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Consumidores desconsideram riscos e compram o Renault Kwid sem sequer ter visto o carro de perto

O Renault Kwid será lançado oficialmente no início de agosto, mas muitas pessoas estão aproveitando o preço baixo da pré-venda para comprar o carro, mesmo sem conhecê-lo

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Consumidores desconsideram riscos e compram o Renault Kwid sem sequer ter visto o carro de perto
Consumidores desconsideram riscos e compram o Renault Kwid sem sequer ter visto o carro de perto Foto: Consumidores desconsideram riscos e compram o Renault Kwid sem sequer ter visto o carro de perto

O hatch compacto foi apresentado no Salão do Automóvel de Buenos Aires, em junho

 

Desde o anúncio oficial do seu preço, a partir de “módicos” R$ 29.990, o interesse pelo Renault Kwid se multiplicou como coelhos, ainda que poucos tenham visto o modelo tête-a-tête. Não que seja fácil ganhar (trabalhando honestamente!) os R$ 30 mil cobrados pelo compacto. O problema é que a concorrência não oferece preços muito mais interessantes. Mas o que poucos entusiastas, ávidos por fechar um bom negócio, ainda não se atentaram é que os preços divulgados pelo fabricante são exclusivos para a pré-venda, que se encerra em 31 de julho. A partir daí, nada garante, nem a própria Renault, que os valores divulgados serão mantidos. Os radares estão ligados para ver se a Renault anunciou o modelo com este preço só para fazer um “auê”, para depois nivelá-lo com os dos concorrentes. Ou se vai manter o preço competitivo, o que pode até forçar a concorrência a adotar a mesma estratégia.

Modelo tem desenho que lembra o Captur, mas não é um utilitário-esportivo e sim um hatch compacto um pouco mais alto que os demais


COMPRA SIMULADA Visitamos uma concessionária da marca para ver como os vendedores estão trabalhando a pré-venda do Kwid, já que o modelo não está disponível para exposição, muito menos para teste drive. A primeira informação que recebemos do vendedor é de que o Kwid realmente é um veículo compacto, “semelhante a um Volkswagen up!”, o que ele achou importante frisar, já que as linhas do carrinho são semelhantes às do SUV Captur. De cara, o funcionário da concessionária já ganhou pontos.

 


Esta já era uma preocupação da reportagem, que teve a oportunidade de conhecer o modelo de perto durante o Salão do Automóvel de Buenos Aires, e percebeu que as fotos enganam. Estava tudo indo bem, até que o vendedor falou o que nós temíamos: que o Kwid é um SUV. Ele falou isso enquanto mostrava a altura em relação ao solo e os ângulos de ataque e saída do modelo, que estariam de acordo com uma esdrúxula norma de classificação. Quem viu o Kwid de perto sabe que o compacto não tem o porte e nem o espaço interno de um utilitário-esportivo.

A versão topo de linha, Intense, traz como brinde o sistema multimídia Media NAV com câmera de ré para quem comprar o carro na pré-venda


BRANCO Depois que o vendedor apresentou as versões, questionamos se depois do lançamento os preços do modelo seriam reajustados. Ele respondeu que não tinha certeza, mas provavelmente alguns “brindes” oferecidos na pré-venda – como o sistema de som (que custa R$ 1.500) na versão intermediária Zen (tabelada em R$ 35.390) e o sistema multimídia Media Nav com câmera de ré (no valor de R$ 2 mil) na versão de topo Intense (vendida na pré-venda por R$ 39.990) – teriam seu valor somado ao preço de cada versão. Já a versão de entrada Life, “pelada” que é, não tem nenhum “brinde”, o que torna difícil saber o que pode acontecer com seu preço.


Mas uma coisa é certa: só comprará um Kwid por R$ 29.990 quem não se importar em dirigir um veículo da cor branca. É que as demais cores disponíveis – preto, laranja, vermelho, prata – são metálicas e acrescentam R$ 1.400 ao valor do compacto. Mas o mais surpreendente é ver o consumidor comprar um automóvel sem ao menos tê-lo visto. Como alguém pode comprar um carro sem conhecer seu porte, a proporção, o espaço interno, o acabamento e o desempenho?


Sem falar da desconfiança que paira sobre a segurança do modelo, que ganhou péssimas notas no mercado indiano pelo Global NCAP. A Renault garante que a estrutura do modelo fabricado no Brasil ganhou reforços (80% das peças seriam novas), e ainda acrescentou airbags laterais de série. Ainda assim, quem prima pela segurança aguarda pelo resultado de um teste de impacto pelo Latin NCAP.

O Kwid produzido para o mercado indiano foi reprovado no crash teste do Global NCAP, mas a Renault afirma que o brasileiro é diferente


O valor cobrado na pré-venda, a título de reserva do veículo, é de R$ 1 mil. Mas vale ressaltar que quem fez a reserva tem o direito de desistir da compra, com a devolução integral do valor. A Renault não quis divulgar os números da pré-venda, mas o vendedor que nos atendeu garante que já foram feitas mais de 5 mil encomendas do modelo em todo o Brasil e que o prazo de entrega já chega a outubro.

O CARRO Por enquanto, o que se sabe é que o Kwid usará o motor 1.0 SCe de três cilindros, que desenvolve 66cv (gasolina) e 70cv (etanol) de potência e torques de 9,4kgfm (g) e 9,8kgfm (e). De acordo com a Renault, os números de consumo, em trecho misto, são de 15,2km/l com gasolina e 10,5km/l com etanol. O veículo tem 3,68m de comprimento e 2,42m de distância entre-eixos. O porta-malas tem 290 litros de capacidade.


A pré-venda tem três versões disponíveis. A de entrada é a Life (R$ 29.990), que traz airbags frontais e laterais, sistema Isofix para fixação de assentos infantis, rodas de aço de 14 polegadas e predisposição para rádio. A versão Zen (R$ 35.390) acrescenta direção com assistência elétrica, ar-condicionado, travas e vidros dianteiros elétricos e rádio com Bluetooth, entradas USB e auxiliar. A topo de linha é a Intense (R$ 39.990), que soma retrovisores elétricos, faróis de neblina com moldura cromada, sistema Media Nav 2.0, câmera de ré, abertura elétrica do porta-malas e chave dobrável.