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Indústria do transporte aéreo doméstico sempre foi uma sanfona

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Diante da competição acirrada, a Vasp fechou em 2004


Quem se debruçou sobre o comportamento histórico da nossa indústria de transporte aéreo doméstico já deve ter concluído que ela se comporta como uma sanfona.

Fora a atitude de alguns idealistas, nos momentos promissores os empresários se lançam no mercado e o número de empresas aumenta de forma descontrolada. A grande maioria não suporta a carga e o fole da sanfona volta a se fechar.

A indústria do transporte aéreo doméstico teve início em 1927, com a constituição da Varig. Na mesma época, foi criado o Sindicato Condor, que deu origem ao Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. Em 1929, passou a operar no Brasil a NYRBA (Nova York/Buenos Aires), que se transformou na Panair do Brasil. Até 1942, ela pertenceu ao operador americano Pan Air.

Em 1933, empresários paulistas criaram a Viação Aérea São Paulo (Vasp).

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a facilidade de adquirir aeronaves era tamanha que um grande número de empresas se formou: a Navegação Aérea Brasileira (NAB), a Aerovias Brasil, a Linhas Aéreas Paulistas (LAP), a Viação Aérea Santos Dumont (Vasd), a Linhas Aéreas Brasileiras (LAB), a Viação Aérea Gaúcha, a Real Transportes Aéreos e a Lóide Aéreo Nacional.

Nos anos 1950, também surgiram outras empresas, incluindo a Sadia (em 1956), que depois mudou a sua razão social para Transbrasil.

O fole estava por demais estendido e o processo foi expurgando as empresas de menor capacidade. Nos anos 1960, começou o encolhimento. Muitas empresas faliram ou foram absorvidas por outras. No início daquela década permaneceram Varig, Cruzeiro do Sul, Panair do Brasil, Vasp e Sadia. Em 1965, a Panair perdeu a sua certificação.

Como essas empresas não davam conta da grande malha que já fora atendida, surgiram as empresas aéreas regionais. A partir de 1975, começaram a operar a Nordeste, Rio-Sul, Taba, TAM e Votec. Destas, só restou a TAM, que iniciou um novo ciclo de encolhimento.

Criada em 1976, a TAM deu o seu grande salto na década de 1990, sabendo explorar a aeronave Fokker 100. Com um serviço de alta qualidade, aliado a uma estratégia ousada e criticada, ela passou a competir com as empresas domésticas. A empresa que mais sentiu a sua entrada em serviço foi a Vasp, que deixou o cenário em 2004. Em 1996, foi criada a TAM Linhas Aéreas.

Naquela época, outras empresas regionais foram criadas, como a Total (em 1996), a Trip (1998) e a Passaredo (1995).

A Varig, que já havia incorporado outras empresas, inclusive a Cruzeiro do Sul, também sentiu o efeito da estratégia da TAM.

Em 2001, entra no mercado uma nova ideia em transporte aéreo e a Gol trouxe dias piores para as empresas remanescentes. Naquele ano, a Transbrasil deixou de operar.

Ficaram remanescentes a Varig, que cambaleava, a TAM, a Gol e outras empresas regionais e domésticas de menor porte.

Ingressamos então no período do duopólio. A TAM e a Gol batiam forte nas empresas que ingressavam no mercado. A Webjet (criada em 2005) e a Ocean Air (hoje Avianca) sofreram com as políticas de preço das duas maiores.

A Varig jogou a toalha em 2007, e foi incorporada pela Gol.

Em 2008, ingressou no cenário a Azul, que trouxe uma cultura de operações eficientes no exterior.

Entre as de maior porte, a indústria passou a ter TAM, Gol, Webjet, Avianca, Azul eTrip.

Para combater o monopólio, bastava mais uma empresa que desejasse ser de grande porte. Este não era o caso da Webjet, que acabou sendo incoporada pela Gol neste ano. E também parece não ser o da Avianca, que demonstra ter o seu foco mais voltado para o exterior, pretendendo inclusive adquirir a TAP Portugal.

No encolhimento do fole, vemos a Azul incorporar a Trip e, ao que parece, disponta a terceira empresa com vocação de ser grande.

Neste fechar do fole, segue a nossa indústria de transporte aéreo tocando a sua toada, até que novas oportunidades (preço justo do combustível, preço justo das tarifas aeroportuárias e de navegação e câmbio mais favorável) permitam a sua extensão.

Birutinhas

MALDADE

A medida provisória que permitiu a desoneração da folha de pagamento incluiu uma gama de serviços voltados ao transporte aéreo. Talvez por maldade, ela deixou de englobar o serviço de táxi aéreo, tão necessário para aumentar o número de cidades atendidas e para a formação de bons pilotos para o transporte aéreo regular. A visão de que os jatinhos atendem apenas a “elite” é equivocada e precisa
ser corrigida.

NBAA
A National Business Aviation Association (NBAA), sediada em Washington, nos Estados Unidos, vai promover a 65ª edição de sua feira, que começa na terça-feira e termina em 1° de novembro, na cidade de Orlando, na Flórida. As empresas brasileiras Líder Aviação e Embraer estarão entre os expositores. A NBAA representa mais de 9 mil empresas e oferece mais de 100 produtos e serviços ao segmento.

ENTREGAS
No terceiro trimestre deste ano, a Embraer entregou 27 jatos para o mercado de aviação comercial e 13 para o de aviação executiva. O total de entregas até o fim do terceiro trimestre atingiu 83 jatos comerciais e 46 jatos executivos, sete a mais do que as entregas do mesmo período de 2011. A carteira de pedidos firmes dos jatos comerciais, em 30 de setembro, incluía 1.063 aeronaves.

RECLAMO
A incorporação da Trip à Azul gerou um problema para os barrageiros de Minas Gerais. A tradição dos homens de Minas que se dedicam à construção de hidrelétricas deveria merecer mais atenção dos administradores da Azul, que cancelaram o voo direto do aeroporto de Confins ao aeroporto de Porto Velho (RO). Como o voo sempre apresentou uma taxa de ocupação boa e um preço adequado ao bolso dos barrageiros, é de se esperar que a empresa elimine os pousos no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e Brasília (DF).

AVIADOR
No dia 23 foi comemorado o Dia do Aviador. Trata-se de um dos profissionais que mais transgridem a lei. A cada decolagem, a transgressão à lei da gravidade é real e fantástica.