Alguém já ouvir falar que, ao comprar um automóvel zero, este seja entregue sem bateria, aparelho de som ou pneus, com a recomendação de que sejam adquiridos nas lojas especializadas?
Embora a resposta seja óbvia, a pergunta se faz a propósito de uma antiga e inexplicável prática das montadoras de transferir para seus fornecedores a responsabilidade sobre componentes de um automóvel. Digamos que um carro tenha rodado apenas cinco mil quilômetros, esteja dentro do prazo da garantia, um ou dois pneus ficaram carecas e o dono o leva à concessionária para reclamar do desgaste prematuro. A resposta da oficina: “Pode levar o carro na loja da Goodyear para que ela resolva o problema”. Em vez de protestar, ir ao Procon ou chamar a polícia, o dono é suficientemente cordato para ir à loja de pneus e ainda ter o dissabor de ouvir que a culpa é da montadora, pois algum problema na suspensão foi o responsável pelo desgaste. É o ponto de partida do famoso “jogo de empurra”, em que ninguém se responsabiliza por nada (e sobra para o bolso do dono do carro). A mesma linha de conduta se aplica para outros componentes, como aparelho de som ou bateria: “Quem garante é a Bosch, leve lá o carro”. E a Bosch argumenta que o problema não é da bateria, mas do circuito elétrico. E sobra de novo para o freguês.
As fábricas são chamadas de “montadoras” exatamente por encomendar de terceiros (fornecedores) a maioria das peças utilizadas na linha de montagem. São responsáveis pela qualidade de todo o automóvel e não podem se eximir da garantia de qualquer componente. Transferir essa responsabilidade é inaceitável e merece uma análise por parte do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça.
FREIOS Por falar em respeito ao consumidor, o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) está, passo a passo, tentando organizar a anarquia geral que reina no setor de peças de reposição. Não se controla a qualidade do que se vende fora das concessionárias, no chamado mercado paralelo. Não há obrigatoriedade de se certificarem componentes de segurança: fabriqueta de fundo de quintal produz (ou “recondiciona”) e vende livre e impunemente peças da suspensão, direção, transmissão e freios. O Inmetro já iniciou processo de certificação de alguns itens de segurança, como cadeirinhas, rodas e catalisadores. No mês passado, estabeleceu os critérios para a certificação de componentes do freio, como lonas e pastilhas. Dentro de três anos, só poderão ser comercializados se homologados de acordo com as normas padronizadas.
Já que chegou ao sistema de freios, o Inmetro tem que passar agora para o fluido de freio, fácil de ser falsificado: basta colorir álcool com anilina vermelha. E deixar o carro sem freios na esquina seguinte. Até lá, melhor você mesmo prestar atenção na marca do fluido que está comprando...