salgado de R$ 85 mil. O alto valor não assustou colecionadores e logo a Volkswagen teve que dobrar a série para 1200 unidades.

 

"Quando anunciamos a Last Editon foi um fenômeno mundial. Tivemos pedidos dos cinco continentes. No início acreditamos que 600 seriam suficientes, tivemos que dobrar e ainda temos demanda para muito mais. Isso justifica o preço mais alto que a versão branca; temos mais de 5 mil interessados. Mas, além disso, se você ver o equipamento e o amor que colocamos, justifica o valor", afirma Jochen Funk, diretor da Volkswagen.

 

Show de trapalhadas

Tudo caminhava para uma despedida solene, à altura da história do modelo, quando o governo federal quase cometeu uma trapalhada na legislação de trânsito. Por pressão de metalúgicos do ABC Paulista e pelo medo de uma queda na venda por conta do aumento no preço dos carros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cogitou adiar a exigência de airbag e ABS por dois anos.

Veja fotos do encontro de Kombis em São Paulo

A polêmica durou uma semana e uma decisão favorável poderia dar sobrevida a Kombi, Gol G4 e Mille. A Fiat chegou a adiar o lançamento da edição de despedida do compacto, o Grazie Mille. No final, o bom senso prevaleceu e a exigência dos itens de segurança foi mantida; a indústria já tinha ganhado cinco anos para se adequar e o prazo não seria estendido.

Para a Kombi, porém, representou o fim de uma era. A Volkswagen não possui substituto para o modelo. Na Europa, existe o Transporter T5, uma espécie de tetraneta da Kombi, mas que chegaria com preço muito alto no Brasil. Sem o veículo, modelos como a minivan CN Auto Topic e outras chinesas podem ser a solução para transportar mais de 7 pessoas. Para cargas, as opções ficam com Fiat Fiorino, Dòblo Cargo, Peugeot Partner e Renault Kangoo.

Homenagens

Em 19 de dezembro, um grupo de operários da VW postou nas redes sociais fotos do que seria a verdadeira última Kombi fabricada no mundo. Colecionadores comentam que a unidade standard custará muito mais que as séries limitadas. Um outro modelo recebeu uma plotagem na lateral, no estilo saia e blusa, com fotos de todos os trabalhadores da linha de montagem da Kombi.

Baseada em projeto do final da década de 40, Kombi não mais atende requisitos de segurança no Brasil



Segundo a montadora, foi um evento informal organizado pelos próprios metalúrgicos. A empresa entrou em férias coletivas em 20 de dezembro e a produção só volta na próxima semana. Dessa forma, os últimos dias permitidos para fabricação da Kombi ‘não foram aproveitados’. As fabricantes têm até 31 de março para vender as unidades que sobraram ano 2013.

Encontro de Kombi nos Estados Unidos e Alemanha

Além da Last Edition, a Volks realizou os quinze últimos desejos da Kombi, das centenas de histórias enviadas no hotsite. Vídeos e fotos contam algumas dessas aventuras, como o Carlos Alberto de Valentim, que viajou a três Copas do Mundo de Kombi para ver a Seleção. Os escolhidos ganharam ainda brindes do modelo.



O penúltimo desejo do carro foi um encontro com fãs, realizado na fábrica da VW na Rodovia Anchieta em 8 de dezembro. Mais de 170 veículos foram expostos, atraindo milhares de pessoas. O evento foi organizado pelo Sampa Kombi Clube e também chamou atenção da imprensa internacional. "A Kombi foi o carro que construiu o Brasil. Durante trinta anos, ela reinou absoluta como único veículo pequeno e médio para transporte de cargas e pessoas”, afirma Eduardo Gedrait, presidente do clube.

O modelo mais antigo em exibição foi uma unidade azul 1950, importada da Alemanha, da primeira versão comercializada. O destaque também ficou por conta de um modelo Westfalia 1971 dos Estados Unidos. David Paton deixou a California para dar uma volta no mundo no carro aproveitou a passagem pela cidade para participar do encontro.

Eduardo Gedrait é dono de uma Kombi 1958, considerada a mais antiga produzida no Brasil



Colecionadores de Belo Horizonte também ficaram marcados com o fim de produção do veículo e se uniram para criar um encontro na capital. O Clube da Kombi Belo Horizonte foi fundado em dezembro e já congrega 15 veículos. “ A notícia do fim da produção mexeu um pouco com o pessoal e o utilitário passou a ser mais frequente. Com isso, juntamos e resolvemos criar o clube da Kombi”, conta o presidente Amauri Lúcio de Oliveira, que também dirige o clube do Fusca.

Veja fotos do Clube da Kombi em Belo Horizonte!


O grupo que integra o Clube da Kombi é bem heterogeneo e reúne desde admiradores que possuem o veículo apenas para passeio no fim de semana até quem depende do carro para o trabalho. "Tudo que meu pai conseguiu, como casa e criar os filhos, foi através dela”, afirma o microempresário Igor Scalzo, dono de um modelo 1974.

