
O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do  Ministério da Justiça, aplicou ontem duas multas de R$ 490.619,40 ao  grupo Caoa, que representa a fabricante de automóveis japonesa Subaru no  Brasil, e outra no mesmo valor à Toyota. O motivo é o mesmo:  negligência no recall dos modelos Tribeca e Corolla, respectivamente, o  que pôs em risco a vida dos motoristas e passageiros. 
“Quando o  fato envolve a saúde e segurança do consumidor, não pode haver demora”,  disse a diretora do DPDC, Juliana Pereira. “O Código de Defesa do  Consumidor é absolutamente claro ao determinar que a comunicação deve  ser imediata”, completou. Toyota e Subaru se juntam a Fiat, Volkswagen e  Chevrolet e entram para o grupo das montadoras que já foram multadas  pelo órgão. 
De acordo com o DPDC, a demora para o chamado do  Corolla foi de 60 dias. A Subaru também demorou dois meses em um modelo  do Tribeca e 25 dias em outro. “Entre o conhecimento do risco, as  reclamações que aconteceram e a ação efetiva, houve um lapso temporal  que não é razoável”, criticou Juliana Pereira. Segundo a diretora do  DPDC, a demora foi o fundamento para a aplicação das multas.
O  caso da Toyota é emblemático. Envolvida na maior crise da história do  automóvel, com aproximadamente 11 milhões de veículos incluídos em  campanha para reparo em todo o mundo, a fabricante japonesa negou que as  unidades do Corolla fabricadas em Indaiatuba (SP) estivessem com  problema de aceleração espontânea, que levou os motoristas a perderem o  controle do veículo e, em alguns casos, a se envolverem em acidentes.
Em  janeiro do ano passado, o Estado de Minas publicou o primeiro relato de  uma moradora de Belo Horizonte com problemas com o carro. 
Seguiram-se  outras nove reportagens com proprietários do Corolla, incluindo uma  belo-horizontina que bateu o carro na garagem e alegou que o acidente  foi causado pelo disparo do acelerador. Em abril do ano passado, o  Ministério Público Estadual chegou a conseguir liminar que proibiu  temporariamente as vendas do carro em Minas Gerais. 
Sob ameaça  do DPDC de ter as vendas suspensas em todo o território nacional a  montadora japonesa foi obrigada a fazer o recall de 107 mil unidades. O  procedimento consistiu na troca dos tapetes e na orientação de como  manuseá-lo de forma correta. Nos EUA, a NHTSA, órgão de segurança de  trânsito do país, multou a Toyota em US$ 16,3 milhões por demorar a  tomar uma atitude.
Já o primeiro problema no Subaru Tribeca foi  comunicado em janeiro de 2009. A falha detectada foi a possibilidade da  instalação incorreta do sensor de sistema eletrônico VDC (controle  dinâmico do veículo, que pode deixar o veículo instável). O outro  problema foi a demora em alertar sobre a possibilidade de quebra do  braço de ancoragem lateral da suspensão traseira do veículo, o que  poderia gerar acidentes. 
Dinheiro financia projetos de ONGs
	
O dinheiro arrecadado com multas pagas por montadoras vai para o Fundo  de Defesa de Direitos Difusos, que financia projetos de Organizações Não  Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse  Público (Oscips) e entidades públicas. Há casos de empresas que recorrem  das infrações. 
A Fiat, por exemplo, convocou os proprietários  do Stilo para trocar o cubo de roda, mas recorre da multa de R$ 3  milhões e tenta provar que o carro, que já deixou de ser fabricado, não  tinha defeito. A General Motors, protagonista do maior recall da  história do Brasil, por causa de problema no cinto de segurança do  Corsa, conseguiu impedir o pagamento de multas cumulativas por  diferentes órgãos de consumidor. Além da multa do Departamento de  Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), de R$ 3 milhões, a Fundação  Procon de São Paulo também havia determinado que a GM pagasse R$ 1,3  milhão. Já a Volkswagen, quando acionada pelo DPDC por problemas no  dispositivo de rebatimento do banco da Família Fox, que chegou a decepar  dedos de consumidores, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta e  pagou R$ 3 milhões para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos. 
Sobre  as multas aplicadas ontem pelo DPDC, a Toyota informou que “busca  aprofundar entendimento sobre tal decisão”. Já a Caoa/Subaru alegou que  só se manifestará depois de receber comunicado oficial.