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Grávidas ao volante - Condução assumida por dois

Especialistas indicam modo de usar cinto de segurança e desmistificam medo de airbag. Não havendo contraindicação médica, futuras mamães podem dirigir sem restrições

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No caso do cinto de três pontos, a fita abdominal deve passar por baixo da barriga

No oitavo mês de gravidez, a arquiteta Flávia Resende Franco nem pensa em abandonar o volante. "Minha mãe, às vezes, fica preocupada, mas falo que me sinto segura. Não senti limitação nenhuma", garante a arquiteta, que acredita que a mobilidade é também beneficiada pela prática de exercício físico, durante a gravidez. O mesmo sente a empresária Marta Bueno, também no oitavo mês. Depois de grávida, ela chegou a encarar, inclusive, duas viagens ao volante, uma delas sozinha. "Acho que estou até mais cuidadosa, exercendo uma direção mais defensiva. Antes era mais ousada, agora a precaução aumentou", observa.

Realmente, de acordo com a ginecologista Márcia Rovena de Oliveira, referência técnica em saúde da mulher, da Secretaria de Estado da Saúde, se a mulher já está habituada a dirigir, e não existe nenhuma complicação clínica decorrente da gravidez, pode dirigir até a última semana. Ela, no entanto, acrescenta que, como no trânsito há um risco natural de maior exposição da mulher, é interessante, nos últimos três meses, evitar os momentos de trânsito mais intenso.

Já a diretora da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, Cláudia Lourdes Soares Laranjeira, recomenda aposentar o volante no último mês. "Com a barriga grande, a mulher perde a mobilidade no trânsito", diz. "Também pode haver certa desatenção. Neurologistas falam que os reflexos podem estar diminuídos. Então recomendo que a direção seja evitada, principalmente à noite e em viagens longas", completa. Com relação aos trajetos curtos, ela considera a possibilidade, desde que a gestante esteja se sentindo bem.

CINTO
Embora algumas gestantes reclamem de desconforto, as médicas são enfáticas em relação ao cinto de segurança. "É fundamental o uso do cinto, que reduz complicação grave em caso de acidente. E há a maneira correta de usar (veja quadro e foto)", afirma Márcia Rovena. O diretor de segurança veicular da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Harley Bueno, acrescenta que, além de nunca dispensar o cinto, é importante que não haja nenhum tipo de folga. "O uso do cinto é lei. E isso é válido não só para grávidas, mas para qualquer pessoa. E não pode estar frouxo, pois em caso de colisão, causa um efeito elástico, resultando no dobro da carga", explica.

O assunto, inclusive, foi alvo de estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), e resultou num projeto de diretrizes para o uso do cinto de segurança durante a gravidez. Conforme o estudo, "durante a gravidez, os acidentes de trânsito constituem-se na etiologia mais frequente de mecanismo de trauma, de hospitalização e a principal causa de óbito fetal relacionada a trauma materno". Mas "as mães que usam cinto de segurança sofrem menos ferimentos do que aquelas que não usam, reduzindo o risco". Ainda de acordo com a Abramet, as mulheres grávidas que não usam cinto de segurança, quando envolvidas em acidentes, apresentam maior probabilidade de gerar filhos com baixo peso ao nascimento e partos 48 horas depois do acidente. Também dobra o risco de hemorragias no parto, além do aumento do risco, em 2,8 vezes, de morte do feto. O projeto também explica a maneira correta de a gestante colocar o cinto (veja quadro e fotos).

AIRBAG

Há alguns anos, quando os airbags ainda eram raridade nos veículos, Cláudia Laranjeira lembra que havia dúvidas com relação a prováveis traumatismos no bebê, o que gerou certo medo em relação à condução (ou mesmo uso como passageira) de carros com airbag. Mas a médica esclarece que não existe nenhum estudo afirmando que a abertura do airbag possa causar problemas à gravidez. "Não precisa desativar os airbags", garante.

O engenheiro Sérgio Ricardo Fabiano, membro do Comitê de Veículos Leves, da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), concorda: "O airbag não faz mal à gestante. Nunca vi nenhuma recomendação de fabricante". O importante, segundo ele, é manter uma distância de 15 cm a 20 cm do volante para, em caso de acidente, não forçar a barriga. E de, no mínimo, 20 cm do painel, quando a gestante estiver no banco do passageiro: "Não existe recomendação de desativar o airbag. Pelo contrário, em caso de acidente, a chance de o airbag ? claro que associado ao cinto de segurança ? salvar é muito maior do que de representar qualquer risco".

"Os benefícios do uso do airbag na gravidez superam os riscos, desde que a gestante use corretamente o cinto de segurança, recuando o banco o máximo possível", garante o estudo da Abramet.

USO DO CINTO NA GRAVIDEZ
O cinto de segurança de três pontos confere maior proteção à mãe e ao feto do que o subabdominal; Deve ser posicionado da seguinte forma: a faixa subabdominal tem que ser posicionada o mais abaixo possível da protuberância abdominal, ao longo dos quadris e na parte superior das coxas; a faixa diagonal deve passar entre a mamas e no terço médio da clavícula, posicionando-se lateralmente ao útero (barriga). Nunca sobre a barriga. No caso de uso de cinto abdominal apenas, deve pegar abaixo do útero.

Fontes: Márcia Rovena de Oliveira, referência técnica em saúde da mulher, da Secretaria de Estado da Saúde e Abramet (www.abramet.com.br), Diretrizes: Uso do cinto de segurança durante a gravidez