Fim da produção motivou fãs a fundar o clube da Kombi em BH



Na Alemanha, o Fusca e a Kombi foram os destaques de uma exposição em homenagem ao Brasil no museu da Volkswagen, em Wolfsburg. A mostra "60 anos da Volkswagen do Brasil" exibiu  os modelos e tecnologias desenvolvidos pela subsidiária da marca alemã desde 1953. Uma Kombi Last Edition 2013 estava em destaque no local.


Na Alemanha, os modelos chamam-se Käfer (besouro) e Bulli. "Era assim que os "carros dos sonhos" dos brasileiros eram chamados nos anos 50. Neste quesito, eles tinham uma paixão em comum com os alemães", diz o site oficial do museu.

 

 

Com a bandeira do Brasil, primeira Kombi fabricada no país

História

Mecânica simples e robusta. Amplo espaço de carga e capacidade para até uma tonelada. Baixo preço de compra e manutenção barata. Esses sempre foram os argumentos de venda da Kombi, que reinou durante 56 anos no mercado brasileiro. O ideia do carro apareceu em 1947 com Ben Pon, holandês que possuia uma revenda da Volkswagen no país. A proposta é fazer um veículo de carga baseado no Fusca. A matriz gostou da ideia e colocou o projeto em prática.

1950 - Em tempo recorde, o projeto ficou pronto e o veículo começou a ser produzido em série. Chamava-se Volkswagen Transporter (ou T1), um furgão ou perua com três janelas nas laterais e bancos removíveis. A empresa utilizou o termo “kombinationsfahrzeug” ou “veículo de uso combinado” para descrevê-la. Daí surgiu o nome Kombi, utilizado no Brasil.

Ao contrário do que normalmente acontecia com veículos lançados na Europa e Estados Unidos, as primeiras Kombis chegaram no mesmo ano no Brasil. Um lote de duas Kombis e dez Fuscas foi importado pela Brasmotor, empresa que representava a VW no país, além da Chrysler. Foi um sucesso e os veículos foram vendidos pelo dobro do preço. A Kombi passou a ser importada e depois montada no Brasil.

1953 - A Volkswagen abriu a sua própria filial no Brasil e começou a montar os veículos, com as peças importadas da Alemanha. Enquanto a fábrica não ficava pronta, operava num galpão em São Paulo.



1957 - A primeira Kombi é fabricada no Brasil em 2 de setembro, com índice de nacionalização de 50%, percentual baseado no peso e não no número de peças. O veículo possuia motor boxer refrigerado a ar com 1.192 cm3 de cilindrada, torque de 5,6 kgfm a 2.000 rpm e potência máxima de 36 cavalos. O câmbio era de quatro marchas, com a primeira não sincronizada. A Kombi possuía setas na coluna, as chamadas ‘bananinhas’. A capacidade de carga era de 840 kg.

1960 - A Kombi é um dos destaques da Volkswagen no primeiro Salão do Automóvel de São Paulo. É lançada a versão seis portas, destinada a taxistas e hoteis. Também era oferecida a a versão Turismo, adaptada para camping, com direito a um toldo que era rebatido na lateral.

1961 - O veículo ganhou setas na dianteira, que ganharam outro apelido inusitado, ‘tetinhas’. A Kombi chegava aos 95% de nacionalização e a primeira marcha passou a ser sincronizada. O grande rival da ‘Velha Senhora’ era a Ford Rural, mas o furgão da Volkswagen era mais barato e deslanchou em vendas. De 1962 a 1966, o veículo ganhou alguns melhoramentos, como novas e maiores lanternas traseiras e setas ovais na dianteira. O vidro traseiro aumentou e a Kombi ganhou vidros nas quinas traseiras.

Em 1967, o veículo ganhou motor mais potente e surgiu a versão picape



1967 - Chegada do novo motor de 1500 cilindradas com 44 cavalos a 4.200 rpm e adoção do sistema elétrico mais moderno, de 12V. O carro melhorou um pouco a estabilidade com rodas de 14 polegadas. A capacidade de carga foi ampliada para uma tonelada. O ano marca ainda o lançamento da versão pick-up. Nos anos seguintes é oferecido um opcional para trafegar em terrenos difíceis, o bloqueio de diferencial. Em 1970, são incluídos cintos de segurança e extintor de incêndio.

1975  - A primeira grande restilização é lançada outubro, já como modelo 1976. A Kombi adota a frente do modelo Clipper alemão, que já era vendido na Europa desde 1968, mas sem as práticas portas de correr. O motor é melhorado, com um 1600 com 52 cavalos a 4.200 rpm. O torque era de 11,2kgfm a 2.600 rpm. Em 1978, o propulsor passa a ter dupla carburação.

