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Faróis de 100 W - Escolha é mais que modismo

Uso das lâmpadas de 100 watts começa a virar mania depois da proibição do farol de xenônio, mas além de não ser permitido por lei nem sempre garante boa iluminação

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Modelo H4 de 100 watts

Sem que haja uma explicação racional, muitos hábitos se tornam modismos no meio automotivo. Acreditando num falso apelo de segurança ou apenas por estética, motoristas vão aderindo a práticas muitas vezes condenáveis: foi assim com os engates, com as películas muito escuras e com os faróis de xenônio. Estes, cuja instalação como acessório foi agora definitivamente proibida pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), começam a ser substituídos por uma outra mania, a de comprar lâmpadas mais potentes e de tonalidade bem azulada com a ideia — nem sempre verdadeira — de que iluminarão melhor. Para especialistas, no entanto, há o perigo não só de se ficar fora da lei, como de não obter o resultado desejado.

A fabricante de lâmpadas e sistemas de iluminação Osram alerta para a procura de soluções alternativas com alto poder luminotécnico, como a substituição das lâmpadas comuns por outras de 100 watts, também proibidas por lei. A lei, no caso, é a Resolução 227/07 (complementada pelas 294/08 e 383/11), do Contran, que é extremamente técnica, e estabelece diretrizes para todos os sistemas de iluminação que envolvem o veículo. Quem traduz é o gerente de desenvolvimento da Nino Faróis, Lázaro Moraes, que integra grupo técnico de iluminação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

“Como ainda não temos uma norma da ABNT para definir a homologação das lâmpadas, a resolução, com força de lei, acaba sendo a própria norma. Ela determina a distribuição de luz e as categorias de lâmpadas destinadas a cada sistema de iluminação, como os faróis. A lâmpada de 100 watts foge dessas normas e, portanto, não está liberada”, informa. Ele explica que no caso dos automóveis a lâmpada deve ter 12V, que representam, na categoria mais comum (H4), 55 watts para a luz baixa e 60 watts para a luz alta. Para os caminhões, a voltagem dobra: 24V, significando, respectivamente, 70 watts e 75 watts.

Moraes acrescenta, com a experiência de testes em laboratório, que muitas vezes as lâmpadas de 100 watts acabam sendo menos eficientes do que as convencionais. “O que determina é o tamanho do filamento. Para ter 100 watts, a lâmpada precisa ter um filamento bem maior. E no caso dos faróis, quanto mais concentrado o ponto focal melhor será a distribuição de luz. Mas com um filamento maior essa distribuição é menos focada. Logo, é mais eficiente o filamento menor”, explicita. Outro problema, segundo ele, são lâmpadas com o filamento fora de posição: “O que determina o posicionamento correto são centésimos de milímetros. Se for deslocado, é ruim para a iluminação”.

TOM AZULADO

Também buscando imitar a luz emitida pelos faróis de xenônio, começam a surgir no mercado lâmpadas de tom azulado que, de acordo com o especialista, podem ou não estar dentro da lei.
“A luz tem que ser branca. Isso é um ponto. Só que o branco tem várias nuances e pode tender para o azul, o verde, o amarelo ou o vermelho. E existem, por lei, os limites para essas nuances de outra cor. No caso das lâmpadas de xenônio (as que vêm de fábrica já instaladas no automóvel continuam permitidas por lei), esse limite é expressado pela temperatura da cor, medida em graus Kelvin, que pode ser, no máximo, de 6.480K”, afirma. “O que as fabricantes de lâmpadas fazem para conseguir esse tom azulado em outras lâmpadas? Usam um truque. Como já disse, você consegue uma melhor iluminação proveniente do filamento. Pegam um filamento branco com tendência amarelada e fazem o encapsulamento com uma capa azul, que filtra a luz, saindo da tendência amarelada e ficando azulada. Com a tendência azulada, fica mais branco. Lembra do avental branco em que as mães passavam anil para clarear? É o mesmo truque do sabão em pó. Por que deixa a roupa mais branca? Porque tinge levemente de azul. Esse é o truque”.

De acordo com Moraes, para esse tipo de lâmpada estar dentro da lei é preciso que a temperatura respeite o limite dos 6.480K. Mas, ainda assim, não significa que serão melhores. “Quando a luz está branca, fica tudo mais claro, mas diminui o contraste, que é maior com a luz amarelada. Logo, o uso é mais estético, pois embora haja um ganho de iluminação (fica mais claro), o poder de contraste piora”, conclui.

HOMOLOGAÇÃO

Para evitar os diversos tipos de lâmpadas, boas ou não, que vão sendo colocadas no mercado, Moraes afirma que a solução é cortar o mal pela raiz. Ou seja, buscar um critério de homologação para todas as lâmpadas comercializadas no Brasil. Para isso, ele e outros profissionais voluntários e ligados à área fazem parte de um grupo, da ABNT, que vem estudando a legislação do Contran com o objetivo de criar uma NBR, ou seja, uma norma brasileira, que dará as diretrizes para a homologação pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). “Saindo a norma, poderá ser criado um laboratório e ser exigida a homologação”, afirma. Os estudos, ele espera que sejam concluídos até o fim do ano. Mas, realista, Moraes admite que trata-se de um processo complicado, pois, além de sujeito a um trabalho voluntário, está à mercê de diversos lobistas.