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Justiça solta motorista

Juiz do 1º Tribunal do Júri aceita denúncia, suspende carteira de habilitação, mas manda libertar condutor responsável pelo acidente que matou cinco pessoas no Anel Rodoviário

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O carreteiro deixa o centro provisório de detenção acompanhado da esposa e do advogado

 

O carreteiro Leonardo Faria Hilário, de 24 anos, acusado pela morte de cinco pessoas, ao provocar uma sequência de batidas no Anel Rodoviário, foi beneficiado ontem com a liberdade provisória, depois de 17 dias atrás das grades, desde que foi autuado em flagrante por homicídio doloso. A decisão do juiz Guilherme Queiroz Lacerda, do 1º Tribunal do Júri de BH, foi anunciada no fim da tarde, quando também o magistrado acatou a denúncia do Ministério Público contra o motorista por homicídio e lesão corporal dolosos. O juiz determinou ainda que a carteira de habilitação do acusado fique suspensa até a conclusão do processo.


No começo da noite do dia 28, Leonardo Hilário dirigia a carreta bitrem Volvo placa AFL 4394, de Mundo Novo (MS), em alta velocidade na pista pela da esquerda do Anel Rodoviário de Belo Horizonte no Bairro Betânia, Oeste da capital, quando se deparou com vários carros retidos num afunilamento. A carreta bateu em 15 veículos e, além das cinco mortes, deixou 12 feridos, um deles uma menina de 4 anos, que está internada em estado grave. No dia seguinte, o carreteiro foi ouvido no Detran, seguindo para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristovão e transferido para o da Gameleira.

O advogado Geraldo Washington Batista, que defende o acusado, já havia entrado com pedido de liberdade provisória, que foi negado pela juíza substituta do Tribunal do Júri. Ele recorreu ao Tribunal de Justiça e também não foi atendido. “Já estava me preparando para recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, quando fiquei sabendo do retorno do juiz titular do Tribunal do Júri. Em audiência no fim da tarde, pedi que reconsiderasse o caso. Ele então entendeu que o cliente cumpria os requisitos legais para responder em liberdade”, explicou o defensor.

O promotor Edson Baeta, informou que vai recorrer da decisão do juiz. Ele acha que a prisão é pertinente, uma vez que, além da gravidade do crime, o fato causou clamor social, e a soltura provocaria desconfiança da população em relação à Justiça.

Em seu despacho, o juiz Guilherme Queiroz considerou que o motorista tem residência fixa, trabalho certo e é primário na prática de delitos. Ele explicou que a prisão não deve ser mantida apenas em face da gravidade do resultado do delito. “As evidências estão a indicar que não se está diante de um criminoso contumaz e perigoso, e sim de um trabalhador que acabou por se envolver em uma colisão de veículos de lastimáveis consequências”, ponderou. O juiz determinou que fosse expedido o alvará de soltura, com a ressalva de que Leonardo assume o compromisso de comparecimento a todos os demais atos processuais.

Guilherme Lacerda determinou também a suspensão da carteira de habilitação do acusado. “Não há, pelo menos por enquanto, qualquer possibilidade de que ele continue autorizado a circular livremente pelas ruas e estradas do país, em inequívoco risco para os demais transeuntes, na condução de automotores”, frisou. O advogado disse que vai recorrer da decisão.

TERRÍVEL A mulher do carreteiro, a costureira Adriana Flávia Lopes, de 23, foi ao Ceresp da Gameleira ontem à noite buscar o marido. Perguntada se achava justa a prisão de Leonardo, ela disse que não saberia explicar. Adriana afirmou que o marido é um profissional cuidadoso, mas que sempre demonstrava certo medo de que pudesse se envolver num acidente grave. “Quem está na estrada está sujeito a tudo que é de terrível”, explicou.