Entre os 10 veículos mais emplacados na primeira quinzena deste mês, apenas três são sedãs. O ranking ? num país em que os veículos mais vendidos são os de menor preço ? é resultado de outra premissa: no segmento dos automóveis compactos, quando comparados os mesmos carros, os hatches ganham com folga dos irmãos três volumes (sedã). A história muda, porém, quando se chega ao segmento dos médios: juntos, os sedãs vendem, a mais, cerca de 40 mil unidades do que a soma dos haches. As preferências podem ser consequência de fatores como preço, design, tamanho do porta-malas e até sensação de status. Mas como interferem no momento da compra?
Compactos
"O sedã é para quem tem família. Dificilmente vai chegar aqui na loja um solteiro querendo um sedã", avalia o gerente de vendas da concessionária VW Garra, Maurício Turquia, acrescentando que a preferência pelo hatch se dá muito mais em virtude do próprio design do que do preço. "Muitas vezes fazemos promoções em que o preço do Voyage se iguala ao do Gol, mas mesmo assim a escolha é pelo Gol", continua. O Gol, carro mais emplacado do Brasil, vende três vezes mais do que o irmão Voyage. Já no caso do Polo, classificado como compacto premium, a vantagem, embora bem pequena, é do modelo sedã (veja quadros).
Mas o supervisor de vendas da Ford BHFor, Murilo Gonçalves Teixeira, acredita que o preço tem, sim, influência. "Quando é o primeiro carro, as pessoas olham muito o preço. Às vezes, mesmo tendo filho, se for um só, preferem o hatch e deixam a troca por um sedã para depois. A diferença é que, nesse caso, mostramos que o Fiesta é mais interessante do que o Ka, por ter quatro portas, o que facilita colocar a cadeirinha do bebê", observa. De maneira geral, entretanto, Murilo concorda com Turquia: "Pelo que temos acompanhado, o cliente que é casado, tem família e viaja muito prefere o sedã; enquanto o solteiro quer um hatch para ir para a balada e chamar mais a atenção".
Outro indício de que o preço exerce certa influência na escolha está no sucesso de vendas do Chevrolet Corsa Sedan Classic. Lançado em 1995, o carro se mantém entre os 10 mais vendidos e disputa lugar, unidade a unidade, com o Prisma. "O Classic tem excelente custo/benefício. É um sedã com bom porta-malas e de preço baixo. Excelente para quem tem família", afirma o gerente comercial da Jorlan Chevrolet, Jorge Haddad Júnior.
Estabilizados
Mas Haddad também acredita que, sem a necessidade do porta-malas, o jovem prefere a carroceria hatch; enquanto, a partir de certa idade, especialmente dos 35 ou 40 anos, a opção passa a ser pelo sedã. "Aí já não é nem tanto pela família, pois os filhos já estão grandes e muitas vezes nem viajam mais com os pais, mas pelo gosto mesmo. O design de um carro mais clássico, mais tradicional atrai", diz.
O gerente de vendas da Peugeot Bordeaux, Francisco Albuquerque Neto, concorda e acrescenta que a preferência pelo sedã, especialmente no segmento dos médios, também é influenciada pela marca. "Em algumas, como as japonesas, os sedãs pegaram. Mas nem Honda, nem Toyota têm o hacth equivalente para se fazer a comparação", lembra. ?O hatch dá ideia de mais esportivo, mais jovial, é fácil de estacionar; enquanto o sedã é mais família, mais clássico. Quando o cliente é mais jovem e não tem família, não quer o sedã de jeito nenhum."
Concorrente de peso na disputa acirrada com o Toyota Corolla pelo primeiro lugar entre os sedãs médios, o Honda Civic, cujo porta-malas está longe de ser um atrativo, caiu no gosto do consumidor, inclusive jovem, já que seu design foge ao padrão clássico de definição dos sedãs. "Quando o Civic foi lançado, havia reclamações em relação ao porta-malas. Mas hoje é raro, entre clientes desse segmento, quem faz viagens longas de carro. Então eu digo: porta-malas define a compra? Depende do que a pessoa espera do carro", resume o gerente de vendas da Honda Supertec, Urias Borges.
Tendência
Entre as marcas que oferecem as duas opções, a Citroën, no acumulado do ano, registra mais vendas do sedã C4 Pallas do que do modelo hatch. Mês passado e primeira quinzena deste, no entanto, as vendas do hatch foram maiores. E é esta a tendência, segundo a assessoria de imprensa da marca, que informa uma expectativa de vendas de 1,5 mil Pallas por mês, contra de 1,5 mil a 2 mil do hatch. Chama-se a atenção para a existência de motor 1.6 apenas para a versão hatch (com preço inferior) e que representa 70% das vendas entre as unidades comercializadas dessa carroceria.
A assessoria da Citroën destaca, ainda, para uma tendência de mercado, em que se observa crescimento nas vendas dos sedãs compactos 1.0 e de motorização superior a 1.0 em contraposição a uma queda de mercado dos sedãs médios, justamente o segmento em que há maior crescimento na comercialização de hatches. Dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), de 2008 (janeiro a outubro) para 2009, registram para os compactos 1.0: crescimento de 38,52% entre os sedãs e de 5,55% entre os hatches; compactos com motorização superior a 1.0: crescimento de 23,84% entre os sedãs e queda de 10,27% entre os hatches; médios: alta de 4,19% entre os sedãs e de 9,21% entre os hatches.