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Executivo da área de tecnologia faz projeto de lei que busca impedir morte de crianças asfixiadas dentro de carro

No entanto, projeto precisa do voto popular para entrar na pauta do Senado

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Esquecer um bebê dentro do carro, à primeira vista, parece impossível. Os fatos, no entanto, mostram o contrário. E não é rara a notícia de uma criança morta por asfixia por ter ficado trancada dentro do veículo sem que os pais se dessem conta a tempo de evitar a fatalidade. Atento aos acontecimentos, o profissional em tecnologia da informação Alex Fávaro – pai de um bebê de seis meses – desenvolveu uma ideia simples, que parte de tecnologia já existente nos veículos, e criou um projeto de lei. Como é de autoria de um cidadão comum (não parlamentar), depende de 20 mil votos populares para entrar na pauta de votação do Senado. Qualquer um pode votar.

“Como sou da área de tecnologia, comecei a questionar por que nada era feito para minimizar essa situação. A primeira coisa que pensei foi nos sensores de peso. Fui pesquisar e descobri que já existiam. Ou seja, não é preciso reinventar a roda, basta que as montadoras usem, para esse fim, o que já existe”, diz Alex. Os sensores de peso, os mesmos que hoje, já em grande parte dos carros, fazem com que no painel seja emitido um alerta para uso do cinto de segurança, são a base do projeto. A diferença é que também seriam instalados no banco traseiro (atualmente são mais comuns nos dianteiros) e, ao contrário de emitirem sinal quando o motorista liga o carro avisando que alguém está sem cinto, enviariam sinal no momento em que o carro é desligado, alertando para a presença de alguém no veículo e com o cinto afivelado (usado na maioria dos automóveis para prender a cadeirinha ou bebê conforto).

Não funcionando o primeiro aviso (e continuando alguém dentro do carro desligado), o projeto vai além, sugerindo que o alarme externo dispare, com o objetivo de chamar a atenção de transeuntes, que poderiam salvar o bebê. Ao mesmo tempo, seria acionado um sensor de temperatura e, se constatados mais de 25 graus, automaticamente seria acionado o sistema de ventilação interna do carro, além de serem abertos os vidros. Cinco minutos depois de disparado o alarme, os sistemas de ventilação interna e de abertura dos vidros seriam acionados de qualquer forma, independentemente da temperatura, a fim de permitir a entrada de ar para a respiração da criança.

O projeto, segundo Alex, traz um custo mínimo para as montadoras, uma vez que toda a tecnologia já existe. Teriam que passar a ser obrigatórios (ou vir de série), no entanto, os sensores de peso e temperatura, o alarme e os vidros elétricos.

VOTAÇÃO Para criar o projeto de lei, Alex Fávaro se inspirou no Ficha Limpa, de iniciativa popular. Só que descobriu uma maneira mais simples de incluir seu projeto para aprovação no Senado. “Existe uma comissão multidisciplinar que avalia e verifica se a proposta é viável para ser lei. Fiz o projeto e o enviei, a proposta foi aprovada e agora está no site do Senado, aberta à votação popular”, explica. “Preciso de 20 mil votos até 19 de junho. Se conseguir, o projeto vai para votação no Senado e pode virar lei”, continua.

No site do Senado (www.senado.gov.br), Alex se refere ao Portal e-Cidadania, dentro do qual está o ícone e-Legislação, com a possibilidade de inclusão de propostas de lei por qualquer cidadão. Uma vez aprovada a ideia e obtido o número de apoios necessários, a proposta é avaliada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, podendo vir a tramitar formalmente no Senado. Atualmente, no campo “Ideia Legislativa”, há mais de 100 propostas, sendo a ideia de Alex a segunda mais votada, mas ainda longe do necessário (até o fechamento desta edição havia 813 votos).

Serviço

Para divulgar seu projeto, Alex criou o site www.projetoanjodaguarda.com, a página no Facebook www.facebook.com/pages/Projeto-Anjo-da-Guarda/521559137887764?ref=hl. Para votar diretamente no site do Senado basta acessar: www12.senado.gov.br/ecidadania/visualizacaoideia?id=7681.


Palavra de especialista - Sistema é viável


Ricardo Takahira
Engenheiro da SAE


Os sensores de peso existem nos bancos dianteiros e podem ser adaptados para o banco traseiro. Teriam que ser colocados em três pontos, já que não se sabe em qual das posições ficaria a criança. Para a emissão do sinal sonoro no painel não há problema, pois também já existe. Funcionaria de modo inverso, quando se desliga o carro. A única preocupação seria com relação à bateria, pois, assim como o alarme, o funcionamento de todo o sistema fica condicionado ao uso de carga com o carro desligado, o que consome energia. Mas não é nada exorbitante e acho viável. O disparo do alarme depois de algum tempo é viável e o acionamento do sistema de ventilação também, pois existe em todo carro. Com relação à abertura automática dos vidros, eu faria uma ressalva: é preciso ver o tanto que os vidros seriam abertos, pois, se por um lado a ideia é salvar a criança, por outro, o carro ficaria aberto, correndo o risco de ser furtado (inclusive com a criança dentro ou em situações em que for esquecida uma bolsa, por exemplo). Seria interessante ver se a abertura de um ou dois dedos seria suficiente para impedir a concentração de monóxido de carbono e evitar a morte. E teria que ser avaliado o custo, pois os vidros elétricos passariam a ser de série. Por fim, lembro que os alarmes hoje são muito modernos e têm diversos tipos de funções. Seria possível pensar num sistema com tudo integrado ao alarme. E, se não obrigatório, seria muito viável pelo menos como opcional.