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Impostos: Brasileiro paga mais caro

Mesmo importado do Brasil, um Uno na Argentina custa R$ 7 mil a menos que no mercado nacional. Economista atribui essa diferença à margem de lucro e impostos praticados aqui

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Se no futebol a peleja é dura, na hora de comprar um carro os brasileiros não conseguem se sobressair aos argentinos. Imagine que, para comprar um Palio 1.4, nossos rivais precisam desembolsar 40.100 pesos argentinos (o correspondente a R$ 18 mil), enquanto nós pagamos suados R$ 34 mil. Se o preço do Uno 1.0 já nos agrada (R$ 22.560), imagine a cara de um argentino saindo da concessionária com um Uno 1.3 (pois eles não têm a opção do 1.0), tendo deixado apenas 34.200 pesos (não mais que R$ 15.500).

E por que tamanha diferença de preço para produtos tão semelhantes, já que os modelos citados, mesmo os vendidos na Argentina, são fabricados aqui? De acordo com o economista Francisco Barone, professor da Fundação Getulio Vargas, no Brasil os carros são mais caros do que em vários lugares do mundo devido à carga tributária e margem de lucro elevadas.

Ele conta que, mesmo com a concorrência, os fabricantes nacionais podem praticar essa política de preços porque seria muito caro importar um veículo de outro país. A Fiat justifica dizendo que a diferença de preços acontece devido à diferença de impostos e política comercial, que muda em função das características e momento de cada mercado. A fábrica de Betim alega ainda que os custos de operação e logística para esses países são diferentes.

Impostos

Mas a carga tributária argentina não é muito diferente da nossa: 27% do valor de compra (dado fornecido pela Fiat). Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), sem considerar a redução do IPI, cenário previsto para o começo de 2010, a porcentagem de impostos no Brasil é de 27,1% para os veículos com motor 1.0, 30,4% (gasolina) e 29,2% (álcool e flex) para a faixa acima de 1.0 e até 2.0, e de 36,4% (gasolina) e de 33,1% (álcool e flex) para os veículos com motores acima de 2.0.

Os impostos referentes à compra de um carro no Brasil são: 12% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); 11,6% do Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que, sem considerar a redução, é de 7% para os veículos com motor 1.0, 13% (gasolina) e 11% (álcool e flex) para os veículos acima dessa faixa até 2.0, e 25% (gasolina) e 18% (álcool e flex) para os carros acima de 2.0.

Desenvolvidos

O economista Flávio Constantino Barbosa conta que a carga tributária nos países desenvolvidos varia entre 5% e 12%. Dados da Anfavea mostram a carga tributária alguns desses países: 6,1% nos Estados Unidos, 9,1% no Japão, 16,4% na França e 16,7% na Alemanha. Esses valores mostram que, enquanto em países como os Estados Unidos o imposto é baixo para os carros de qualquer motorização, no Brasil os veículos acima de 2.0 litros têm a carga tributária próxima dos 40%.

?Nesses mercados, a intenção é comercializar mais produtos e obter o ganho em escala?, explica Barbosa. Para o economista, o acordo automotivo entre os países do Mercosul (que inclui o México), que prevê a isenção da tarifa de importação, serviu para que o mercado brasileiro tivesse acesso a produtos mais modernos, aumentando a competição e forçando a indústria nacional a oferecer produtos similares a preços melhores.

Importados

Para ter uma ideia, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), para importar um carro de um país que não pertence a esse acordo é aplicada uma alíquota de 35% em cima do valor do veículo, do transporte e do seguro contratado. Quando o veículo chega ao Brasil, essa quantia é convertida em reais e, sobre esse novo valor, recaem os mesmos impostos aplicados aos veículos fabricados no Brasil (IPI, ICMS, PIS e Cofins).

Só a título de comparação, o pequenino Smart Fortwo, que é vendido aqui por R$ 57.900, é comercializado na Europa por 9.990 euros. Convertido em reais, esse valor fica em torno de R$ 26 mil, o suficiente para comprar um Celta, um Palio antigo ou um Gol antigo sem quase nenhum opcional. Já para comprar um Mini Cooper S na Inglaterra é preciso desembolsar 17.075 libras, que correspondem a aproximadamente R$ 50 mil, o suficiente para comprar por aqui um EcoSport ou um Vectra básicos. No Brasil, o modelo charmoso é vendido por R$ 119.500.