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Freios - Acabando antes da hora

Desgaste prematuro e chiados provocados por pastilhas deixam irritados proprietários de veículos, e fabricantes não conseguem explicar as razões do problema no componente

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Quando Karina Fernanda da Silva comprou seu Renault Sandero 1.6 8V zero-quilômetro no ano passado, pensou que ficaria um bom tempo sem passar por uma oficina. Mas não foi bem assim. Ao constatar que o nível do líquido de refrigeração estava baixo, resolveu levar o carro a uma concessionária da marca, pois foi informada de que poderia haver vazamento no sistema. Para a surpresa de Karina, o consultor técnico disse que o problema do carro era outro: as pastilhas de freio estavam com desgaste avançado e deveriam ser substituídas. "Mas como, se o carro está com somente 9 mil quilômetros rodados?", questionou.

Esta pergunta de Karina vem sendo feita por outros proprietários de veículos, que também enfrentam problemas de desgaste prematuro das pastilhas de freios. Além disso, em alguns modelos, o componente tem apresentado ruído de funcionamento, trazendo desconforto. E ninguém explica com clareza o que está acontecendo. A proprietária do Renault Sandero consultou o manual e no quadro de manutenção constatou que a troca das pastilhas de freio estava prevista para a segunda revisão, ou seja, aos 20 mil quilômetros. Diante disso, Karina fez contato com a montadora, buscando uma explicação para o seu problema, mas a resposta não foi muito animadora. A Renault afirmou que, por se tratar de itens de desgaste natural, não teria como mensurar tempo de durabilidade das pastilhas.

Depois de idas e vindas, a troca das pastilhas foi feita sem custos, mas Karina afirma que nem a concessionária nem a montadora explicaram o porquê do desgaste prematuro do componente. O mais estranho é que entregaram a ela uma ordem de serviço com a descrição de verificação de ruídos nos freios, e não substituição das pastilhas. "O problema teoricamente foi resolvido, mas não sei se posso confiar nas pastilhas que foram colocadas no meu carro. Será que elas são realmente diferentes das que estavam lá e apresentaram desgaste prematuro?", questiona Karina.

Amianto

Para tentar esclarecer a questão, Veículos consultou os fabricantes de componentes de freio para saber se os problemas de desgaste prematuro e ruídos estavam relacionados à retirada do amianto da composição da pastilha. A Fras-le não se manifestou sobre o problema, dando uma resposta evasiva. Já o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento/Vendas Equipamento Original da TMD Friction (Cobreq), Edilson José Jaquetto, explicou que a empresa não usa amianto na composição das pastilhas desde 1995. O composto foi retirado do componente por força de lei, pois é altamente nocivo à saúde das pessoas envolvidas na produção.

Edilson Jaquetto não relaciona os problemas de desgaste prematuro e ruídos à retirada do amianto das pastilhas. Ele reconhece que o composto é mais barato e tem características interessantes, como melhor absorção a altas temperaturas, porém, é nocivo à saúde. Edilson afirma que as pastilhas com amianto geravam muitos ruídos, que só não eram facilmente percebidos porque se misturavam a outros já existentes nos carros. "Atualmente, os automóveis são mais silenciosos e qualquer barulhinho é facilmente notado", afirma.

Para o diretor da TMD Friction, tais ruídos podem ser provenientes de outros componentes, como molas e amortecedores. Ele lembra ainda que veículos que trafegam regularmente em ambientes muito secos estão mais sujeitos a apresentar esse tipo de ocorrência. Quanto ao desgaste prematuro das pastilhas, Edilson revela que a TMD tomou conhecimento de que o problema estaria acontecendo com o Renault Logan, um dos modelos para os quais a empresa fornece o componente. "Estamos estudando com a montadora para apurar as causas do desgaste, mas ainda não chegamos a uma conclusão", afirma.

Jaquetto revela que, em condições normais de uso, as pastilhas de freio devem apresentar durabilidade mínima de 30 mil quilômetros. Ele acrescenta que o desgaste prematuro pode ser provocado por dois motivos. O primeiro, freio pré-atuado, que faz com que a pastilha fique muito próxima ao disco, causando o desgaste. O outro problema é denominado torque residual das pinças, que faz com que as pastilhas agarrem.

Para evitar tais defeitos, o diretor da TMD recomenda a verificação regular do sistema de freios. "Se tudo estiver normal, não pode haver desgaste excessivo dos componentes", afirma. Ele chama a atenção ainda para as pastilhas vendidas no mercado paralelo, na maioria das vezes feitas com materiais mais baratos, que não atendem as exigências para atuar com total eficiência. Edilson informa que o governo federal está discutindo uma lei que vai exigir selo de qualidade nesses produtos de reposição, resultando em melhor controle do mercado. A lei deve vigorar a partir de 2011, mas alguns fabricantes de componentes de freio pensam em adotar a medida no próximo ano.