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Denúncia - Preventiva ou maracutaia?

Um dos temas mais controversos atualmente no setor automotivo é a troca da correia dentada junto com a substituição do esticador, rolamento e, pasmem, até da polia

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Mesmo sem saber para que serve, quem nunca ouviu falar da correia dentada? Não são poucos os casos de veículos em que esse componente partiu e causou enorme prejuízo ao proprietário. Para evitar esse contratempo, melhor estar em dia com a manutenção desse sistema. Entretanto, não existe uma unanimidade a respeito de como de ser feita essa manutenção. A questão central é se ao chegar na quilometragem indicada para substituir a correia é preciso também trocar outros componentes como o esticador(também chamado de tensor) e o rolamento. Alguns chegam ao cúmulo de querer trocar também a polia.

De acordo com Carlos Henrique Ferreira, da Fiat, a troca do esticador e do rolamento não está prevista no plano de manutenção da marca. O engenheiro mecânico explica que, por serem peças mecânicas, elas só devem ser trocadas quando for necessário. Já a correia, que tem elasticidade e trabalha tensionada, está sujeita a um alargamento e ressecamento. ?Este é um assunto polêmico. No mercado, a regra é trocar tudo junto?, explica Ferreira. Nos modelos da Fiat, a troca da correia e a inspeção do sistema está prevista aos 60 mil quilômetros ou três anos. Se o veículo tiver uso severo, rodar muito em terra ou minério, a inspeção deve ser feita a cada 15 mil quilômetros.
Reinaldo Nascimbeni, supervisor de serviços da Ford, conta que nos motores Sigma (únicos da Ford que usam correia) a troca da correia é recomendada aos 160 mil quilômetros. No procedimento é verificado o estado do esticador e do rolamento. Se houver alguma dúvida de que essas peças não vão suportar mais 160 mil quilômetros, elas serão trocadas. Mas se o veículo roda em regiões com muita poeira a troca desses componentes é recomendada. ?Como o custo maior desse serviço é da própria correia e da mão de obra, trocar tudo aos 160 mil quilômetros pode ser mais barato que esperar uma peça dar problema e ter que pagar a mão de obra novamente?, explica Nascimbeni.

TROCA GERAL É a mesma opinião de Alberto Meyer, coordenador de formação de pós-venda da Peugeot, que recomenda aproveitar o gasto com mão de obra para trocar tudo, ?uma vez que todo o conjunto tem uma vida útil parecida?. A sugestão da Peugeot é trocar correia, tensor e polias aos 70 mil quilômetros para veículos de uso normal e aos 50 mil quilômetros para os de uso severo. Segundo Meyer, não dá para prever o tempo que resta para o desgaste dessas peças. A Nissan, cujo único modelo que usa correia é o Livina 1.6, indica a troca do kit, composto por correia, rolamento e tensor, a cada 80 mil quilômetros. Já na Chevrolet, a instrução é trocar a correia aos 50 mil quilômetros e verificar o estado dos outros itens. Se for identificado algum barulho, sugere-se a troca.

A CORREIA A correia dentada é a responsável pelo sincronismo entre o eixo comando de válvulas, que controla a abertura e o fechamento das válvulas de admissão e de escape, e o virabrequim, que controla o movimento de subida e descida dos pistãos. Quando a correia rompe, ocorre a perda desse sincronismo, o pistão pode subir no mesmo momento que a válvula está descendo e o estrago pode afetar até mesmo a parede interna do cilindro.

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Qualidade duvidosa?

O que recomendam fabricantes como a GM, Fiat, VW e alguns outros é o óbvio: na revisão para troca da correia dentada (que é de borracha e resseca), verifica-se o estado do rolamento (tensionador), que é feito de aço superespecial e, portanto, dura muito mais. Entretanto, se ele apresentar sinais de desgaste prematuro, deve-se substituí-lo também. O que pode ocorrer se o veículo circula com frequência em locais com a atmosfera carregada de poeira, terra ou pó de minério.


E como saber se houve desgaste do rolamento? Pelo ruído característico (zoeira) que qualquer mecânico competente reconhece a distância.

Entretanto, se o rolamento estiver em bom estado, recomendar sua substituição ?preventiva? é empurroterapia. Nesse caso, deveriam ser trocados todos os outros que existem num automóvel, como na bomba d?água, no alternador, na caixa de marchas, no diferencial, nas rodas?

É razoável a Ford sugerir a troca do tensionador aos 160 mil quilometragem, afinal é uma ?senhora? quilometragem. Mas sugerir a substituição aos 70 ou 80 mil quilômetros como fazem a Peugeot ou a Nissan é não confiar na qualidade de seus próprios componentes?