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Farus Quadro 2000 - Mineirinho dos mais raros

Produzido na Grande-BH até 1990, o último modelo da marca local investiu em mecânica sofisticada para a época, além de soluções de estilo e de conforto incomuns até hoje

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Com 4,54m de comprimento, 2,55m de medida entre-eixos, 1,69 de largura e 1,40m de altura, modelo fora de série de estilo oitentista tem linhas retas que remetem a esportivos como o Audi Quattro


É um esportivo, tem faróis escamoteáveis, pintura em tom avermelhado e chama a atenção por onde passa. Quer uma dica? O nome da marca começa com F. Não estou falando da Ferrari e sim de uma marca ainda mais exclusiva: a Farus. De italiano o esportivo tem mesmo o nome de batismo: a sigla condensa as palavras Famiglia Russo, que tinha uma indústria alimentícia na Grande-BH. Fundada em 1978, a última cria da companhia foi esse modelo Quadro 2000, produzido até 1990. O estilista russo Arcadyi Zinoviev era o responsável pelo design da marca. Esse exemplar é da última fornada, literalmente. Seu Fabian Martinez, simpático arquiteto equatoriano radicado no Brasil desde 1969, adquiriu o carro em 2011. “Esse modelo estava inacabado e foi doado ao sindicado dos trabalhadores para pagar algumas dívidas trabalhistas depois do fechamento da Farus. Um amigo, Airton Medeiros, arrematou o carro e o completou, pegando uma lista do que faltava”, relembra. Com apenas 65 mil quilômetros rodados, a raridade do Fabian está à venda, mas ele próprio espera negociar um preço justo para o Farus.


São 4,54 metros de comprimento, 2,55m de distância entre-eixos e apenas 1,69m de largura e 1,40m de altura, uma carroceria afilada até nos números. O estilo é oitentista, com linhas retas que remetem a esportivos como o Audi Quattro. Mas com um olhar mais sedutor, garantido por faróis escamoteáveis no melhor estilo do Mazda RX-7. Esportivos que os brasileiros só poderiam sonhar, com a proibição das importações. O resultado final deveria lembrar, para ficar numa referência da época, o carro do Jaspion ou de outros programas japoneses do gênero. Elementos externos entregam peças de outros fabricantes. Os faróis são do Fiat 147, antiga parceira da marca. As lanternas, por sua vez, são do Volkswagen Gol. Tudo bem disfarçado, claro, mas uma garantia a mais de tranquilidade para o proprietário.


Banco traseiro tem espaço limitado, com dois cintos de segurança abdominais



Ao levar o cupê para um passeio no Bairro Mangabeiras, logo nota-se que ele tem muito de Santana. Pudera, a base mecânica é do sedã de “luxo” da VW, com tração e motor longitudinal dianteiros, contra os motores centrais da Fiat e General Motors usados antes pela Farus. A carroceria é de fibra de vidro e o chassi tubular. Comandos do câmbio e a direção mais para durinha são típicas dos VW do período, tal como a competente suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, amparada em rodas aro 14 polegadas e pneus 195/60. Até o cheiro do habitáculo não é muito diferente. Mesmo com apenas uma tonelada, o desempenho do AP 1.8 de 90cv a 5.200rpm e 14,6kgfm de torque a 3.500rpm não era arrebatador, embora não ficasse para trás de muitos modelos: até os 100km/h são necessários 12,1 segundos e a velocidade máxima ficava em 171km/h. O consumo de gasolina era contido: de 10,2km/l na cidade e 15,2km/l na estrada. A emoção mesmo vem do lado de fora, todos reparam no Quadro 2000. Deve ser o grande lance de ter um carro quase que único.

Volante com regulagem elétrica e acabamento em couro revelam o requinte do carro



LUXO


O padrão dos automóveis nacionais era ainda mais depauperado. O Farus nadava de braçada, como outros fora de série de luxo da Miura e companhia. O volante tinha regulagem elétrica, mesma cortesia estendida aos vidros e retrovisores. O retrovisor interno é antiofuscante e indica a distância do carro para os fachos que iluminam a peça. As saídas de ar também são da VW, tal como as maçanetas internas, que despertam o saudosismo em qualquer um que já teve um Fusquinha. Tal como o rádio AC Delco, quase todos os comandos estão funcionando perfeitamente e mesmo os faróis pulam de supetão. O requinte artesanal vem do revestimento em couro por todo lugar. Já o espaço também é de esportivo de estirpe: somente dois adultos com muita boa vontade iriam nos bancos traseiros.


Detalhe interessante são os faróis escamoteáveis, que foram herdados do Fiat 147



Por fora, o modelo tem alguns detalhes incomuns. Como as maçanetas das portas tiradas das prateleiras da Fiat, deixadas de lado em outros exemplares. As portas eram abertas por telecomando. Quer saber? Melhor do que correr o risco de falhas elétricas. Até porque, se der problema, faça como diz o manual (incluído no veículo): é só levar em um mecânico que entenda de Volkswagen.

Traseira tem lanternas do antigo VW Gol e spoiler, que dá um toque de esportividade