Na 21ª edição, o Congresso Fenabrave – Associação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores –, realizado entre os dias 23 e 25, continua a servir como termômetro das expectativas dos mercados brasileiro e estrangeiros. No ano passado, a temperatura foi quase febril. O mercado brasileiro batia recorde e se encaminhava para seu melhor ano, enquanto os desenvolvidos ainda se aprofundavam na crise. Porém, se 2011 deve crescer cerca de 4%, com volume projetado de 3,65 milhões de carros, no ano que vem não deverá ser muito diferente. “Acreditamos em um crescimento entre 4% e 5%. Será um ano de transição, com pouca variação, depois de crescer 12% em 2010", aposta Jaime Ardila, presidente da General Motors da América do Sul.
A diminuição do ritmo tem explicação. “No curto prazo, o país pode explorar a capacidade já disponível, uma recuperação cíclica face aos anos anteriores. Agora é uma fase de crescimento sustentável, em que o capital de produção será ampliado”, explica Eduardo Giannetti, economista e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa em São Paulo (Insper). Os investimentos anunciados nos setores de automóveis, motos e comerciais apontam esse caminho.
“Entre 2016 e 2020, o Brasil vai ultrapassar os 5 milhões de carros por ano, um número impensável há cinco anos”, afirma Phillipe Vairin, presidente mundial da PSA Peugeot-Citroën. Tudo por conta das perspectivas: o mercado nacional tem um forte contingente de novos consumidores. Se em 2005 a classe C respondia por 62,7 milhões de pessoas, em 2010 passou a 101 milhões. As classes A e B também cresceram de 26,4 milhões para 41,5 milhões. Além do aumento de renda, a demografia influencia: com um grande aumento populacional entre 1950 e 1994, a maioria dos brasileiros está em idade de produzir e de consumir, o que se mantém até 2040. Afora isso, o percentual de motorização ainda está em 16 carros por 100 habitantes, contra 60/100 na Europa e 80/100 nos Estados Unidos.
Os novos consumidores vão apostar em carros menores. É o que prevê a GM, que indica um boom dos subcompactos, que vão passar dos 2,7% de participação na América do Sul para 11% em 2016. O mesmo é pensado pelas rivais. Não é por acaso que a Fiat fará o projeto Citycar na nova fábrica de Goiana, em Pernambuco, enquanto a Volkswagen estuda a construção do up! (para substituir o Gol geração 4) no próprio estado nordestino – a região também é a que mais cresce.
Intercâmbio
A reunião de vendedores das Américas e outros países serve como troca de experiências, receitas de bolo criadas para enfrentar a crise que afeta a todos, seja em maior ou menor grau. Se no ano passado o mantra dos norte-americanos era “olhem com carinho para os carros usados”, este ano o conselho é velho conhecido dos ianques: o financiamento integrado a seguro e serviços. Uma receita que eles usam há mais de 60 anos, mas que ainda está para ser repetida no Brasil.
Em época de vacas quase magras, qualquer concorrência é vista com maus olhos. Os representantes da Fenabrave chiaram contra o aumento das vendas diretas para grandes frotistas como as locadoras (chegando perto dos 30%), que vendem grandes volumes de seminovos mais baratos depois de terem comprado os carros com descontos. “Nós temos que ser os parceiros preferenciais, senão não teremos como ter empresas aqui”, reclamou Flávio Meneghetti, vice-presidente da Fenabrave e sucessor de Sérgio Reze na direção da federação. A concorrência dos chineses que não planejam se instalar por aqui também foi lembrada, dada à concentração de mais da metade das vendas internas no segmento dos compactos de entrada, onde os orientais incomodam mais. Além do congresso e palestras, o evento abrigou a ExpoFenabrave, em que fabricantes e prestadores de serviço mostraram suas novidades.
(*) Jornalista viajou a convite da Fenabrave