O carnaval da Bahia é um dos mais animados do Brasil, uma festa que leva a cada ano cerca de dois milhões de foliões somente nos circuitos mais famosos de Salvador. Moradores e turistas de diversas partes do Brasil e do mundo esquecem da vida fora do carnaval para correr atrás do trio elétrico. E se eles garantem a alegria baiana, esses veículos também devem ser cercados de cuidados que começam com os motoristas dos caminhões que rebocam os trios elétricos, que nessa época do ano deixam a velocidade de rodovias para dirigir veículos igualmente potentes, mas nas avenidas que formam os três principais circuitos carnavalescos da capital baiana, sem nem sequer trocar de marcha em até nove horas na direção.
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O Detran da Bahia promove todo ano um curso obrigatório aos condutores de trio elétrico. O veículo só entra no circuito se estiver com a documentação em dia, que comprove a inspeção feita pelo órgão, e com motorista com a carteira de habilitação especial para guiá-lo por horas na avenida.
O curso obrigatório é ministrado por instrutores do próprio Detran-BA e é feito em três dias. Em sala de aula, os alunos aprendem lições de segurança e agilidade em situações de emergência, orientações referentes a normas comportamentais de segurança, circulação veicular, relações humanas no trânsito, meio ambiente, direção defensiva, legislação de trânsito, estresse, alimentação e álcool no trânsito. O curso acontece sempre algumas semanas antes do início do carnaval. Ao término, o aluno recebe uma chancela especial que é aplicada na própria habilitação, que deve ser apresentada aos fiscais no momento de entrar na avenida levando as bandas que fazem a alegria do carnaval baiano.
O uso correto dos freios na situação em que o trio elétrico é colocado também é de extrema importância. Na prática, o segredo está em controlar o caminhão na embreagem. “Dirigimos por todo o circuito carregando cerca de 40 toneladas, ou até mais, em velocidade que não passa de 5 km/h, sempre em primeira marcha reduzida, exigindo muito mais da embreagem do que dos freios, por isso é tão importante saber em quais momentos devemos usá-los e a forma correta”, explica o motorista do trio elétrico da cantora Carla Perez, Hilton Sousa. No caso dele, a atenção deve ser ainda maior, pois o bloco da ex-dançarina do 'É o Tchan', o Algodão Doce, é formado basicamente por crianças que seguem o trio elétrico.
Artista e motorista: trabalho em equipe
O motorista, que tem 30 anos e há um dirige trios elétricos no carnaval de Salvador, explica que a interação com o artista é muito importante para o bom andamento do show. O trio nada mais é que um palco puxado pelo caminhão, por isso um movimento errado pode até interferir na estabilidade do artista e sua banda no alto do veículo. “A comunicação entre a gente (artista e motorista) é feita de maneira simples, na hora de parar, seguir, aumentar ou diminuir a velocidade, a cantora pede, basta ficar atento”, explica. Uma pessoa da produção, com rádio de comunicação, também vai regularmente à boléia para levar informações ao condutor. Essa estratégia também é usada por Ivete Sangalo, que usa a voz para se comunicar com o motorista do Demolidor, nome dado ao exuberante trio elétrico da cantora. Outros artistas, como Daniela Mercury e a banda Chiclete com Banana, preferem usar sinais luminosos na cabine para se comunicarem com o motorista. As luzes vermelhas e verdes são acionadas pelos cantores e piscam na cabine, indicando ao motorista que é hora de parar ou seguir.
O motorista conta que em cinco dias de carnaval dirigindo o Volvo FH de Carla Perez, recebe R$ 1,5 mil. A jornada não é fácil para os condutores de trios elétricos, que chegam a dirigir por até nove horas seguidas ou até seis horas nos blocos infantis. Mas eles contam com a ajuda de assistentes, que vão com eles na cabine para auxiliar em manobras que exigem mais atenção ou até mesmo para revezar a direção caso seja necessário.
O caminhão
A maioria dos trios elétricos são recheados de itens de luxo, conveniência e muita tecnologia para o conforto do artista e seus convidados. O ‘Demolidor 3’, veículo carnavalesco de Ivete Sangalo, possui camarins, lavabos, lounges equipados com televisões de plasmas, jogo de luzes especiais e até uma mini cozinha. Mas nem mesmos os trios mais equipados, como o Demolidor, escapam da vistoria feita pelo Detran-BA. Os vistoriadores observam o sistema elétrico, mecânico, estrutural, de freios e contra incêndio. Também são levados em consideração itens como o estado dos pneus e os geradores dos veículos, além de verificar a documentação e se a altura, largura, comprimento e capacidade de carga estão dentro dos padrões estabelecidos. O condutor deve portar a cartilha com os selos de vistorias de todos os orgãos pelos quais o veículo é obrigado a passar. Um dos graves fatores observados nas vistorias é a falta de grade e proteção lateral das rodas, itens que podem reprovar um caminhão.
É exigido também guarda-corpo, na frente e fundo nos veículos com plataforma dianteira e traseira para garantir a segurança do artista durante o trajeto. Outra medida obrigatória exigida pela fiscalização é o uso do protetor auricular para o condutor do trio elétrico para proteger o motorista do som alto. O vídeo abaixo mostra como é feito a vistoria dos trios elétricos no Detran-BA:
Um trio elétrico de grande porte possui quatro tanques de diesel, sendo que dois são destinados a alimentação do motor de 360 cavalos de potência e outros dois para alimentar os geradores de energia do veículo.
Ford Bigode deu início a tudo
A evolução dos trios elétricos veio com o tempo. Tudo começou em 1950, com Dodô e Osmar, que reforçaram o chassi de um Ford 1929 e incrementaram o carro que foi o primeiro trio elétrico da história. No carnaval de 2010, foi comemorado o aniversário de 60 anos do trio elétrico. O repórter Diego Barros, da TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia, conta essa história:
E o trio elétrico pode evoluir ainda mais. Algumas versões bem diferentes e cheios de tecnologias já foram mostradas no carnaval de Salvador, como a lata elétrica, que serviu de "carro abre-alas" em um bloco de música eletrônica no carnaval de 2009. O veículo, pouco menor que um caminhão, é um monobloco em forma de lata de cerveja e conduzido a distância por rádio-controle. Logo atrás vinha o trio principal, esse sim, tradicional, levando os dj´s David Getta, Armim Van Buuren e Pete Tong, que por sinal, não tinham nenhuma tradição no carnaval de Salvador, dominado pelo eletrizante axé baiano.