Durante muito tempo, os automóveis com apenas duas portas reinaram absolutos no mercado brasileiro. O preconceito alimentava medo de defeitos e ruídos advindos das duas portas a mais e impedia as vendas dos modelos de quatro portas. A partir do momento, porém, que estes foram caindo no gosto do consumidor, o espaço dos veículos com duas portas ficou restrito a nichos específicos - esportivos, por exemplo - ou a versões de entrada, exclusivamente em razão do menor preço. Hoje, as vendas de automóveis de duas portas, em comparação com o mesmo modelo de quatro, representam pouco (ver quadro abaixo), mas é uma fatia na qual a Ford aposta e considera importante para conquistar espaço no segmento dos automóveis de entrada.

O objetivo da Ford ao manter somente duas portas no Ka (pelo menos inicialmente), de acordo com a gerente do produto novo Ka, Lucíola Almeida, é ter mais participação em segmento no qual não era tão agressiva. O Ka tinha público específico, mas não chegava a competir diretamente com os demais compactos, por ter quatro lugares e pequeno porta-malas. "Todos os compactos, hoje, representam 65% do mercado. E, dentro destes, 28% são os que chamamos de veículos de entrada (VW Gol, Fiat Palio Fire e Uno e Chevrolet Celta)", diz Lucíola, contando que diversas pesquisas foram feitas antes do lançamento do carro: "E dentro destes 28%, que incluem modelos de duas e quatro portas, 43% referem-se aos duas portas". E é desta fatia que a Ford pretende ser líder com o novo Ka, agora com cinco lugares. Atualmente, o líder é o Chevrolet Celta do qual já foram vendidas, este ano, 64.520 unidades.

O principal motivo que leva à compra de um carro de duas portas é o preço, embora, conforme a marca, a diferença não seja tão significativa. "Vimos que este é um segmento definido: ou é o segundo carro da família, o carro da esposa ou que o pai dá para o filho, ou o primeiro carro zero de quem está em ascensão. O preço é muito evidente como fator de compra", continua Lucíola.

Mercado
Segundo o gerente de veículos novos da concessionária Chevrolet LiderBH, Dálcio Amorim Carneiro, as vendas do Celta duas portas - único modelo da marca com opção de duas e quatro portas - representam 30% da comercialização do modelo. Mas, de maneira geral, as vendas do Celta duas portas no Brasil são superiores a 50%, muito em função da proximidade de preços entre o Celta quatro portas e o Corsa Classic, que acaba roubando clientes do modelo. O Celta é o único atualmente em que a versão de duas portas vende mais que a de quatro.

Revenda
Já o gerente de veículos novos da VW Reauto, Sérgio Fernandes, nem faz pedido do Gol duas portas: somente por encomenda e mediante sinal. "Preciso de uma garantia, senão fico com um elefante branco na concessionária. A cada 200, devo vender umas cinco ou seis unidades do Gol de duas portas", afirma, lembrando, ainda, que muitas dessas vendas são para locadoras. De acordo com Sérgio, a relocação do veículo no mercado também é complicada, outro fator que dificulta as vendas do modelo zero quilômetro. "Pode até ser que isso volte a mudar, mas hoje é assim", reforça.

"Acho que o mercado de Belo Horizonte mudou radicalmente em relação a isso. Embora o modelo duas portas seja mais seguro, pois você não tem que se preocupar em travar as quatro portas nem com crianças, por exemplo, é menos comercial", concorda o gerente de vendas da Renault BH France, Joubert Barbosa. Com relação à segurança, o consultor de vendas da Peugeot Bordeaux, Rodrigo Gontijo, aponta um sentimento novo: "Desde a morte do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, que foi arrastado pelo carro, tenho visto muitos clientes comentarem o fato e dizerem que preferem o carro duas portas por questão de segurança. É triste ver dessa forma, mas, infelizmente, isso já faz diferença".

Atualmente, há, no mercado, seis modelos com opção de duas e quatro portas. Confira o percentual de vendas.