Longe de causar estranheza, os utilitários esportivos mais vendidos do Brasil são baseados sobre carros de passeio. O caminho para urbanidade é o mesmo que a Kia tomou na segunda geração do Sorento, que chega esta semana às concessionárias da marca. A orientação para o asfalto é definida na construção monobloco e na tração integral do tipo sob demanda. Mas fica patente no estilo cunhado por Peter Schreyer, chefe de estilo da Kia e ex-designer da Audi, que alinhou o utilitário ao atual estilo da marca, menos neutro e de personalidade definida.
A dianteira é marcada pela ampla grade em forma de "boca de tigre", assinatura da Kia, que forma junto com os faróis ascendentes um escudo frontal. Os faróis de neblina possuem um espaço geometricamente delimitado. No perfil se destacam a linha de cintura elevada e as colunas traseiras encorpadas, elementos que dão um ar de solidez germânica ao conjunto. A traseira é menos imaginativa e foi inspirada no Mohave, com lanternas chapadas que podem ser iluminadas por LEDs.
Reformas de base
A construção em monobloco e a falta da caixa reduzida permitiu cortar o peso em até 215 kg. O Sorento mede 4,68 metros, 9,5 cm a mais que o anterior, enquanto a altura de 1,71 m é 1,5 cm menor e o entre-eixos de 2,70 m marca 1 cm a menos. O SUV perdeu parte da valentia na altura do solo de 18,4 cm, contra 20,3 cm de antes, e nos ângulos: 25,1º de entrada, 23,1º de saída e 17,1º de rampa. Veja a galeria completa do novo Kia Sorento
Os motores transversais também são novos. O Sorento de entrada é movido pelo Theta II 2.4 16V com comando variável de válvulas de admissão e de escape, que entrega 174 cv de potência. O top se vale do V6 3.5 24V Lambda II (o mesmo do Hyundai Santa Fe) de 278 cv, com comandos igualmente variáveis. O câmbio é sempre automático sequencial de seis marchas. A tração é dianteira, mas há opção de transmissão integral sob demanda (repassa o torque para a traseira no caso de perda de tração), com bloqueio do diferencial para repartir a força igualmente entre os eixos.
Variações do mesmo tema
O Sorento chega apenas na versão EX, mas com diferentes configurações. O 2.4 16V parte de R$ 96.900 e já traz ar-condicionado digital, trio elétrico, revestimento interno em couro (nas cores preto, bege ou preto/marfim), volante multifuncional, sistema de som CD/MP3, sensor de luminosidade e de estacionamento traseiro, rodas de liga leve aro 18, e retrovisores escamoteáveis eletricamente, além de duplo airbag e freios ABS com EBD. Na opção sete lugares, o preço chega a R$ 115.900 ou R$ 120.900 pela versão 4X4, diferença na qual estão embutidos equipamentos extras.
O seis cilindros parte de R$ 119.900 com tração dianteira e chega a R$ 124.900 com tração integral, sempre com sete lugares, mas não está disponível em um primeiro momento. A mais que o quatro cilindros básico, as configurações de sete lugares e 4X4 do 2.4 16V e o V6 trazem retrovisor com tela da câmera traseira, teto solar panorâmico, banco do motorista elétrico, regulagem do ar-condicionado para terceira fileira, faróis de xenônio, além de controles eletrônicos de estabilidade e de tração (apenas no V6) e airbags laterais e do tipo cortina. Um pacote que se soma ao interior mais refinado, com desenho moderno e painel de instrumentos com três mostradores em separado.
Apostas pesadas
O novo Sorento tem a missão de reverter a sua sorte no mercado brasileiro, onde fica bem atrás de seus concorrentes diretos em volume. Em cinco anos, o Sorento registrou 5.882 unidades vendidas. Como comparação, o Chevrolet Captiva marcou 13.587 carros e o Honda CR-V 11.237 veículos, apenas este ano. Com argumentos como a imagem modernizada, tecnologia, conforto e o providencial apoio dado pelo crescimento das marcas sul-coreanas no país, o utilitário tem chances de ser bem-sucedido na tarefa, junto com o novo Sportage que chega em outubro ao país.
