
No Dia Mundial do Consumidor, comemorado hoje, os consumidores que usam as mídias sociais para protestar ganharam um presente às avessas. O juiz Rudson Marcos, da 1ª Vara Cível de Concórdia, em Santa Cantarina, acatou pedido de liminar da Renault para que Daniely de Andrade Argenton retirasse da internet todos os recursos que utilizou para reclamar de um problema no seu Mégane Sedan 2.0. Caso ela não cumpra a determinação, que venceu às 0h desta terça-feira (15), pagará multa diária de R$ 100, estipulada pelo juiz.
No vídeo abaixo, a proprietária do carro conta o caso:
A decisão segue na contramão de muitas empresas que  criaram departamentos para monitorar as mídias sociais (Facebook, Orkut,  Twitter, Youtube) na tentativa de filtrar as queixas e diminuir o  estrago na imagem causado pelas reclamações que consumidores espalham na  internet. “A Renault não resolveu o defeito do carro e agora quer que  eu fique quieta. Meu direito de reclamar tem que ser preservado”,  lamenta Daniely. 
A consumidora comprou o carro em fevereiro de  2007. De acordo com ela, o veículo apresentava falhas, principalmente no  sistema de ignição, o que levava o motor a apagar em diversas  situações. Na análise de Daniely, o defeito expunha ela e a família a  uma série de riscos, principalmente se ocorresse em um momento de  ultrapassagem, por exemplo. 
O carro foi utilizado por Daniely  durante 22 dias e levado diversas vezes até a assistência técnica  autorizada da Renault. Além disso, a consumidora acrescenta que fez  centenas de ligações para o serviço de atendimento, todas sem sucesso.  Depois de não conseguir solucionar o problema via Serviço de Atendimento  ao Consumidor (SAC) da montadora, acionou a empresa judicialmente. No  processo que move contra a marca francesa, a consumidora pede que a  fabricante declare a segurança do carro, troque o modelo ou devolva o  dinheiro. O veículo também foi submetido a uma perícia técnica, que  constatou o problema. 
Daniely chegou a receber o Mégane da  concessionária Renault De Marco, de Joaçaba, também em Santa Catarina,  com o atestado de que não tinha mais defeitos. Porém, o veículo voltou a  apresentar os mesmos problemas. “Deixei de utilizar o carro porque não  tinha condições de uso, pelos riscos que as falhas poderiam me  ocasionar, e novamente interpelei judicialmente a Renault”, relata no  site (www.meucarrofalha.com.br). 
Além do site, Daniely criou uma  página no Facebook, um perfil no Twitter e produziu vídeos que postou no  Youtube. Todas as mídias sociais, cada vez mais usadas para reclamações  de consumidores, motivaram centenas de comentários que, aliás,  sustentaram a decisão do juiz. Na sentença, Rudson Marcos escreve que as  informações do site não passam de “exposição escrita e oral dos fatos  experimentados, sem que esteja ela emitindo juízo de valor ou  inverdade”. Porém, o magistrado complementa: “Que o ânimo ofensivo surge  apenas quando a divulgação extravasa a informação, trazendo  manifestação sem ligação direta com o fato narrado ou quando expressa  crítica desarrazoada, revelando o intuito claro de atingir o decoro, a  dignidade ou a reputação de quem esteja relacionado ao fato noticiado”.  Foi o que motivou o deferimento do pedido de liminar. 
	
	
Reconciliação  A Renault, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a  liminar para a retirada do site e das mídias sociais foi pedida porque a  consumidora estava tratando da questão judicialmente. A montadora  ressaltou que Daniely não era a primeira proprietária do veículo, porém,  ela contra-argumenta, afirmando que o veículo ainda estava no período  de garantia, de dois anos contados a partir da data da compra. 
Além  disso, a montadora francesa, que tem uma fábrica no Paraná, manifestou  que o objetivo era resolver a questão judicialmente, mas que foi  “surpreendida” pela ação de Daniely nas mídias sociais e na internet e  que a liminar foi um instrumento jurídico. 
Entretanto, após o  contato de nossa reportagem, a Renault ligou para Daniely na tentativa de  marcar uma reconciliação para quarta-feira. “Vou escutar o que a empresa tem a  dizer, pois o que queria era realmente ser ouvida. Espero que resolvam  meu problema e se comprometam a respeitar seus clientes, de maneira que  nunca fui respeitada”, afirma Daniely. 
	
                                
