No Brasil desde 1978, o grupo italiano Magneti Marelli marca presença no setor automotivo atuando nas áreas de sistemas eletrônicos, injeção, sistemas de combustíveis, iluminação, escapamentos e reposição. A empresa foi responsável pelo desenvolvimento do sistema flex e recentemente esteve em evidência devido à adoção do câmbio manual automatizado Free Choice no Fiat Stilo. Mesmo com essas recentes inovações, ainda há espaço para a adoção de novos equipamentos nos carros nacionais e de exportação de tecnologia nacional para a Europa. Para explicar quais são as novidades na área e o que ainda está por vir, o presidente da Magneti Marelli Sistemas Automotivos, Silverio Bonfiglioli, deu entrevista ao caderno Veículos em seminário realizado em Belo Horizonte sobre as perspectivas para o setor.
A aceitação do câmbio automatizado está de acordo com as expectativas?
Não tinha dúvida do sucesso. Comparando com sistemas elétricos, o nosso, hidráulico, é superior. A origem é da Fórmula 1. Aliás, estreou no Grande Prêmio do Brasil de 1989 e, atualmente, é aplicada em todos os veículos de competição e até em carros pequenos, como os Fiat Panda e Cinquecento. Começamos a desenvolver o câmbio em 2003, no Brasil, em que há necessidade de um produto que possa ser aplicável em carros pequenos. Além disso, tem a vantagem de reduzir consumo e emissões, com a possibilidade de trocas esportivas, como se fosse um câmbio convencional. Atende a quem gosta de esportividade, mas possibilita conforto no pára-e-anda do trânsito das grandes cidades e o desgaste do motorista é menor. O Stilo é o primeiro de uma série de modelos equipados com esse sistema e não será o único.
O custo final para o consumidor está em R$ 2,5 mil. Não é muito para equipar carros mais baratos?
Na Europa, já é usado em carros menores e, em alguns casos, mesmo em modelos urbanos, como opcional.
Há perspectivas para uso em outros modelos?
Não posso dar detalhes, mas estamos trabalhando com outros modelos e montadoras para lançamento em 2009.
O free choice pode se beneficiar de outros sistemas eletrônicos?
A evolução natural é aliar a outras tecnologias. O start-stop - dispositivo que desliga o motor quando o carro pára -, por exemplo, pode fazer uma gestão ainda mais eficiente do motor e câmbio, sem aumentar significativamente o custo.
O DSG (câmbio manual automatizado, com dupla embreagem, usado pela Audi e VW) tem funcionamento considerado mais suave. Haverá evolução no free choice?
Estamos trabalhando em três direções. Uma é o free choice, que já está no mercado. A outra é um sistema similar ao dual clutch (dupla embreagem), cuja aplicação em carros menores é complicada, não só pelo custo, mas por ser muito grande para ser usado em carros pequenos. A terceira possibilidade é um câmbio automatizado elétrico, e não hidráulico. Seria um câmbio mais limitado em performance e flexibilidade no uso, mas com custo mais baixo. Essa versão também poderia ser combinada com outras tecnologias, para aumentar a eficiência.
Como está a venda do sistema flex para os fabricantes europeus?
O problema não é vender o sistema flex, mas ter álcool disponível. O flex na Europa não será o fenômeno de massa que é no Brasil. Mas, independentemente disso, estamos, sim, desenvolvendo, na unidade de Hortolândia (SP), onde fica o nosso centro mundial de combustíveis alternativos, um sistema flex para ser usado na Europa. O sistema é igual, a única diferença é que não é projetado para usar o álcool puro, mas funciona com o E85 (mistura que tem 85% de etanol e 15% de gasolina).
O tanquinho do sistema de partida a frio vai mesmo ser aposentado?
O sistema de partida a frio tem o objetivo, obviamente, de melhorar a partida, mas também contribui para melhorar a dirigibilidade em carros pequenos, e as emissões. O nosso sistema funciona com o princípio de aquecimento do álcool, que é injetado por uma válvula (bico) extra, garantindo melhor queima da mistura. É a segunda geração do flex e vai se tornar padrão. Não há como não ser, principalmente com a entrada em vigor das novas normas antipoluição, a partir de 2009.
Qual é o próximo passo no desenvolvimento de tecnologias automotivas?
Desenvolvimento da telemática. Já temos no Brasil a Connect e o Blue&Me. O próximo passo é a difusão dos sistemas de acompanhamento via satélite. O mapeamento ainda é limitado, mas está se desenvolvendo e a atualização, que não pode ser feita em tempo real, será sempre um problema, mas os sistemas estão evoluindo. A área de conforto também promete. Estamos trabalhando no amortecedor eletrônico e outros sistemas eletrônicos integrados. Na verdade, não há como separar. Haverá evolução nas áreas de consumo, conforto, segurança e combustíveis.