A marca aposta pesado no sucesso do novo Sorento. A começar pelo apontamento de seus concorrentes. No bojo estão modelos variados em estilo, performance, tamanho e preço. Entre eles modelos sofisticados como os Audi Q5, BMW X3, Volvo XC60; crossovers norte-americanos como o Dodge Journey e Ford Edge; utilitários como o Jeep Cherokee Sport e Land Rover Freelander 2; o conterrâneo Hyundai Santa Fe e o bem-sucedido mexicano Chevrolet Captiva. Ou seja, basicamente todo o mercado de utilitários médios.
A Kia pretende vender no período de junho a dezembro, sete meses, cerca de 4.200 unidades do Sorento, o que dá uma média de 600 carros por mês, com uma projeção de 70% para o modelo quatro cilindros e 30% para o V6. No mesmo período, a marca projeta que seus rivais vão vender no total 18 mil veículos, o que daria a Kia uma participação de 23,3% do segmento de médios. Para o Sportage, o importador aposta ainda mais alto e prediz que o carro venderá, no mínimo, 1.500 unidades mensais.
Impressões ao dirigir
Com os quatro pneus no asfalto
Guarulhos, São Paulo - O estilo é robusto. Os vincos emprestam agressividade ao conjunto de desenho rebuscado. Ou seja, tudo colabora em um pacote que promete um desempenho no mínimo valente no fora-de-estrada leve. Mas no primeiro contato da imprensa com o modelo, estava disponível apenas a versão EX 2.4 16V com tração dianteira. Com 174 cv de potência e 23 kgfm, o propulsor empurra bem os 1.720 kg do Sorento. Um mérito que recai mais sobre o ágil câmbio automático de seis marchas, com trocas sequenciais. A caixa é bem escalonada e oferece trocas ágeis, sem trancos ou hiatos. O suficiente para entregar acelerações e retomadas decididas, embora sem arroubos esportivos.
A 120 km/h em sexta marcha, o motor emite apenas um murmúrio, aquietado em mansos 2.500 giros. Mas basta imprimir mais pressão sobre o pedal direito para o câmbio reduzir para a quarta marcha, bem na faixa dos 5 mil giros em que o 2.4 faz notar a sua presença através de um ruído rouco no interior. Noutras situações, apenas o ruído dos pneus 235/60 que calçam as grandes rodas aro 18 é notado junto com o vento em faixas superiores a 100 km/h. O consumo medido durante o test-drive de 220 km foi de pouco encorajadores 6,9 km/l de gasolina.
A tração dianteira não atrapalha o bom desempenho dinâmico do Sorento, cujas suspensões independentes nas quatro rodas seguram bem o carro em transferências de pista e curvas de variadas velocidades e traçados. Tudo sem movimentos laterais ou oscilações. A direção é direta e não apresenta folgas. Basta esterçar para o Sorento obedecer de pronto, com uma confiança e precisão redobrada pela calibração mais rígida de molas e amortecedores, que não deixam o crossover inclinar em curvas ou embicar em excesso em frenagens.
O preço da estabilidade é descontado no conforto de rodagem. Não que o carro seja desconfortável em rodovias bem pavimentadas, mas em pisos deteriorados, o Sorento pula mais do que o desejado e alguns ruídos originados no forro do teto solar surgem. O interior bem cuidado conforta os passageiros neste momento. O espaço é bom nos assentos dianteiros e na segunda fileira. Mas os bancos traseiros são suplementares e não acomodam bem pessoas com mais de 1,70 metro de altura. O acabamento é correto. No painel é aplicado plástico corrugado, do tipo que não é macio ao toque, mas que agrada aos olhos. Os encaixes e arremates são precisos e só desapontam no estofamento em couro, cuja costura pespontada apresenta ligeiras imperfeições.
No mais, é fácil conviver com o Sorento. Os bancos largos possuem suporte lombar e lateral (elétricos nas configurações mais caras) e a ergonomia é facilitada pelo volante ajustável em altura e pelo posicionamento correto dos comandos. O grande teto solar colabora para uma impressão superior de requinte. Tudo para conquistar um público consumidor exigente e mudar a sorte do carro no mercado nacional, de uma pálida presença a uma posição de relevância no segmento.
o jornalista viajou a convite da Kia Motors do Brasil