De zero quilômetro a bastante rodado, um carro representa para muitas pessoas mais do que um simples meio de transporte. É um bem de consumo, desejado e batalhado, que muitas vezes reproduz o sonho; e em outras se transforma em pesadelo. Extremos à parte, o objeto do desejo nem sempre é completo e não é difícil imaginar o que poderia ser melhor. Por outro lado, há sempre uma qualidade que sobressai.
Percorrendo Belo Horizonte de norte a sul, de leste a oeste, nossa reportagem perguntou a 50 proprietários de automóveis o que mais incomoda no carro, e também o que mais agrada. Numa tarde em que os termômetros superavam os 30 graus não foi surpresa ouvir de muitos que sentiam falta do ar-condicionado. E a necessidade dos equipamentos de segurança também não foi esquecida. “O espaço interno poderia ser melhor. Além disso, acho que os carros básicos já deveriam vir com direção hidráulica, freios ABS e airbags. Em outros países já é obrigatório”, comentou o empresário Érico Silva, dono de um Fiat Uno 2010 e um Citroën C3 2008, ressaltando a importância da lei que tornará os equipamentos de segurança (freios ABS e airbags) obrigatórios, a partir de 2014.
Outros reclamaram da parte mecânica: “A suspensão. Esse carro tem tração nas quatro rodas, mas não aguenta o asfalto da cidade. Qualquer coisa, a suspensão não aguenta”, disse a assistente administrativa Vânia Lott, referindo-se ao Mitsubishi Airtrack 2008. Comentários sobre consumo e/ou potência, caso do advogado Fabrício Leonardo de Alcântara Costa, não ficaram de fora: “Esse Renault Clio, apesar de ser 1.0, acho que rende menos do que outro 1.0 que já tive, um Fiat Uno”. E até problemas com manutenção, falta de peças e revenda foram lembrados. “Eu gosto muito desse carro (Renault Grand Tour 2009), é completo e robusto, espaçoso, confortável e muito econômico. Atualmente, incomoda o fato de ser grande. Estou querendo um menor. Mas a minha queixa é que se desvalorizou muito. Tanto que eu tinha pensado em trocar e desisti”, afirmou a médica Lígia Kleim.
Mas a grande surpresa foi também encontrar um significativo número de motoristas satisfeitos, incapazes de apontar algo que os incomodasse no veículo, como o balconista Claudiomar Dias da Silva, proprietário de uma picape VW Saveiro Titan 2009: “Nada me incomoda. Está tudo bem”. A estudante Thaís Silveira, dona de um Fiat Palio 2010: “Nada. Atende em tudo”. Ou o engenheiro mecânico Paulo César Gesualdo Júnior (Fiat Uno 2011): “O carro é novo e não há nada que desagrade. Não tem barulho, não estraga. E agrada a economia de combustível”.
Espaço é relativo, beleza também
Tamanho da carga ou aumento da família transformam o ideal em obsoleto e provocam mudança de conceito. Até o feio vira satisfação quando praticidade e conforto imperam.
O espaço foi o atrativo quando o comerciante Luiz Fernando Freire comprou um Fiat Palio Weekend 2000. Hoje, o carro é pequeno para sua necessidade e a qualidade virou defeito: “O pouco espaço desagrada. Comprei por isso, pois preciso levar muita coisa, transporto pão. Mas a produção aumentou e o carro ficou pequeno”. O piloto Miguel Martino, atualmente proprietário de um Ford EcoSport 2005, passa por situação semelhante: “Hoje ele é pequeno para mim. Estou trocando por isso. A família cresceu e o carro se tornou ineficiente”. Já a pedagoga Fernanda Franco elogia o porta-malas de seu Fiat Doblò Adventure 2009 e até brinca com o design do automóvel: “O que mais me desagrada é a feiúra do carro. Ele é feio sim, mas é excelente. Não existe porta-malas igual. Já pensei em trocar por outro mais bonito, mas não tem igual. É um feio que satisfaz”.