Em 1975 é anunciada a segunda geração da Kombi



1981 - A Kombi ganha opção de motor a diesel refrigerado a água, com radiador preto na dianteira, disponível nas versões furgão e picape. O propulsor oferecia 50 cavalos de potência e 9,5 kgfm de torque O que seria uma solução econômica tornou-se uma grande dor de cabeça para os proprietários, com vários casos de motor fundido com menos de 100 mil quilômetros. A opção por motor a diesel foi descontinuada em 1985. No mesmo ano é lançada a versão cabine dupla da picape, com três portas.

No ano seguinte, é lançado o motor a álcool com 57 cavalos. A partir de 1983, mais equipamentos de segurança: freios a disco e cinto de três pontos no banco dianteiro. Em 1992 a Kombi ganha catalizador, para reduzir as emissões de CO2.

Kombi Carat tinha bancos em veludo, setas em cristal e lanternas traseiras escurecidas



1997 - A segunda geração brasileira chega em 1997, com teto mais alto e porta de correr, equiparando-se com o modelo da década de 70 na Europa. O novo formato aumentou em 11 cm o espaço interno e eliminou a divisória entre a cabine e a traseira do carro. As entradas de ar subiram da lateral para o final do vidro traseiro e a tampa do motor foi ampliada. Os pneus passaram a ser 185 R14, ganhando mais estabilidade.

A versão Luxo passou a se chamar Carat, com bancos de veludo e setas dianteiras com cristal branco e as traseiras escurecidas. No ano seguinte, o motor ganhou injeção eletrônica. Com baixa procura, foi extinta em 1999. A partir de 2000, a versão pick-up também saiu de linha e Volkswagen decidiu produzir a Kombi apenas na cor branca.

Kombi Série Prata 2005 - somente 200 unidades fabricadas



2005 - O ano é marcado por outra mudança radical: a Volkswagen anuncia o fim do motor refrigerado a ar. A Kombi era o único veículo do mundo que ainda contava com esse tipo de tecnologia. Os últimos propulsores eram boxer 1.6 com injeção multiponto, com 58 cv de potência a 4.200 rpm e torque de 11,3 kgfm já com 2.600 rpm. Para marcar o fim dessa era, é  lançada a Kombi Série Prata, com apenas 200 unidades fabricadas. O carro contava com vidros verdes, parabrisa degradê e setas escurecidas.

2006 - Última grande mudança técnica no veículo. A Kombi vira flex e adota o motor 1.4 EA-111, exclusivo no Brasil e utilizado apenas em versões de exportação do Fox. O motor tem potência de 80 cv aos 4.800 rpm e torque de 12,7 kgfm aos 3.500 quando abastecido com etanol. Agora a velocidade máxima chegava aos 130 km/h, mas o câmbio continuava manual de quatro marchas. O quadro de instrumentos também mudou, em estilo similar ao Fox.

Kombi Edição 50 anos foi lançada em 2007



2007 - A Kombi completa 50 anos de fabricação no Brasil e respondia por 7,2% das vendas de veículos comerciais no país. Para comemorar a data, é lançada a série especial 50 anos, com pintura saia e blusa nas cores vermelho e branco e com apenas cinquenta unidades numeradas, com placa de identificação no painel.

2013 - Último ano de fabricação da Kombi. É lançada a série especial Last Edition, com 1.200 unidades numeradas ao salgado preço de R$ 85 mil reais e diversos itens de personalização exclusivos. No dia 19 de dezembro, antes das férias coletivas, a última Kombi é fabricada na fábrica de Anchieta.

A hora do Adeus: Kombi Last Edition marca o fim da história do carro


Último beijo: Kombi não deixa sucessor direto no Brasil





Veja vídeo com a Kombi Last Edition:

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FUTURO

Verdadeiro ícone cultural, a Kombi ainda pernamece no imaginário dos fãs, mesmo em lugares onde ela já se despediu há décadas, como nos Estados Unidos e Europa. Em 2011, durante o Salão de Genebra, a Volkswagen apresentou o conceito Bulli, uma espécie de 'Kombi do futuro'. O modelo apresenta linhas retrôs que remetem diretamente ao projeto do holandês Ben Pon e pintura saia e blusa. A Bulli possui um motor elétrico capaz de gerar 115 cavalos e 27 kgfm de torque. Segundo a Volkswagen, o carro tem velocidade máxima de 140 km/h e faz de 0 a 100 km/h em 11,5 segundos.

O modelo agradou e chegou a ter a produção em série cogitada. A Bulli seria fabricada na planta de Puebla, no México, neste 2014. No entanto, com a crise do setor automotivo, a produção foi descartada pela Volkswagen em 2012. Segundo a marca, não há demanda suficiente na Europa e nos Estados Unidos.

Conceito Bulli foi apresentado em 2011, mas VW descarta produção em série