Foi em meados de 1990, portanto há 20 anos, que começaram a pipocar pelas páginas dos jornais brasileiros alguns anúncios de veículos importados. "Mitsubishi - um carro de outro mundo", dizia um reclame a respeito do Eclipse. Outra publicidade convocava o comprador para reservar um Honda Accord, ressaltando como atributos os freios ABS, computador de bordo e injeção direta de combustível. Já a Eurocar anunciava que havia recebido os primeiros carros da Lada. Bem humorada, uma das propagandas da empresa afirmava: "já que está russo, compre um Lada". Ainda estavam à venda modelos como a Alfa Romeo 164 (importada pela Fiat) e o Lumina.
Essa invasão estrangeira só foi possível graças à liberação da importação de automóveis feita durante o governo do então presidente Fernando Collor. Ficou famosa a declaração feita por ele de que os carros brasileiros eram verdadeiras carroças. De acordo com o economista Ário de Andrade, professor da PUC Minas, como a intenção do governo era modernizar o país, a medida foi tomada para forçar a competitividade no setor automotivo que, devido à reserva de mercado, andava bastante acomodado.
Fato é que, com uma alíquota de importação inicial de 85%, os importados não forçaram a redução de preços dos automóveis nacionais. Uma matéria publicada por Veículos em 20 de fevereiro de 1991 mostrava que, mesmo com a redução da alíquota para 60%, apenas os carros da Lada é que tinham condições para concorrer com os veículos nacionais. Mas, de acordo com o economista, nos primeiros cinco anos de abertura, o preço dos automóveis caiu em média 60%.
PROTEÇÃO
Em 1994, a alíquota de importação atingiu o seu ponto mais baixo, 20%, tornando o mercado bastante competitivo. A estabilização da economia, com o dólar barato e a maior oferta de crédito, contribuía para piorar esse cenário para os fabricantes nacionais. Mas a alegria dos importados não duraria muito, já que poucos meses depois essa alíquota subiria para 70%. Essa medida chegou a quebrar alguns importadores.
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Outra medida tomada nessa época foi o incentivo fiscal aos veículos populares, que colaborou com as empresas nacionais. Atualmente, a alíquota de importação é de 35%. De acordo com Ário de Andrade, é importante encontrar um equilíbrio nesse valor, já que uma alíquota muito reduzida pode atrair produtos de baixa qualidade (que entrariam no mercado a preços muito baixos), provocando desequilíbrio da balança comercial e redução dos empregos no setor.
INTERESSE
No começo das importações, com exceção da Honda e da Toyota que traziam diretamente seus produtos para o Brasil, as marcas que entravam no nosso mercado tinham um representante nacional. Por volta de 1995, explica José Luiz Gandini, presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), as marcas foram se interessando em vender diretamente no Brasil. Atualmente, poucas marcas trabalham com um representante. Esse parece ser um procedimento comum entre as marcas recém-chegadas ao mercado, como os chineses que são representados por grupo brasileiro.
NOVAS MARCAS
Em 1990 o Brasil tinha quatro marcas principais que fabricavam automóveis: Ford, Chevrolet, Volkswagen e Fiat. Atualmente, 13 grandes marcas produzem carros por aqui: Chevrolet, Citroën, Fiat, Ford, Honda, Hyundai, Mercedes-Benz, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Renault, Toyota, e Volkswagen. O interesse em instalar fábricas no Brasil se deu a partir de 1996. Deste ano até 1999, nada menos que dez filiados à Abeiva passaram a produzir veículos no mercado nacional.