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Hyundai HB - Gol e Palio: estou chegando

Compacto, moderno, bonito, com boa mecânica e adequado para o país. Essas foram as impressões do protótipo do primeiro carro a ser construído pela Hyundai no Brasil

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Foto:

*De Namyang - Coreia do Sul

O compacto da Hyundai foi projetado na Coréia do Sul especificamente para o mercado brasileiro


A marca Hyundai quer se instalar definitivamente no país e, para isso, está investindo numa fábrica em Piracicaba (SP). Ela pretende iniciar, em novembro de 2012, a produção de um carro compacto para concorrer na faixa do Gol e do Palio, projetado na Coreia do Sul especificamente para o mercado brasileiro.

O carro por enquanto só tem nome de projeto (HB, de Hyundai Brasil) e a primeira ideia da Hyundai Motors Brasil foi batizá-lo de “Samba”, mas o nome já foi registrado pelo governo do Rio de Janeiro. Alguns jornalistas brasileiros convidados pela fábrica para conhecê-lo na Coreia foram apresentados ao HB num salão da empresa, sem disfarces. Logo depois, num grande pátio asfaltado, permitiram uma voltinha em alguns modelos experimentais e camuflados. Só desses foram autorizadas fotos e filmagens. O estilo surpreende pela modernidade e deixa VW Gol e Fiat Palio com jeitão de obsoletos.

A fábrica não deixou fotografar o carro sem disfarce, mas essa projeção revela com precisão as linhas do HB

Quadradão No pequeno espaço destinado ao “test-drive” não foi possível uma avaliação objetiva do “HB”. Mesmo assim, mais interessados que os jornalistas no carrinho estavam os engenheiros da Hyundai, que bombardeavam os jornalistas para extrair nossa opinião. Que foi positiva, dentro dos limites do “quadradão asfaltado” onde dirigimos tanto o carro com motor 1.0 (câmbio manual) como os 1.6 (manual e automático de quatro marchas).

As motorizações são flex e já conhecidas no Brasil: o 1.0 é o mesmo três cilindros do Kia Picanto (80cv com etanol), o 1.6 equipa o Soul e desenvolve 128cv. Claro que o motor 1.0 deixa a desejar em baixas rotações e o torque só aparece com alguma gritaria vinda sob o capô. Já o 1.6 é mais esperto, o peso do carro ajuda, mas o câmbio de apenas quatro marchas prejudica o desempenho. Por serem protótipos, tanto os ruídos como outras deficiências poderão ser corrigidas na versão final do carro. A suspensão passou a ideia de estar bem adequada às “nossas condições”, nem muito molenga nem excessivamente rígida. Do que foi possível perceber, seu acabamento é razoável, mas sem jeito de levar vantagem sobre a concorrência no Brasil. O tamanho do porta-malas faz lembrar o do novo Palio e o espaço interno é razoável apenas na frente. O projeto não se aproveitou do teto alto para oferecer um espaço mais generoso às pernas dos passageiros do banco traseiro. A Hyundai não forneceu as medidas do HB, mas seu comprimento é próximo ao dos concorrentes Palio e Gol.

O Hyundai brasileiro

O teto é elevado, facilitando a vida dos mais altos no banco traseiro, mas os joelhos sofrem um certo aperto

Em abril de 2011, a Hyundai começou a construção de sua fábrica em Piracicaba. A previsão dos coreanos é que ela inicie a produção do HB em novembro do ano que vem. Sua capacidade inicial é de 150 mil unidades anuais. Depois do hatch, a empresa confirmou a produção de mais dois modelos sobre a mesma plataforma: um sedã e um utilitário, um pequeno “jipinho” tipo CrossFox, com lançamentos entre 2013 e 2014.

A Hyundai não explica como será a distribuição do HB, pois as concessionárias da marca pertencem ou estão ligadas ao grupo Caoa. Mas confirmou que vai implantar uma empresa de logística do grupo (Glovis) para aperfeiçoar o atendimento de reposição de peças, considerado deficiente no Brasil. A diretoria da empresa na Coreia do Sul não revelou como será exatamente a transição entre a operação de importação (Caoa) e a da própria fábrica. Nem qual será o destino da planta de Anápolis (Goiás), de propriedade do grupo Caoa e que produz dois modelos da marca (ver box).

O polêmico "Dr Caoa"

O Hyundai de Piracicaba terá motores flex 1.0 e 1.6, idênticos aos que equipam os Kias Picanto e Soul

O grupo Caoa é comandado por Carlos Alberto de Oliveira Andrade, um médico de Campina Grande (Paraíba) que entrou (por acaso) para o ramo dos automóveis ao comprar a concessionária Ford de sua cidade, na década de 1970. Foi incorporando outras revendas da marca no Nordeste, depois em São Paulo e acabou dono de uma das maiores redes da marca no mundo.

Com a abertura das importações, em 1990, tornou-se representante da Renault até que a própria marca se estabeleceu no Brasil, em 1999, com uma fábrica no Paraná. O grupo Caoa entregou a operação para os franceses num processo difícil e permeado de ações judiciais. O dr. Carlos Alberto decidiu então assumir a importação de duas marcas asiáticas, a coreana Hyundai e a japonesa Subaru. Além disso, construiu uma fábrica – sob licença da Hyundai – em Anápolis (GO), onde produz o antigo utilitário Tucson e o pequeno caminhão HR.

A marca Hyundai explodiu em crescimento no Brasil sob a batuta do grupo Caoa, que investiu pesado em publicidade (tornou-se o maior anunciante do país, só perdendo em verbas publicitárias para as Casas Bahia) e na rede de concessionárias. A marca coreana, apesar de ser essencialmente uma importadora, está em sexto lugar no ranking nacional, à frente de francesas e japonesas com fábrica local.

O HB será apresentado no Salão do Automóvel em outubro de 2012 e a produção começa em novembro

Além do talento comercial do “dr. Caoa”, a qualidade da marca coreana foi essencial nesse sucesso: nos últimos 10 anos, os automóveis Hyundai ganharam extrema qualidade e espaço em todo o mundo, ameaçando marcas japonesas e europeias de prestígio. E ainda ganha economia de escala e reforça seu volume de vendas por deter a também coreana Kia, com quem divide plataformas mecânicas. Seu importador para o Brasil é o grupo Gandini, de Itu (SP).
A briga do grupo contra a Renault corre risco de se repetir com a Hyundai, que também constrói fábrica no Brasil. O “dr. Caoa” está se fortalecendo como distribuidor da marca: ele já tinha quase todas as concessionárias na capital paulista, algumas no interior de São Paulo e partiu recentemente para construir ou comprar outras no país, em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e outras cidades.

Se em termos mercadológicos o grupo Caoa é extremamente agressivo e bem-sucedido, ele vive esbarrando com o Conar (que regula a ética da propaganda), tantas são as inverdades de seus anúncios. Já foi obrigado a tirar do ar algumas de suas campanhas publicitárias e, em 2010, foi “premiado” por esse caderno com o troféu “Pinóquio de Ouro”. Outro problema da marca é a assistência técnica: são constantes as reclamações de clientes em relação à falta de peças e à qualidade de atendimento das oficinas. Prevendo que, mais dia menos dia, terá de entregar as operações da Hyundai de volta para os coreanos (até porque seu contrato expira em 2018), o esperto dr. Caoa já está negociando a importação de uma marca chinesa. Ele não confirma, mas deverá ser a Great Wall.

*Viajou a convite da Hyundai Motor Brasil