Açodadas pela novas regras do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), as empresas Azul e Trip anunciaram a criação do grupo AzulTrip.
Sempre que se anuncia uma fusão, o mercado a relaciona com diminuição da concorrência e aumento dos preços das passagens aéreas. Eu mesmo já defendi essa tese. Entretanto, as diferentes fusões não a confirmam.
A fusão da regional Pantanal com a TAM nada representou, pois uma empresa regional foi absorvida, deixando para a incorporadora as melhores frequências. Há voos com preços vantajosos realizados com aviões da TAM, mas programados como se fossem da Pantanal. A fusão da Varig com a Gol representou uma diminuição de frequências, mas sem aumento nos preços das passagens. A mais recentemente fusão da Webjet com a Gol ainda não se fez sentir, pois enquanto o Cade não se manifestar as duas empresas seguem voando com suas bandeiras, podendo ter ocorrido uma racionalização da oferta.
Se fosse verdadeira a expectativa de um aumento nos preços, as empresas TAM e Gol não teriam apresentado resultado, em 2011, que nenhum acionista aprecia. Diminuiu a concorrência, mas as remanescentes se engalfinharam.
As fusões só devem ser lamentadas quando implicam na perda de qualidade do serviço fornecido pelas empresas aéreas. Não é possível negar que a qualidade dos serviços prestados pela Varig foi perdida com a sua incorporação pela Gol. Eram duas visões diferentes de prestação de serviço e venceu a mais simplista.
A fusão que está sendo anunciada da Azul com a Trip deverá ser considerada inteligente. Não se trata de uma fusão para socorrer uma empresa cambaleante, mas a união de uma empresa doméstica com uma regional, ambas em crescimento.
É uma fusão de empresas ranqueadas. A Azul foi eleita a melhor companhia aérea de baixo custo da América Latina pela Skytrax World Airlines Awards. Por outro lado, a Trip foi escolhida pela mesma agência de avaliação como a melhor companhia aérea regional da América do Sul.
Pode-se dizer que é uma fusão para dar força a um grupo de operadores. Empresas com frotas idênticas, com a mesma qualidade de serviços e com preços bem próximos só poderiam ser bem-vindas, pois passaremos a ter uma terceira empresa transportadora, mais forte, ainda que acarrete um número menor de batedores de bumbo, ou seja, menos gente para reclamar.
As duas terão uma frota de 112 aeronaves, distribuída entre os modelos E-jets da Embraer e ATR (aviões de transporte regionais), fabricados pela holding ADS em sociedade com a italiana Firmeccânica.
Com os seus 837 voos diários e 316 rotas, 96 cidades serão atendidas. Naquelas em que os horários estiverem próximos, um escalonamento proporcionará atendimento mais adequado à demanda. Nas localidades em que a soma das demandas indicar a necessidade de mais assentos, uma aeronave de maior porte poderá ser programada, desde que a infraestrutura aeroportuária local suporte a operação.
A Trip está no mercado há 13 anos. Nasceu sob a inspiração de empresários ligados ao transporte rodoviário, incorporou a parte de passageiros da empresa mineira Total e fez parceria com a americana Skywest.
A Azul nasceu sob a inspiração de um empresário do ramo aeronáutico, que já havia constituído uma empresa aérea em seu país. Participam dela diferentes fundos de investimento, tais como o Gávea e Bozano, entre outros.
A Azul e os grupos de investimento ficam com 67% da nova empresa e as transportadoras Caprioli e Águia Branca ficam com os 37% restantes. Para que essa divisão fosse possível, a Trip resgatou 26% de suas ações que estavam em poder da empresa americana Skywest.
As duas empresas têm padrão operacional qualitativo. Até mesmo no uniforme de suas comissárias de bordo há semelhanças que lembram a bela época da Pan Am.
Com certeza a nova fusão irá contrariar a voz do mercado, formando uma empresa mais forte, que praticará a política de preços vigente, sem perder a qualidade dos serviços.