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‘Vamos transformar a Europa em Cuba’, alega CEO da Iveco; entenda

Argumentando a respeito da gasolina sintética, o CEO fez uma possível comparação entre a Europa e Cuba

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Em Cuba, é comum se ver apenas carros antigos andando pelas ruas
Em Cuba, é comum se ver apenas carros antigos andando pelas ruas Foto: Em Cuba, é comum se ver apenas carros antigos andando pelas ruas

Com a neutralidade carbônica prevista para 2035 na Europa, foi estabelecido, a princípio, que todos os novos veículos vendidos por lá fossem, a partir dessa data, eletrificados. Diante disso, algumas montadoras, como a BMW e a Porsche, passaram a enxergar na gasolina sintética uma esperançosa saída contra o fim dos carros a combustão. O CEO da Iveco, no entanto, tem uma opinião um tanto quanto diferente – e pessimista – acerca desse tipo de combustível.

Em primeiro lugar, é importante lembrar que os combustíveis sintéticos, ou e-fuels, são considerados neutros em emissões de CO².

Por esse motivo – e graças às pressões da Alemanha –, a lei que proibia veículos a combustão a partir de 2035 na Europa, recentemente, se tornou menos restritiva, passando a permitir aqueles que rodem com a famosa gasolina sintética.

Tais medidas, no entanto, têm gerado um fervoroso debate entre países europeus, fabricantes e demais agentes participantes da indústria automotiva. É aí que entra Gerrit Marx, CEO do grupo Iveco, o qual deixou bem claro o seu posicionamento contrário em relação aos e-fuels.

Segundo o executivo, "a gasolina sintética, definitivamente, não é o combustível do futuro e, caso seja implementada de vez na indústria, a Europa será transformada numa Cuba". Como assim?

Gasolina sintética não seria acessível à população

De acordo com o CEO da Iveco, a gasolina sintética, que passou a ser definida por ele como "o champanhe da propulsão", ainda é uma alternativa extremamente cara.

Isso, aliado ao preço dos elétricos (ainda bastante acima do orçamento médio dos cidadãos), leva Gerrit a pensar que, caso a meta da neutralidade seja imposta da forma como as recentes medidas preveem, “as pessoas comuns não vão poder comprar veículos novos”, o que, por sua vez, causará um envelhecimento drástico da frota de automóveis.

É aí que a ideia de Cuba faz sentido. Se a gasolina sintética for adotada de vez juntamente com os elétricos, a Europa seria como o país latino-americano, onde só se vê carros velhos rodando nas ruas. Pelo menos, é isso o que defendo o CEO da Iveco.

Ainda segundo o executivo, no casos dos proprietários de Ferraris ou Porsches, por exemplo, aí sim não fará diferença se o litro do combustível e-fuel custar cinco ou oito euros. Mas, certamente, essa não é a realidade do restante – e da maioria – da população.

Embora a maioria das previsões de preços da gasolina sintética não seja tão catastrófica, tudo aponta para o fato de que ela não será barata o suficiente para se tornar uma opção, de fato, acessível para o público geral.

O custo poderia estar na faixa dos três euros por litro

Segundo os cálculos do International Council on Clean Transportation (ICCT), em 2030, o custo de fabricação da gasolina sintética estará perto dos três euros por litro.

Por outro lado, a Porsche, por exemplo, que é também uma das pioneiras no desenvolvimento desses "combustíveis verdes", reduz essas estimativas para dois euros, desde que a produção em escala industrial seja alcançada.

De qualquer forma, esses valores já são consideravelmente superiores ao preço da gasolina atualmente na Europa.

Vista aérea de fábrica de gasolina sintética da Porsche no Chile. Segundo o CEO da Iveco, a gasolina sintética pode fazer com que a Europa vire uma Cuba.
Fábrica de combustível sintético da Porsche já está em operação no Sul do Chile