Não foram as fortes chuvas da noite do dia 5 e da madrugada do dia 6 passados a causa única da perturbação em operações da empresa Gol. Não temos na memória o fato de uma chuva provocar uma perturbação de três dias na malha de uma empresa aérea. Redução de um grupo de voo e reivindicações trabalhistas foram as outras duas variáveis que influenciaram naqueles dias de caos aeroportuário. As chuvas da primavera e do verão, normalmente intensas e de curta duração, interferem pouco no tráfego aéreo.
Sabemos que dezembro é o mês das categorias de aeronautas e aeroviários terem os seus salários reajustados e a imprensa divulgou algumas manifestações ocorridas em alguns de nossos aeroportos.
Temos conhecimento também de que as empresas aéreas estão reduzindo os seus grupos de voo para tentarem operar sem prejuízo. A essas três variáveis acrescenta-se o aumento da demanda, devido às festa de fim de ano. Essas devem ser as causas determinantes dos problemas ocorridos em três dias de operações da empresa Gol. Em Belo Horizonte, a presença de fenômenos meteorológicos ocorreram na madrugada do dia 6. Foram chuvas intensas, mas o dia amanheceu claro.
Esses fenômenos se manifestaram também em São Paulo e Rio de Janeiro, fechando os aeroportos daquelas terminais por algumas horas. Essa situação se propagou para os aeroportos de Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Nada que não pudesse ser resolvido se o problema fosse unicamente meteorológico.
Por lei, o serviço de escala de um tripulante compreende três modalidades. Ele pode ser escalado para efetuar um voo. Pode ser escalado como reserva, ficando um determinado número de horas em um aeroporto para tripular um voo no caso de impossibilidade de a tripulação efetiva assumi-lo. Pode ainda ser escalado de sobreaviso, ficando nesse caso à disposição da empresa fora do ambiente aeroportuário. Essas três modalidades praticamente determinam que para cada aeronave deve haver seis tripulações, que é um número bastante usual.
Ocorre que, com a política de redução de custos, pode haver um número aquém do necessário e essa é a motivação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a auditar a gestão da escala de tripulantes da empresa Gol.
O estouro da jornada de trabalho poderia ter sido contornado se o ambiente entre a empresa e aeronautas fosse de confiança. A lei dá ao comandante o poder de extrapolar a jornada de trabalho para fazer frente a essas eventualidades, mas aí pesa o relacionamento da empresa com seus tripulantes. Se o comandante se valer dessa prerrogativa, fará um registro da situação e informará à Anac. Devido à sua eventualidade, a Anac não pune os autores.
Sempre que ocorrem essas perturbações, quem sofre é o usuário do sistema de transporte aéreo, que esbraveja com a equipe de solo, que por sua vez nada pode fazer.
Como se fossem um aviso, as perturbações do início do mês levaram a autoridade aeronáutica e as empresas aéreas à elaboração de um plano denominado Operação Fim de Ano, que está em vigor desde 13 de dezembro e se estenderá até 13 de janeiro.
O plano de contingência prevê que as empresas deverão ter todas as suas posições de check-in guarnecidas nos horários de pico. Deverão ter um quadro de funcionários reforçado para fornecer informações e registrar as reclamações dos passageiros.
As empresas se comprometem a não praticar o overbooking, que praticamente deixou de existir com a emissão dos bilhetes eletrônicos. E ainda devem reforçar a tripulação e equipes de solo, além de remanejarem as manutenções programadas de suas aeronaves.
A Anac irá intensificar a fiscalização com 300 servidores nos 12 principais aeroportos. Falta ouvir os pilotos, comissários de bordo e o pessoal de solo. Sem eles, o caos será geral.
O que ocorreu nos três dias da primeira semana de dezembro foi um alerta para a repetição de fatos ocorridos em anos anteriores, quando a ênfase eram os reclamos trabalhistas.
Em 2012, um acordo entre as empresas aéreas e aeronautas/aeroviários e a manutenção de um grupo de voo numericamente necessário propiciaram aos passageiros um período de festas sem problemas, ainda que tenham ocorrido perturbações meteorológicas e aumento da demanda.
BIRUTINHAS
Humanitário
Foi firmado um acordo entre as empresas aéreas, aviação civil e Ministério da Saúde para agilizar e aumentar a quantidade de órgãos destinados a transplante. Uma equipe de oito enfermeiros do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) permanecerá em serviço de escala durante 24 horas por dia o ano inteiro nas instalações do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), tomando a decisão sobre a logística dos órgãos disponíveis para transplante.
Aeroportos
Ficou para 2014 a implantação da nova estatal Infraero Serviços, que se dedicará à remodelação e construção de 270 aeroportos regionais, conforme plano da Secretaria de Aviação Civil (SAC). O plano de negócios encontra-se em fase de elaboração e a nova empresa terá uma participação de 49% no consórcio que operará os aeroportos regionais. É uma parceria público-privada. Se funcionar, será ótimo.
Automação
Os diferentes níveis de automação aplicados em aeronaves estão transformando os pilotos em robôs, às vezes incapazes de controlar uma aeronave de forma manual. O exemplo mais gritante da dependência dos sistemas computadorizados ficou patente no acidente da aeronave Boeing 777 da empresa Asiana, no aeroporto de São Francisco/California (EUA). Por não saber dominar um comando computadorizado, o comandante assistiu à aeronave ingressar em uma rampa de pouso errada, resultando no acidente.
Bonanza
Quem é bom já nasce feito. Esse é o caso da aeronave Bonanza da Beechcraft, que conquistou o primeiro lugar do Top 100 Airplanes – Platinum Edition, publicado pela revista Flying Magazine. O Bonanza é produzido desde 1947, a mais longa linha de produção da história da aviação. Com os novos aviônicos embarcados, o Bonanza se atualiza e continua firme no mercado de aeronaves.
DIVOP
A Divulgação Operacional (Divop) nº 10/2013, de 26 de novembro, expedida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) aborda a operação de aeronaves em aeroportos que se encontram em obras. Como exemplo de ocorrências cita o caso do Airbus A330 da TAP que colidiu a ponta de uma asa em uma torre de iluminação, e o caso de um Boeing 777 que bateu com o leme de direção de um Boeing 737. Incidentes ocorridos nos aeroportos internacionais Presidente Juscelino Kubitschek (DF) e Antônio Carlos Jobim (RJ), respectivamente.
Fim de ano tem caos nos aeroportos do Brasil
O tempo ruim, a redução de grupo de voo e reivindicações trabalhistas causaram tumulto