A “gerentona” determinou que os nossos aeroportos estão prontos para receber bem os turistas que chegarão para a Copa do Mundo e não se fala mais nisso.
Isso nos remete à infância, para recordarmos da fábula O lobo e o cordeiro. Um humilde cordeiro bebia água numa posição que não turvaria a água que o lobo iria beber. “Como ousas turvar a água que irei beber?”, pergunta o lobo. “Senhor, eu estou tomando água numa posição que não turvará a sua água”, responde o cordeiro. “Não interessa, você será castigado”, insiste o lobo.
A fábula reflete bem a situação aeroportuária. As empresas aéreas e os aeronautas serão castigados se atrasos ocorrerem, mesmo se forem motivados pelas obras inacabadas em nossos aeroportos.
Ela afirmou: "Garanto que os nossos aeroportos estão preparados para a Copa do Mundo. Vamos receber todos muito bem. E os brasileiros poderão ficar orgulhosos do Brasil que estamos construindo".
As pesquisas demonstram que há muitos brasileiros que pensam o contrário. Os aeroportos foram remendados, não estão devidamente preparados e os brasileiros não se orgulharão da imagem que será passada ao mundo.
A sua colocação é própria de quem está numa boa e não tem olhos para a realidade. Isso me faz lembrar um quadro humorístico do passado, no qual um primo rico entendia de forma atravessada as agruras de um primo pobre.
Dizer que o aeroporto de Confins está em condições de receber bem os nossos visitantes é de uma cegueira ímpar. Esconder que o aeroporto de Cuiabá, em Mato Grosso, não está bom é uma extrema miopia. Alegar que o aeroporto de Fortaleza, no Ceará, está pronto é má fé. Enfim, em período eleitoral, o negócio é enganar os incautos.
Afirmar que as obras inacabadas por incompetência governamental não são para a Copa do Mundo de Futebol da Fifa é uma desculpa esfarrapada.
Tempo não faltou. Faltou planejamento, faltou competência, faltou responsabilidade e faltou amor ao nosso país. Quem ama não destrói!
Faltou acompanhamento da execução das obras. Toda obra tem o seu cronograma físico e aqui cabe uma pergunta: Algum integrante da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) procurou conhecer as razões do atraso nas obras do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP)? No desespero, punir o concessionário com uma multa de R$ 170 milhões é uma grosseria governamental. Se tivesse havido um acompanhamento de técnicos da Anac, com certeza as sete seleções que transitarão pelo terminal de passageiros daquele aeroporto seriam mais bem acolhidas.
Outra bizarrice vem do diretor presidente da Anac. Do alto de sua autoridade, ele declara em bom som que as empresas e os aeronautas serão punidos exemplarmente se deixarem de cumprir os quadros de horários de seus voos, entupindo os terminais aeroportuários, mesmo que sejam motivados pela infraestrutura inacabada.
A partir de 5 de junho passará a ser aplicada a “lei do cão”. A empresa que atrasar a saída de um voo em mais de 15 minutos sofrerá uma multa que variará de R$ 24 mil a R$ 60 mil. Quem não utilizar um slot (janelas horárias para pouso e decolagens) será multado em R$ 30 mil. Que barbaridade! Por que não educaram as empresas desde a implantação do sistema de slots? É sabido que algumas empresas solicitam slots em um número maior do que pretendem utilizar e tudo fica por isso mesmo. Vejam o que acontece na ponte aérea Rio/São Paulo!
Quem ousar pousar ou decolar sem nenhuma autorização será punido com uma multa de R$ 90 mil.
Os pilotos da aviação geral que desrespeitarem as normas emitidas para atender ao período da Copa do Mundo de Futebol da Fifa terão as suas licenças suspensas por até 180 dias.
Parece que o desespero chegou aos homens do governo, que estão mostrando as suas garras. Num país bem administrado, em que o cidadão tenha os seus direitos garantidos e não se sinta lesado, não há necessidade de ameaças. A ameaça é arma dos fracos.
Geraram um novo regulamento para uso dos slots. E geraram por receio do caos aeroportuário que poderá ocorrer devido às obras inacabadas. Os empresários da aviação não são santos. Eles sabem as manhas para burlar os regulamentos. Quem não foi capaz de coibir a esperteza ao longo do tempo, usa um momento de preocupação para mostrar as suas fraquezas.
O que se observa é que bateu o desespero no governo devido ao fato de ter sido omisso e irresponsável. E, no acender das luzes do espetáculo, atua afiando as suas garras, tentando amenizar o desconforto dos visitantes. O Brasil irá passar para o mundo uma imagem de país do improviso e de nenhuma responsabilidade. Pobres dos cordeirinhos!